A família espiritual é bem diferente da família biológica. Na família biológica observamos uma forte tendência ao egoísmo, em privilegiar os parentes consanguíneos em detrimento dos outros. Existe uma hierarquia a partir do pai/mãe que se estende aos filhos, netos, bisnetos, etc.
Na família espiritual existe um só Pai, o Criador de todos. Jesus veio nos ensinar sobre essa paternidade em nome do nosso Pai, explicando que era o filho de Deus e que todos somos irmãos em função disso. Explicava que o laço que nos une não é o de sangue, biológico, material, e sim o laço espiritual com origem em Deus, nosso Pai comum.
Com essas explicações passamos a entender que Deus, o Criador, o Pai espiritual prevalece sobre qualquer família biológica, sanguínea, material ou cartorial.
Os documentos que possuímos é quem faz a identificação dos parentes biológicos ou cartoriais. E quem faz a identificação dos parentes espirituais? Jesus deu a dica, com uma lição dura que envolveu seus parentes biológicos, mãe e irmãos. Quando sua mãe e irmãos foram à sua procura e o encontrou reunidos com apóstolos e demais pessoas que ouviam suas lições, ao ser informado que sua família, sua mãe e irmãos estavam lhe procurando, ele respondeu de forma a ensinar esse detalhe hierárquico entre a família biológica e espiritual, mais ou menos assim:
- Quem são meus irmãos e minha mãe, minha família, são aqueles que fazem a vontade do Pai.
Foi uma resposta chocante para todos, principalmente para sua mãe e irmãos. Jesus estava os humilhando somente porque se considerava o filho de Deus? Talvez tenha passado essa ideia na cabeça de todos. Alguém muito ligado aos pais biológicos poderia ter saído da reunião revoltado. Não há relato de que ninguém chegou a sair da reunião, mas o constrangimento ficou.
Agora, 2.000 anos após esse ministério de Jesus, que suas lições ganharam o mundo através dos Evangelhos e daqueles que se consideram cristãos, a hierarquia superior da família espiritual ainda não se consolidou como a principal, de acordo com a hierarquia. Continua prevalecendo a família biológica, principalmente a família nuclear, com toda a carga de egoísmo que existia no passado.
Muitos missionários atuais, que levam o ensinamento da família espiritual, não a praticam como ensinam. Apenas Jesus foi fiel no ensinamento, chegando a não casar, abandonar sua casa, sua mãe e irmãos, para ensinar o que o Pai lhe ordenou e salvar todos os irmãos espirituais, não só os parentes.
Refletindo sobre essa situação, fico tentado a considerar Jesus como o meu pai espiritual, já que foi ele quem me introduziu na família espiritual através de seus ensinamentos que considero como impecável. Pensando assim, e agindo como Jesus, que agia como Deus, passa a ser considerado uma nova hierarquia dentro da família espiritual. Se considero Jesus como meu pai, então sou neto de Deus. Se vou ensinar a alguém da forma que Jesus me ensinou e essa pessoa passa a agir da mesma forma que eu, então essa pessoa é minha filha espiritual, neta de Jesus e bisneta de Deus... e por aí vai.
Posso ser considerado como prepotente, como Jesus deve ter sido quando colocou sua família biológica abaixo da família espiritual. Que eu estou tirando a paternidade direta de Deus. Mas será que Ele se incomoda com isso? Será que considerando assim, não vai fortalecer o meu compromisso com a família espiritual, já que eu me coloco como modelo bem próximo ao meu discípulo, ao meu “filho” para o qual tenho que ser exemplo?
Existe algo parecido no meio acadêmico. Costumamos dizer que os professores que nos acompanham nas atividades de pós-graduação são os nossos pais acadêmicos. E isso não leva nenhuma desonra para os pais biológicos ou para Deus.