Meu Diário
16/07/2021 00h17
SIGNIFICADO DOS DIAS

            A professora Lúcia Helena, da Nova Acrópole, traz em uma das suas palestras - muito boas, todas, gostaria de assistir sempre – o significado dos dias da semana que vou reproduzir aqui o essencial para o deleite e cultura dos meus leitores.

            Tem esse pequeno poeminha popular que diz o seguinte:

            Domingo, manhãs silenciosas,

            Segunda, cuidar dos jardins,

            As terças escrevo em prosa,

            As quartas eu guardo para mim

            As quintas, há aves famintas,

            As sextas, escolho as rosas,

            Que sábado dou aos afins.

            Ou seja, todos os dias tem alguma coisa que o dia me sugere. Talvez aqui haja um segredo, o simbolismo do tempo, necessidades nossas, precisamos de uma esperança por dia. Esperança é o combustível para nos movimentarmos mesmo por estradas muito esburacadas ou complexas.

            Interessante pegar o simbolismo de cada dia, para cada um criar suas próprias esperanças, próprias daquele dia. Quando abrimos os olhos a cada despertar, é importante sabermos para onde caminhar, é uma questão de vida ou morte, ou você salta da cama ou sai empurrado por algum dever e passa o dia empurrado pela pressão e necessidade das circunstâncias. Isso não é uma forma humana de viver o dia. É importante que ao abrir os olhos, a esperança daquele dia lhe ajude a saltar da cama.

            Nos contos de fadas sempre tem um desafio. Quando nos comprometemos com um desafio que dá o sentido de vida, e esse desafio é algo nobre, justo e bom, e você caminha nessa direção, no meio do caminho vão aparecer as armas mágicas, que vão aflorando até chegar no ponto de enfrentar a dificuldade armado até os dentes, com os poderes latentes ativados.

            Encontramos pelo caminho, poderes internos e aliados externos, à medida que nos dispomos a chegar no sonho de vida que justifique a vida humana, algo nobre, justo e bom. Por que não tomar os dias como aliados? Esta é a proposta como exercício de imaginação.

            O nosso calendário dos dias da semana é um pouco diferenciado. Em 563 dC, houve um sacerdote da Igreja, São Martinho de Dume, que propôs que a Semana Santa, período que não se trabalhava, era consagrada aos ritos da Igreja. O nome para essa folga, em latim, era féria. São Martinho propôs que nesta Semana Santa os dias fossem catalogados como féria, isso é primeira féria (domingo, dia do Senhor), segunda féria, etc. Essa proposta seria apenas para a Semana Santa, mas depois ficou aceito para todos os dias. Das línguas neolatinas, só o português e o galego adotaram essa posição. O resto permaneceram com a simbologia tradicional. Vamos fazer essa viagem simbólica.

            Domingo, que isso quer dizer? Que esperança podemos tirar daí? É o dia de Deus, Dominus Dei. Na tradição antiga o nome é Sunday, dia do sol. No ideograma chinês, o domino é representativo pelo sol. Tem um ponto comum nessas três ideias. Porque Deus tem o símbolo mais representativo, a unidade, que não se divide, é única. Em nosso Sistema Solar, o sol representa algo parecido. É único e vital para toda essa esfera de vida. A esperança pode estar focada na conquista de um grau maior de empatia, de união com as pessoas, de ampliar a noção de família, em incluir a dor da humanidade como problema nosso. Agregar algum valor na vida do outro. O sol arde constantemente para dar a vida em tudo ao redor. Apropriado para se pensar na empatia e generosidade. O homem é do tamanho de sua generosidade, de iluminar o caminho daqueles que passam por nós.

            Segunda feira é Lunes, é Monday é lua. No ideograma chinês a segunda-feira é representado pela lua. Ela não possui luz própria, guarda a luz do sol para quando chegar a noite, ter alguma luz para dar. Guardar os momentos mais luminosos, as coisas mais belas, as palavras mais inspiradoras, as experiências mais profundas, a luz que recebemos de alguém, que em geral recebemos, pois somos também receptores de luz e não criadores, enriquecedores dos dons da vida, para presentear todos aqueles que estiverem na noite dos tempos. Se tornar uma lua cheia, plena de luz, capaz de ajudar aqueles que estão na escuridão e que não foram capazes de guardar tanta luz. Na mitologia nórdica, é dia de Frik ou Frica, deusa da fertilidade, da doçura, uma mãe. É um dia para acalentar as esperanças dos outros e doar aquilo que se tem de melhor quando se faz maior escuridão. Quem tem luz, mesmo que seja pequena, quando se faz escuridão, pode ser visto à distância. Ter uma luz dentro de nós, permanentemente acesa é um ato de generosidade. A melhor coisa que podemos fazer com aqueles que amamos e crescer como ser humano, manter a nossa luz acesa, não apenas por nós, mas por aqueles que estão completamente mergulhados na escuridão. E a esperança que este dia oferece. Repetir o que a luz faz.

            Terça-feira, em outras línguas é martes em espanhol, é Tuesday em inglês, que é o dia de Tir, na Mitologia nórdica. Marte é o deus greco-latino da guerra, Ares na Grécia, Marte em Roma, é aquele deus bélico que defende o Olimpo, que defende aquela civilização, o guardião nos atritos, nas situações de guerra. No ideograma chinês a terça-feira é o dia do fogo, dia de combate, da batalha interior, contra formas mentais e emocionais de desânimo, de revolta, de egoísmo e todas coisas que paralisam e enchem de sentimentos negativos e minam a força para ir adiante. Quando nos sentimos assim, não queremos crescer, queremos vingança. Isso nos imobiliza. Terça feira é o grande dia da faxina, onde fazemos a guerra interior, jogar para fora de nós todos esses invasores da nossa paz e esperança. Limpar tudo aquilo que reduz o nosso esforço, nosso protagonismo, a capacidade de caminhar em direção aos nossos sonhos. Quando o sol vem amanhecendo, a primeira coisa que ele faz é combater contra as trevas. Levantemos cedo para lutar ao lado de Rá, o sol, contra as sombras. Terça féria, dia de faxina.

            Quarta feira vem de mieles no espanhol, vem de Mercúrio, um deus mensageiro. Na tradição grega é Hermes, um deus que comunica céu e terra, é o intermediário, que tem o dom da palavra, de levar para lá e para cá, palavras válidas, sagradas. Na Mitologia escandinava é o dia de Odin que era considerado o pai de todos os deuses, que tinha como atributos, a profecia, o conhecimento, a sabedoria, a magia e a poesia. Chegou a dar um olho para enxergar coisas que ainda não via, prever o futuro, saber um pouco mais do mundo em que vivia. Parecido com a mitologia de Horus, que perde um olho físico e conquista um olho metafísico, capaz de ver no plano sutil e no plano material. No ideograma chinês é representado pela água, uma energia sempre vertical, que flui do céu para a terra. Nos inspira o conhecimento de coisas profundas, saber se comunicar, de falar palavras com sabedoria, que trazem alguma diferença ao mundo, ao próximo, aqueles que pretendem caminhar e as vezes precisam só de um empurrãozinho, aquela motivação, aquele sentido que eles não estão vendo, relembrar ou construir os seus sonhos. Mais do que mil palavras sem sentido, vale uma única palavra que traz consolo a quem ouve. Quarta feira é o dia da comunicação, e não simplesmente tagarelar, mas trazer à tona a palavra sagrada, que é capaz de fazer diferença no mundo. Procurar a sabedoria, aprender a cada dia uma coisa nova, que nos aproxime da sabedoria, que nos permita viver um pouco melhor. É um convite à sabedoria, uma palavra...

            Quinta feira é thursday no inglês, que vem de Júpiter, que é o mesmo Zeus grego. Tem a ver com Thor, na Mitologia nórdica, deus do trovão. No ideograma chinês tem a madeira como símbolo. O atributo é poder, majestade, responsabilidade, proteção. É o que mais protege todos que estão sob seus cuidados. Dia de Thor, o poderoso e protetor dos mundos. A madeira simbolizada, é aquilo que queima para gerar luz. Usar do poder para iluminar, para proteger. Do cruzar de duas madeiras nasce o fogo, se incendeia para gerar luz. A quinta feira convida ao poder e proteção. Não fazer culto à debilidade, não se vitimizar, estar consciente do seu poder e usá-lo para proteger todos aqueles que você pode alcançar. Criar, promover, trazer mudanças. Poder de vida, de palavras, de autoconhecimento, de protagonismo, de compromisso. Usar o poder que você conquistou para proteger o máximo de pessoas, de coisas, de instituições, de momentos, para gerar vida. Tudo que estiver ao alcance e talvez até mais, pois não sabemos até onde o nosso poder pode alcançar, até usá-lo. A quinta feira convida para usar o poder para proteção, preservar tudo que merece ser preservado, dentro e fora da pessoa.

            Sexta feira é viernes vem de deusa do amor, Vênus, Afrodite, associada à beleza e fertilidade também. No ideograma chinês é o dia do metal que foi retirado da terra e lapidado pelo fogo. Como um convite para extrair de dentro de nós o poder interno da vida interior, trabalhar com o fogo das ideias, da espiritualidade, dos valores, e extrair daí um elemento resistente, sólido, da personalidade. Um bom sentimento para a esperança. Deixar transparecer a beleza que há em nós em todas nossas expressões, para extrair esse metal de dentro da natureza interior, trazer à tona em sua maior beleza. O amor e a beleza andam juntas. Perpetuar o que fizemos de belo em todos os campos. É um excelente dia para embelezar o mundo, não apenas no plano físico, mas no metafísico também, das ideias, nossas e daquelas que vierem ao nosso conhecimento. Fazendo com que aquele que fez um ato belo, aquilo foi visto e fez diferença para nós. Confúcio disse: “Por que compro arroz e flores? Compro arroz para viver e flores para ter pelo que viver.” Outro provérbio chinês bastante conhecido diz: “Se tiveres dois pães, vende um e compra um lírio.” Não é só alimentar o corpo, você precisa do lírio, precisa de estética, de metafísica, isso é alimento da alma que não pode morrer de inanição. Precisamos de beleza que nos dá a autoconfiança; que embelezemos a vida das pessoas ao nosso redor. Este é o convite da sexta feira.

            Sábado vem do hebraico, shabbath, o dia que Deus descansa depois de trabalhar por seis dias ininterrupto. É o dia do descanso que vai dar origem ao nosso sábado. Na tradição cristã o dia sagrado é o primeiro, domingo, dia do Senhor. Em inglês, é saturday, dia de Saturno, Cronos, na Grécia. Sugere o tempo, trabalhar com o tempo em profundidade e não na extensão. Durante um dia podemos fazer uma série de coisas que podem fazer diferença para o mundo e para nós. Uma vida humana pode ir da absoluta ignorância à absoluta sabedoria. Não podemos deixar a maior parte do nosso tempo ser jogado no buraco negro da inconsciência, como isso frequentemente acontece. Se aspiramos a vencer a morte, sinônimo de inconsciência, o primeiro passo é vencer a inconsciência dentro da vida, ou vence-la após a vida. Se passamos a maior parte do tempo estamos na inconsciência, e se ela é sinônimo de morte, então, estamos vivos ou estamos mortos? Aprofundar o tempo, viver o tempo real que se mede pelo deslocamento em direção ao ideal humano, ao sonho pessoal de cada um. Se hoje eu venci um pouco do meu egoísmo, da minha irresponsabilidade, da minha desorganização, estou vivendo o real. Se eu não crescer absolutamente nada, o dia de hoje não existiu. O tempo real não é o do relógio, mede-se por deslocamento em direção ao sonho, ao ideal humano. Sábado é o da para pensarmos em qual valor tenho usado o meu tempo, trabalhar para ocupa-lo com consciência, cada vez um passo adiante em direção ao meu sonho, fugindo da dispersão, da desorganização que rouba tempo, e tempo é sinônimo de vida. Sábado é um convite a trabalhar melhor o tempo, em profundidade, com mais essência, com mais sentido.

            Esses são os convites que os dias fazem, que podemos usar para pautar nossas esperanças, ou criar um código próprio. Mas é importante usar a simbologia para impulsionar nossas esperanças todos os dias. 


Publicado por Sióstio de Lapa em 16/07/2021 às 00h17


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr