Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
LVI
Ansioso para provar seu valor, Hess tenta convencer a Grã-Bretanha a não apoiar a Polônia. Ele convida um alto político da Grã-Bretanha, o lorde Buxton, para conversar na Alemanha. Mas até ele percebe que Hess não tem mais poder sobre o Führer. O lorde Buxton voltou a seu país e disse que Hess não tinha valor. Não tinha influência sobre Hitler. Ele era contra a ideia de invadir a Polônia e provocar guerra com a Grã-Bretanha, mas não tinha influência.
Começou em 13 de janeiro deste ano. Joseph Goebbels, confiável ministro da Propaganda de Hitler, não tem ressalvas sobre guerrear, e dá um pretexto para invadir a Polônia. Sua máquina de propaganda mostra histórias, algumas narradas em inglês para um público internacional, de alemães étnicos sendo atacados na Polônia. Milhares deles fogem de perseguições de gangues polonesas. Suas casas são queimadas e destruídas por poloneses. Mas essas histórias são falsas. Eles basearam a propaganda em fortes sentimentos antipoloneses que os alemães tinham.
Goebbels se aproveitou disso. Foi fácil para ele incentivar esse sentimento antipolonês e de que deveria haver guerra contra a Polônia. A propaganda se amplia para culpar o governo polonês de organizar ataques a alemães em seu território. Centenas de milhares de pessoas cansadas, angustiadas e em pânico aparecem diariamente em campos refugiados alemães. Havia histórias de brutalidade, assassinatos, confisco de propriedades, famílias alemãs retiradas de suas casas, agredidas, tendo seus direitos negados, discriminadas e perseguidas.
É tudo mentira, mas o povo acredita. O problema é que o povo alemão começa a acreditar nessa propaganda, já que não tem acesso a outro ponto de vista. Goebbels tem o monopólio sobre todas as opiniões.
As histórias falsas dão certo. Equipamentos militares alemães são levados para perto da fronteira polonesa e preparados para a ação. Goebbels preparou o fogo. Agora só precisam da centelha para inflamar as chamas da guerra.
31 DE AGOSTO DE 1939 – GLEIWITZ, ALEMANHA
Não demora para ter a centelha para a chama da guerra. A estação de rádio alemã próxima à fronteira com a Polônia é atacada. Alguns dos autores foram mortos. Eram soldados poloneses. Mais tarde naquela mesma noite, a rádio de Berlim noticia essa provocação. Mas não é o que parece ser. O acontecimento foi encenado por ideia do líder da SS, Heinrich Himmler. Os autores eram membros da SS vestindo uniformes poloneses e carregando armas polonesas. E os corpos na cena? Não eram de poloneses também.
Prisioneiros de campo de concentração foram retirados de seu confinamento, baleados, vestidos com uniformes do Exército polonês e dispersados na área da rádio alemã para parecer que havia sido um ataque do Exército polonês.
Agora Hitler tem desculpa para retaliar. A guerra está próxima. E Göring sabe disso. Ele está muito irritado. “Meu Deus, será o fim da Alemanha.”
Para sobreviver no círculo, é preciso pensar rápido, então o líder da Luftwaffe se recompõe. Após se recuperar do choque e desespero, ele pensa: “Mas o Führer é magnífico, somos apenas peões, somos pequenos perto de sua grandiosidade e devemos obedecê-lo.”
01 DE SETEMBRO DE 1939 – POLÔNIA
A alvorada de primeiro de setembro de 1939, o ponto sem volta do conflito mais mortal na história humana. A Luftwaffe de Göring dá início à Segunda Guerra Mundial bombardeando alvos civis na Polônia. Depois os navios de guerra Kriegsmarine se juntam ao ataque. E a Wehrmacht atravessa a fronteira.
Agora que o conflito começou, com novo ânimo, Hess assina os documentos que incorporam o território polonês ao Terceiro Reich. Sua devoção fanática a Hitler supera quaisquer dúvidas pessoais que ele tinha sobre guerrear. Percebe que precisa fazer o que Hitler quer, e se Hitler quer invadir a Polônia, ou você o segue ou não.
Dois dias após a invasão o jogo muda quando a Grã-Bretanha declara guerra. As previsões de Göring, ignoradas por Hitler, se realizaram. Göring parece ter murmurado: “Se perdermos esta guerra, que Deus tenha misericórdia de nós.” Ao mesmo tempo, ele sabe que não é hora para desafiar Hitler, e que ele não gostaria de ouvir: “Eu avisei.” Então, apesar de suas ressalvas, ele decide continuar e apoiar Hitler.
A Inglaterra está na guerra, mas isso não impede a Alemanha de dominar a Polônia em cinco semanas. Göring é o herói do momento, é mais uma conquista após a anexação da Áustria e Tchecoslováquia.
Agora Heinrich Himmler toma o palco. Ele manda a SS acabar com qualquer resistência. Mas eles vão além, buscando e atacando judeus e outros indesejáveis. É outro passo fatídico em direção ao que ficará conhecido como Holocausto.
Até agora, a grande campanha de Hitler por novas terras no Oriente aconteceu como planejada. Mas agora o círculo íntimo vai enfrentar uma ameaça existencial, e ela acontece no coração do Terceiro Reich.
As mentiras de Hitler e seus comparsas e a displicência dos aliados favoreceram a expansão do nazismo pela Europa, como se fosse reivindicações baseadas na justiça e na ética. Essa displicência dos aliados deixando-se enganar pelas mentiras de Hitler custou caro ao mundo, pois Hitler fortalecido ficou mais difícil de ser derrotado. Mas o que estava em jogo era a liberdade do mundo. Pagamos caro, mas valeu todo o esforço. Agora fica a lição. Não podemos ser iludidos pela mentira, por falsas narrativas, e deixar o mal se instalar com profundidade nos mecanismos do poder.