O Conselho Federal de Medicina publica moção de repúdio em defesa do médico, ao respeito e à civilidade na CPI da Pandemia, publicado em 2-06-21 no Youtube e com 23 mil visualizações em 03-06-21 às 16h54 quando iniciei esta digitação do que foi assistido.
Meu nome é Mauro Ribeiro e sou presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM) e venho aqui hoje me dirigir aos médicos e médicas do Brasil. Os 530 mil, nesse momento tão difícil da história sanitária, como é do conhecimento de todos, o Congresso Nacional nesse momento, o Senado da República, está em curso uma CPI em relação a COVID-19.
Vale aqui a lembrança, de que o Congresso Nacional é o Templo maior da democracia brasileira. É de onde saem todos os atos que mais simbolizam o sagrado momento da democracia no Brasil. E todos nós, cidadãos brasileiros, quando estamos dentro do Congresso Nacional, temos que nos sentir literalmente em casa, porque nós, médicos, somos o povo brasileiro. Particularmente, na função que desempenho no CFM, já tive oportunidade de estar tanto dentro da Câmara dos Deputados quanto dentro do Senado Federal. E confesso a vocês que me sinto totalmente em casa, como se estivesse lá em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, ou dentro do CFM, porque sou cidadão brasileiro, e aquilo ali, eu repito, é o templo da democracia no Brasil.
Infelizmente, o que nós temos visto, na CPI da COVID, é inaceitável, é intolerável, principalmente quando nós vemos médicas como no caso a Dra. Nise Yamaguchi e a Dra. Mara Pinheiro, que tiveram lá recentemente, sendo completamente distratadas por alguns senadores que fazem parte daquela CPI. E isso para o CFM, como instituição maior da medicina brasileira, é intolerável, inaceitável, sob todos os pontos de vista. Nós não entramos no mérito das declarações da Dra. Mara e da Dra. Nise. Elas são as únicas responsáveis por aquilo que elas declararam dentro da CPI. E cabe aos senhores senadores da CPI, particularmente ao relator, senador Renan Calheiros, ao presidente Omar Aziz, fazer o relatório, aprovar o relatório, e se por acaso aquelas médicas tiverem faltando com a verdade nas declarações que tem feito naquela CPI, elas sejam responsabilizadas e sejam punidas, caso isso se confirme, na forma da lei. A nossa fala não é dando apoio naquilo que as duas médicas falaram dentro da CPI. A nossa fala é em relação a total falta de educação, de respeito, àquelas duas mulheres médicas que foram lá, falar, e dá o seu melhor depoimento dentro daquilo que era perguntado. Elas não tiveram oportunidade de responder, elas foram maltratadas, elas foram a todo momento interrompidas, incapazes de terminar um único raciocínio que elas estavam elaborando.
Particularmente, o comportamento do médico, senador Oto Alencar, foi inconcebível, foi inaceitável, naquilo que fez com a Dra. Nise Yamaguchi. É inaceitável, senador Oto, o senhor é médico. O senhor deveria refletir sobre aquilo que o senhor fez. A crueldade que o senhor teve com uma médica, mulher! Mulher! Sua atitude como senador da República poderia até ser caracterizada como um ato de misoginia, tamanha a agressividade que o senhor teve naquele momento e a desqualificação que o senhor teve com uma mulher que estava ali como convidada, respondendo a todas as perguntas que eram feitas.
Fica aqui o protesto do CFM. Comunico neste momento aqui que encaminharei um ofício ao senador Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso Nacional, presidente do Senado Federal, no sentido que alguma coisa seja feita contra aquele ambiente tóxico, contra aquele ambiente que se estabeleceu na CPI. O CFM tem sido citado inúmeras vezes e convocado para estar presente. Faço um apelo público para que essa convocação seja feita o mais rápido possível, porque nós gostaríamos de ser a voz dos médicos brasileiros dentro daquela CPI, para que nós possamos colocar de uma forma muito clara para os senhores senadores qual é a posição dos médicos brasileiros com relação à COVID.
O que nós vemos são deputados, senadores da República, jornalistas, procuradores... todos falam hoje sobre tratamento, sobre lock-down, sobre a doença COVID. Os únicos que não estão sendo ouvidos, são os médicos, os enfermeiros, os técnicos de enfermagem, os fisioterapeutas, as assistentes sociais, os psicólogos e dentistas. Quem está lá na frente, atendendo os pacientes com COVID, somos nós. Somos nós médicos com todos esses profissionais de saúde. E nós não temos tido voz para podermos falar aquilo que nós pensamos de tudo isso que está sendo colocado na CPI, quando a maior instituição, o CFM, declara aqui publicamente, como já fiz inúmeras vezes em entrevistas, que nós não temos certeza sobre nada em relação a essa doença desconhecida, e temos todas as dúvidas do mundo.
Então, esse é o ponto. Médicos e médicas brasileiros, fica aqui o repúdio do CFM às atitudes que se estabeleceram dentro daquela CPI, daquele ambiente extremamente tóxico, que não tem nada de democrático e particularmente, a atitude do médico e senador Oto Alencar, ontem, nas agressões que fez à médica Nise Yamaguchi.
Estou associado integralmente ao repúdio, caro presidente, a esta CPI tendenciosa e a esses senadores que babam ódio em suas perguntas irônicas e até imbecilizadas. Como pode um senador que legisla sentado num banco de propina, querer impugnar a inteligência de uma acadêmica com anos de atuação nos meandros da ciência, na formação de novos profissionais e na colaboração com diversos gerentes de saúde a nível nacional e internacional, querer uma resposta de be-a-bá e a qual responde com o olhar?!... Interrogante esse que não ver o ridículo de suas ações e a descoberta de suas pretensões? Pobre congresso, que em nome da democracia dos votos comprados e trocados coloca no plenário figuras tão deprimentes, aos olhos da justiça, da coerência e da ética.