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Meu Diário
31/01/2021 00h20
CIRCULO DO MAL DE HITLER (60) – LOUCURA DE HESS

            Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.

            LIX

DEZ DE MAIO DE 1941

Hess atravessa a Alemanha e o Mar do Norte rumo à Escócia. Ele entra no espaço aéreo inimigo e chega ao seu destino, no sul de Glasgow. Mas com pouca luz, ele não consegue ver onde pousar. Decide que não há alternativa. Precisa pular.

É algo extraordinário. Ele nunca havia pulado de paraquedas. O vice do Führer do Partido Nazista em uma missão solo em um Messerschmitt 110 voando sobre a Escócia para um lugar que não conhecia e pulando de paraquedas pela primeira vez na vida.

A coisa toda, não tem como ser inventada. Apesar de todos os perigos, Hess aterrissou em segurança. Foi praticamente um milagre ele ter conseguido isso. Quando aterrissou, deve ter pensado que sobreviveu a um voo e a um épico pulo de paraquedas e ainda estava vivo. Talvez fosse o destino fazendo dar certo.

Ao ouvir o avião cair, um fazendeiro vai investigar. Ele dá de cara com o vice do Führer. “Sou alemão”, o intruso anuncia. “E tenho uma mensagem importante para o duque de Hamilton.” O guarda local chega à cena. A partir daí tudo fica muito ridículo. O que houve depois parece saído de uma comédia britânica antiga. O fazendeiro o leva a casa dele e lhe dá uma xícara de chá aos moldes britânicos. Pensou ele, “é assim que fazemos na Grã-Bretanha, oferecemos chá, mesmo para o alto escalão nazista.”

Mas a recepção calorosa não dura muito. Depois ele é levado a um quartel onde é mantido e aí o problema começa.  O prisioneiro é identificado como o vice do líder inimigo. Não era a recepção que ele esperava.

Hess tem a ilusão de enxergar o sistema político britânico com uma mentalidade quase feudal, um sistema em que duques e barões ainda têm muita influência política. Mas não tem. Ele acredita que será levado em um carro especial para jantar com Winston Churchill, e que terão conversa de alto nível. É muito diferente na prática e isso mostra o quanto Hess estava desconectado da realidade.

No mesmo fim de semana, Adolf Hitler está relaxando em seu retiro na Baviera, o Berghof. No domingo cedo, quase na mesma hora em que Hess é identificado na Escócia, seu secretário chega com uma carta importante para o Führer. “Mein Führer, quando receber esta carta, estarei na Inglaterra. A decisão de dar esse passo não foi fácil para mim.”

Hess diz que fez isso para o bem do seu querido Führer e da Alemanha. “A guerra com a Inglaterra não serve ao nosso interesse, precisamos de paz.”

“E se, mein Führer, este projeto, que admito ter poucas chances de sucesso, fracassar, e o destino ficar contra mim, isso não deve prejudicar você ou a Alemanha. Você pode negar toda a responsabilidade. Apenas diga que estou louco.

No alto da montanha em Obersalzberg, um turbilhão acontecia. No centro dele, estava Hitler, possesso de raiva por seu colega mais confiável e leal de tantos anos ter pegado um avião durante a noite e voado sem lhe dizer nada. 

Os membros principais do partido são convocados. Bormann não tem resposta para as furiosas perguntas de Hitler. Como Hess poderia ter voado sem ninguém saber? Por que ninguém o deteve? Ele fica em posição delicada por ainda ser o vice de Hess. Ele ficará prejudicado por associação com o traidor? O maníaco por controle perdeu o controle. O que acontecerá agora? No círculo íntimo, todos se perguntavam como isso seria apresentado ao público. Martin Bormann contatou Joseph Goebbels, que respondeu que há situações em que a propaganda não tinha a resposta, e aquele era o caso. Rudolf Hess perdeu a noção.

Em seu diário, Goebbels define o clima no círculo íntimo: “A situação toda está confusa, é um golpe duro e quase insuportável. O Führer está abalado. Que imagem pública! O vice do Führer, um homem mentalmente perturbado. Terrível e impensável. Agora vamos ter de lidar com isso.”

Goebbels faz o que Hess sugeriu. Suas estações de rádio noticiam que Hess estava louco. Uma carta que ele deixou demonstra, em sua confusão, a prova do distúrbio mental, o que nos leva a temer que o membro do partido Hess foi vítima de um devaneio.

A transmissão sugere que o vice do Führer deve ter caído com o avião e sofrido um acidente. E isso, até onde o atordoado grupo de Hitler sabe, é o fim do assunto.

Hess torna-se assunto proibido, não deve ser mais mencionado em público. Mas uma pergunta inquietante fica na mente de muitos alemães, uma voz que ninguém ousa falar em voz alta. Se Hess estava louco, por que ainda era o vice do Führer?

Quatro horas após o boletim na rádio alemã, a BBC transmite um anúncio chocante. Eis as notícias de Londres. Rudolf Hess, vice de Hitler, voou da Alemanha e aterrissou na Escócia de paraquedas.

Os noticiários se regozijam com a bizarra reviravolta. A chegada inesperada de Hess na Escócia é um momento de diversão nos dias sombrios da Blitz.

O nome dele á David McClean. Ele trabalha em uma fazenda em Glasgow. Ele viu Rudolf Hess descendo de paraquedas à noite. Os ingleses tratam como se fosse uma piada. “Eu fui à fazenda e a única arma que achei foi um forcado.” Dizia o fazendeiro na televisão. Como assim? Não pode ser verdade. “Ele não quis beber chá, só água.” Continua o divertimento. Churchill nem dá importância. A imprensa britânica trata como uma grande piada: “Hess foge de Hitler.”  O que está acontecendo? 

Rudolf Hess pensou que seria convidado a tomar chá com Churchill, mas, em vez disso, foi levado à Torre de Londres. Diz aos interrogadores: “A ação mais inteligente seria a Grã-Bretanha aproveitar a chance de obter paz com Hitler e formar uma aliança contra a Rússia Soviética. E se o rei e o país permitirem que a Alemanha nazista reine livre na Europa continental, a Grã-Bretanha será poupada.”

Os interrogadores não sabem se Hess está iludido ou louco. E sua chegada na Grã-Bretanha coincidiu com um dos piores ataques aéreos da Blitz, em que 1.200 pessoas morreram. Winston Churchill não está em clima de paz. A situação toda foi uma verdadeira catástrofe em todos os sentidos para Hess, para Hitler, Goebbels e todos da Alemanha nazista.

Dentro de toda essa bizarrice, Hess não se dá conta do ridículo de suas ações. Fica atarantado por não está acontecendo o que esperava. Essa situação provocada por Hess, serve de piada na Inglaterra e constrangimento na Alemanha. Deveria ser mais um sinal para a população alemã, um atentado contra seu líder em um momento e no outro a fuga do seu líder para o principal país inimigo. Mas a cobertura implacável dos meios de comunicação mentirosos de Goebbels, não dá chance de reflexão para a população. 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 31/01/2021 às 00h20