Meu Diário
29/07/2021 00h27
LUDWIG VON MISES – (03) OSKAR LANGE

            Interessante ver o que existe nas redes sociais sobre Ludwig von Mises, um artigo econômico, “O cálculo econômico sob o socialismo”, escrito em 1920, importante para entendermos e nos posicionarmos ideologicamente.

A reação.

Por um bom tempo, este ensaio de Mises se tornou o foco dos defensores do socialismo. Mas ninguém conseguiu refutá-lo. 

E então, com o passar dos anos, aqueles economistas que ainda defendiam algum planejamento centralizado de qualquer tipo simplesmente ignoraram o artigo ou diziam que ele já tinha sido refutado (sem mostrar como).

No entanto, a importância do ensaio de Mises foi reconhecida em meados da década de 1930 por um teórico socialista que lecionava na Universidade de Michigan: Oskar Lange.

Naquele que se tornou seu mais famoso ensaio, "On the Economic Theory of Socialism", publicado em 1936, Lange começa suas considerações com esta esperta retórica: 

Nós socialistas certamente temos bons motivos para sermos gratos ao Professor Mises, o grande advocatus diaboli [advogado do diabo] da nossa causa. Pois foi seu poderoso desafio que obrigou os socialistas a reconhecerem o problema de um inadequado sistema de contabilidade econômica para guiar a alocação de recursos em uma economia socialista.

Mais ainda: foi principalmente por causa do desafio do Professor Mises que muitos socialistas se tornaram cientes da própria existência deste problema. […]

Tanto como uma expressão de reconhecimento pelo grande serviço prestado por ele, e como lembrança da suprema importância de se ter uma sólida contabilidade econômica, uma estátua em homenagem ao Professor Mises deveria ser erguida em um honroso local no grande hall de entrada do Ministério da Socialização, ou no Comitê Central de Planejamento do estado socialista.

Lange argumentou que um comitê de planejamento central poderia estabelecer um sistema de produção econômica tão eficiente quanto um sistema econômico descentralizado guiado por preços competitivos. Os planejadores socialistas teriam apenas de atribuir preços arbitrários para todo e qualquer item oferecido pelo estado; ato contínuo, se houvesse ou uma escassez ou um excesso de estoques, então o comitê alteraria os preços. E assim sucessivamente, até se alcançar um equilíbrio.

A absurdidade prática deste argumento em um mundo de preços em contínua alteração, e com literalmente bilhões de bens serviços, deveria ser evidente para todos. Mas não foi evidente para nenhum economista acadêmico. O argumento de Lange continuou a ser citado em monografias defendendo o planejamento central até o colapso da União Soviética a 25 de dezembro de 1991.

A vasta maioria dos economistas acadêmicos se lembra de Mises — quando lembram — apenas nos termos desta supressão retórica de Lange.

O departamento de economia da Universidade de Chicago contratou Lange em 1943. Ele saiu do posto em 1945 quando o governo socialista da Polônia o nomeou para Embaixador nos Estados Unidos. Em 1946, ele se tornou o enviado da Polônia para as Nações Unidas. Em 1947, ele retornou à Polônia para assumir um cargo de economista no governo e, depois, como professor na Universidade de Varsóvia.

Em nenhum momento, algum governo socialista adotou seu hipotético programa de testar preços arbitrariamente atribuídos. Não obstante, economistas acadêmicos continuaram citando seu artigo de 1936 como sendo uma refutação do ensaio de Mises.

Durante 50 anos, poucos livros-textos de economia mencionavam Mises. E, quando o faziam, era apenas para dizer que ele havia sido totalmente refutado por Lange. Os acadêmicos do establishment simplesmente jogaram Mises no buraco orwelliano da memória.

É estranho, sem justificativa racional, como tantas pessoas inteligentes, que podem avaliar argumentos e suas práticas, deixarem se levar por pensamentos e comportamentos que agridem tão abertamente os princípios da verdade. Parece que estamos no meio de pessoas hipnotizadas, não consideradas seus graus acadêmicos ou jurídicos, ou saberes de qualquer tipo. Que força tão importantes e tão devastadoras para os princípios de honestidade que deveriam prevalecer no intelecto humano? Só posso pensar em algo metafísico, maléfico, diabólico.


Publicado por Sióstio de Lapa em 29/07/2021 às 00h27


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr