Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
LV
Após anos de firme devoção por parte dos bajuladores de Hitler, Hess se sente o menos capaz de influenciar os eventos futuros. Ele não convence mais Hitler, coisa que fazia antigamente, e isso é uma queda de prestígio que ele sente de forma pessoal. E apesar de os dois terem muito em comum, as obsessões de Hess estão começando a irritar Hitler.
Hess é um homem bem estranho. Quando visita Hitler no Berghof, ele leva sua própria comida, coisa que Hitler abomina. É muita falta de educação.
Se Hess está começando a ficar paranoico, não é sem motivo. Até sua própria equipe está tramando contra ele. Seis anos antes, Martin Bormann, um administrador de bastidores no Partido Nazista, impressionou Hess com sua eficiência discreta, nomeando-o para seu gabinete pessoal. Mas, desde então, o cruelmente ambicioso Bormann se aproximou cada vez mais de Hitler e nunca perde uma chance de minar Hess.
Para um maquinador como Bormann, seu chefe é um alvo fácil, pois está ficando obcecado por pseudociências como astrologia e horóscopo. Ele é do tipo que tem muito dinheiro e tempo livre e não sabe o que fazer. Sempre teve interesse pelo ocultismo, o que chamamos de “esotérico”. Ele se interessava por magia negra, astrologia, adivinhação, pêndulos e telecinese.
Não admira a própria equipe ridicularizar o vice do Führer pelas costas. Uma vez, um assistente entrou no escritório dele e viu o homem do alto escalão do partido tentando usar o controle da mente sobre uma cadeira.
Francamente, quem acha que pode impedir uma cadeira de cair só com o pensamento, claramente não é uma pessoa muito estável.
A insegurança de Hess aumenta ao descobrir que líderes do partido nazista foram convocados a uma reunião crucial na Chancelaria do Reich para planejar a invasão da Polônia, e ele não foi convidado. Sem dúvida, foi uma decepção para ele.
“Onde foi que errei? O que fazer para reconquistar meu lugar? Por que fui deixado de lado?”, Hess fica a pensar. Ele não é um político astuto e está cercado por homens tipo Göring e Himmler que são bem muito espertos.
Apesar de sua excentricidade, Hess tem razão em se preocupar com uma guerra total na Europa. E ele não é o único.
Com os preparativos para invadir a Polônia, Hermann Göring também está apreensivo. Ele sabe que Hitler está de olho na Rússia comunista e que a Polônia é só um trampolim para o prêmio principal.
Göring tem contatos na Grã-Bretanha e acredita, bem mais que Hitler, que uma invasão no Oriente levará à entrada do Reino Unido na guerra, mergulhando a Alemanha em uma guerra de duas frentes, oriente e ocidente, e ela provavelmente não venceria essa guerra. Por isso ele está tão hesitante em 1939.
Hitler acha que a Grã-Bretanha está blefando, que não ajudará a Polônia. Göring teme que o Führer esteja errado quanto a Londres, mas não tem como fazê-lo mudar de ideia. Então ele faz um recuo tático. Vai para o seu estado, distanciando-se da decisão, caso dê errado, mas também foi para não prejudicar sua relação com Hitler, para não ser uma chateação para o Führer.
Dentro de um círculo onde a pressão cruel é grande pelo alcance de poder, quanto mais melhor, as pessoas frágeis tendem a sucumbir. Isso é o que acontece com Hess. Apesar de inteligente e ter uma boa percepção do que está acontecendo e das consequências de atos bélicos, não tem a malícia suficiente para impor o seu ponto de vista, mesmo porque se sente sozinho e alvo de muitas manobras para desestabilizá-lo, principalmente de Bormann, que até recentemente era seu subordinado e agora conquistou uma posição privilegiada junto ao Führer. Com tal pressão, a busca de uma solução, a inteligência termina escorregando nos labirintos da realidade. Enquanto seu chefe usa de todos os ardis de falsas narrativas para a conquista do continente, ele procura uma forma de salvar a pátria, sua autoridade e, talvez, sua sanidade mental.