Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
XLVIII
SETE DE MARÇO DE 1936 – RENÂNIA
As tropas marcham. E, ao lado, há um exército de equipes de filmagem de Goebbels. Pela primeira vez desde 1918, ele diz que os alemães têm do que se orgulhar. A mensagem é clara: a Alemanha está em ascenção de novo.
Nós vemos os soldados marchando e uma mulher indo até um deles e prendendo uma flor na jaqueta, e aquela flor na lapela representa a esperança da Alemanha quanto a Hitler. E a jogada dá certo.
Enquanto o Partido Nazista analisa esse primeiro passo no palco europeu, a sorte de alguns líderes aumenta, e a de outros cai.
Goebbels criou uma onda de euforia na Alemanha e entrou novamente nas graças de Hitler. Göring foi colocado em seu lugar. Hess foi deixado de lado. Mas para Martin Bormann as coisas estão ótimas. Nos Alpes Bávaros, ele garante que a construção do Berghof de Hitler, a corte na montanha, seja finalizada com o mais alto padrão possível.
O papel de Bormann como o homem por trás da reconstruída Obersalzberg o deixa em uma posição mais forte que nunca.
Onde antes ficava a antiga casa, agora há uma residência impressionante e ideal ao status do Führer. O complexo protegido inclui edifícios administrativos, quartéis e casas de hóspedes. Para os alemães, o Berghof torna-se um local de peregrinação. Grupos escolares e de admiradores do adorado líder viajam de todo o país até a Baviera. E dignatários estrangeiros são convidados a visitar. Entre eles, o ditador italiano Mussolini e o antigo rei da Inglaterra, Eduardo VIII, e sua esposa, a duquesa de Windsor.
Ao chegar a Berghof, a pessoa era recebida com várias saudações e por sentinelas e guardas da SS. Você entrava e tudo era luxuoso. Não há dúvidas de que é a casa do líder do Terceiro Reich. A propriedade inteira tem 26 quilômetros quadrados. E Bormann tem planos de construir uma fortaleza nazista subterrânea. Uma área vasta, capaz de acomodar até 1.000 pessoas abaixo do solo, que os aliados acreditavam que seria uma fortaleza subterrânea, o último reduto de Hitler.
Mas no verão de 1936, não há menção de uma fortaleza de defesa nem de último reduto. Bormann criou para Hitler uma mistura de refúgio campestre de fantasia e quartel-general em um só lugar.
Hitler pensou que teria Berghof como uma sede alternativa do governo, em partes por ele ser preguiçoso. Gostava de comandar a Alemanha a partir de sua sala. Todos as decisões, planos e esquemas de Hitler acontecem em um sofá de chita na sala dele. Isso é incrível. E para seus associados do topo da lista é a melhor das épocas. Eles ficarão conhecidos como o Grupo de Berghof.
Mas embora um convite para o Camelot de Hitler seja sinal de aprovação, ele tem um preço. Se a pessoa fosse a Berghof logo após seu término no final dos anos 30, seria como estar na festa de fim de semana mais difícil e estranha que se possa imaginar. Veja quem era o anfitrião: Adolf Hitler, que acordava tarde e dormia muito tarde. A pessoa teria de passar as noites ouvindo-o falar, marcando presença na sala até três ou quatro da manhã, e sair antes da hora seria traiçoeiro e desleal.
Todo mundo morria de tédio, mas ele adorava a ideia de ter uma bela refeição, ver um filme de Hollywood e fazer um monólogo inflamado até as três da manhã. Ele achava isso maravilhoso.
O novo Berghof é o palco em que acontecem as rivalidades e intrigas entre os bajuladores de Hitler. A pessoa na varanda com sua melhor roupa, aí chega Hitler e a pessoa se acotovela para chegar perto como forma de ganhar uma tapinha na cabeça. Precisa agir certo. E a pessoa sabe que outro membro do círculo perto dela está tentando ser ainda mais puxa-saco. Então, há um terrível círculo vicioso entre o grupo, para ver quem mais bajula Hitler. Então tem-se grandes egos, grandes personalidades, o cenário tipo “vizinhos do inferno”, com toda essa gente querendo agradar a Hitler, para manter a posição e ter mais sucesso. Eles não eram amigos pessoais. Bormann e Göring eram inimigos mortais. Eles se odiavam. Himmler odiava Goebbels, e vice-versa. Himmler e Goebbels odiavam Göring. Eles não gostam uns dos outros, exceto pela relação com Hitler.
Havia muito atrito entre as esposas dos nazistas, os filhos mais velhos talvez percebessem. Mas havia um homem muito bonzinho chamado tio Adolf, que beliscava suas bochechas, brincava com elas e um cachorrinho e que era muito agradável. Mas no fundo havia algo bem desagradável, o oposto disso.
Hitler começa a dar seus primeiros passos no controle da Europa, de forma sutil e ao mesmo tempo fantástica dentro da Alemanha. O que traz tanta euforia aos alemães, potencializado por Goebbels na propaganda, devia trazer cuidados aos povos que lutaram tanto para vencer a Primeira Guerra Mundial e estabelecer os critérios que deveriam ser obedecidos, e não serem descumpridos sem qualquer consideração. Isso foi o que aconteceu com a reocupação da Renânia, sob os aplausos de uns e outros interessados, dentro do contexto alemão. Poderia ser simples e apoiado, se tal atitude não ferisse o Tratado de Versalhes que deveria ser cumprido. E nenhum dos países aliados se manifestou, a não ser uma voz perdida no Reino Unido, Winston Churchill, que estava atento a essa mobilização na Alemanha sob o comando de Hitler no Partido Nazista, mas sua voz não tinha eco dentro do Parlamento.
A outra condição foi a construção do Berghof. Uma residência suntuosa, feita dentro da ilegalidade, da perversidade, do uso do poder para reforçar prazeres e autoridades. O terreno usado foi adquirido na base da usurpação das pobres vítimas que viviam e trabalhavam na região. É um tipo de corrupção baseado na força, não chegava a fragilizar a economia da nação, mas empoderava o Partido Nazista e os asseclas de Hitler numa posição onde as pessoas não tinham como argumentar ou se defender. Aqui no Brasil a corrupção também aconteceu, muito forte, mas de outra forma. O dinheiro surrupiado dos cofres da nação era dirigido aos bolsos dos dirigentes, em espécie ou em benefícios materiais para os próprios corruptos, seus parentes e comparsas, principalmente aqueles que exerciam liderança política em outros países. E isso deixou o Brasil e suas estatais em situações precárias.