Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
LXXVI
GUERRA TOTAL É A GUERRA MAIS CURTA
18 DE FEVEREIRO DE 1943
BERLIM, SPORTPALAST
Discurso de Goebbels: “Eu lhes pergunto. Estão prontos para seguir o Führer, apoiar as tropas combatentes como a falange da pátria e lutar essa batalha com total determinação em todas as voltas do destino até a vitória ser nossa?”
Em frente de um público selecionado, Goebbels aproveita a chance de transformar Stalingrado em uma história de sacrifício heroico e dizer ao povo alemão que é a hora de se juntarem ao esforço de guerra.
De certa forma, foi o melhor momento de Goebbels por ter reconhecido a gravidade da situação. Ele sabia que era uma derrota que não poderia ser encoberta. Mas não era apenas um chamado “churchilliano” às armas. Goebbels quer mostrar a Hitler que todos os alemães estão prontos para fazer o que for preciso.
“Eu lhes pergunto: Estão determinados a seguir o Führer rumo à vitória, enfrentando obstáculos, e dispostos a aceitar fardos pessoais bem pesados?”
Aplausos ululantes... “Sieg Heil (viva a vitória)! O Führer ordena, nós obedecemos.”
O discurso fez o plano de Speer e Goebbels voltar à ação. Milhares de mulheres alemãs se registram para trabalhar, e o Führer fica impressionado. Goebbels se aproveitou disso, buscando a oportunidade de participar mais do esforço de guerra alemão. É hora de atacar Bormann, e eles acham uma brecha em sua armadura burocrática, uma forma de vencer o conspirador em seu próprio jogo. Eles reúnem o máximo de pessoas de pensamentos similares para ressuscitar o Conselho de Defesa, que era atuante até 1939, mas que agora estava moribundo.
Embora o Conselho de Defesa esteja dormente, seus poderes ainda existem. E se ressuscitado, poderia ser usado para contornar barreiras burocráticas de Bormann até o Führer. Mas há um problema. O homem encarregado dessa agência dormente também está fora de ação. Este era o problema. O chefe do Conselho de Defesa era Hermann Göring.
Speer e Goebbels precisam de Göring, mas é incerto se ele está à altura do trabalho. Ele não é muito confiável. Ele ainda tem o péssimo vício em morfina. Está bem adverso a fazer algo para resolver os problemas da Alemanha.
Alguém precisa tirar Göring de seu poço. Mas ele nem fala mais com Goebbels porque a Guerra Total levou ao fechamento de seu restaurante favorito. Então, cabe a Speer a tarefa de trazer o velho lutador de volta ao ringue.
Speer dizia que não era um político selvagem, mas era político quando preciso, e nesse caso ele usou a percepção de Göring quanto a Bormann. Usa a aversão e desconfiança mútua que tinham quanto a Bormann. Speer e Göring eram de origens bem diferentes de Bormann. Os dois o desprezam, mas entendem bem sua forma de agir, e Speer lembra a Göring o efeito gradual da técnica de Bormann. Ele sempre está ao lado do Führer e fala contra eles. E a gota d’água de Bormann aos olhos de Göring foi Speer ter falado: “Ele está atrás do seu emprego. Quer ser o sucessor no partido e na nação, e você está no caminho.” Isso foi decisivo para Göring.
O círculo do mal começa a perceber o desastre que se aproxima. Só Hitler em sua soberba e arrogância não percebe os sinais. Goebbels, que incorporou bem a essência do mal, inteligente, percebe que suas falsas narrativas não serão bem aceitas no confronto com a realidade. Vendo o lado prático que Churchill imprimiu na Inglaterra frente a ameaça da invasão nazista, na convocação do povo, quis fazer o mesmo na Alemanha. Acontece que a Inglaterra estava sendo atacada, era a vítima, não tinha o que esconder nada, nem de manipular as pessoas. No caso de Goebbels, a Alemanha era a agressora, cheia de mentiras para o público externo e interno. E Goebbels era o principal protagonista nessa farsa cruenta, desalmada.