Como orientação ao meu leitor que chega agora, oriento que procure ver o início desta série de textos indicados com o “S” de sessão para não perder a lógica do raciocínio, e se achar conveniente fazer críticas ou comentários.
J – Vamos dar início a sexta sessão. Chamo o Réu novamente ao banco das testemunhas.
AD - Você explicou na última sessão como se sentiria e faria se tivesse na condição de sua esposa. Ia falar também que não foi fácil aplicar a bússola comportamental, apesar de toda a compreensão que essa aplicação seria necessária para viabilizar sua vida harmônica no futuro. Pode dar seguimento?
R – Agradeço a atenção. Durante cerca de dois anos de minha racionalização dentro dos ensinamentos do Cristo sobre o amor incondicional e da aplicação da bússola comportamental, eu sentia que devia fazer o que os estudos indicavam, não era mais uma opção do que eu, particularmente, deveria fazer, era a vontade do Pai, explicada pelo Cristo, e que eu deveria cumprir. Não era mais satisfazer os meus desejos, experimentar o prazer carnal que o meu corpo desejava... era um caminho muito mais íngreme, pois eu também percebia as consequências de onde ele me levaria. Eu iria ser contestado e rejeitado, principalmente por minhas companheiras, que sempre desejariam uma pessoa que cumprisse o amor exclusivo, a fidelidade na expressão do amor em toda dimensão que ele se manifestasse. Eu possivelmente iria viver sozinho, ou pelo menos, viver temporalmente com alguém, sempre esperando o momento que seria expulso do relacionamento, quando a possibilidade do amor inclusivo que existia nos meus paradigmas e era conhecido por todos, se manifestasse. Você pode perceber que, para mim era interessante do ponto de vista do prazer, mas inconveniente do ponto de vista de manter uma relação fixa com alguém por toda a vida, com harmonia e felicidade. A pessoa poderia até viver certo tempo comigo, poderia ter forças para vencer essa possibilidade, de ficar atenta para quando ela surgisse, de ficar sempre na expectativa de algo que iria lhe ferir. Não estaria vivendo com a mesma qualidade de vida que eu possuía, pois eu estava mantendo coerência com o Pai, com o Cristo e comigo mesmo. Se eu seria expulso quando o amor por outras pessoas se manifestasse de forma íntima, isso seria a consequência que eu teria de pagar, como qualquer missionário cristão pagou ao longo do tempo. Você pode observar que eu tinha adquirido um novo paradigma de vida, bem consolidado com os ensinos que o Cristo passou, estava pronto para abrir a família nuclear que eu havia construído, partir para a construção da família ampliada, incluindo principalmente todas as pessoas que haviam tido a oportunidade e a condição de envolvimento afetivo íntimo. Mas algo ainda me impedia. Não era minha esposa com suas correntes conjugais que me prendiam, essas eu havia destruído. Não era qualquer outra condição externa que pudesse influenciar meus pensamentos e diagnósticos acima das lições que recebera do Cristo. Era a força do Behemoth dentro de mim, a força do egoísmo que ainda influenciava meu comportamento. Essa força se confrontava com a aplicação da bússola comportamental e com a justiça que implica estar presente. Para o Behemoth era muito justo que eu aplicasse a bússola e aprofundasse o amor incondicional até a intimidade do relacionamento, mas não seria interessante que eu desse o mesmo direito à minha esposa. Ela não deveria ter este mesmo direito que eu posso ter, pelo fato de eu ser o homem e ela a mulher. Entendi que essa energia negativa atendia pelo nome de “machismo” e conseguiu, realmente, frear a aplicação da bússola comportamental. Mais uma vez eu estava frente a minha amiga, recebendo convites para namorarmos, estava livre das diversas correntes externas, principalmente a mantida por minha esposa, mas agora eu percebia que existia outra corrente, criada pelos padrões culturais e segura firmemente pelo Behemoth, dentro de mim. Mais uma vez fiquei paralisado sem atender os convites, sem usar a bússola comportamental. Mas o culpado agora era eu mesmo. E o Behemoth, o monstro energético que Deus criou dentro de cada um de nós, para proteger e desenvolver o nosso corpo, era o centro dessa disputa. Por um lado, ele queria o prazer de uma relação íntima, e por outro lado não queria dar o mesmo direito a minha esposa, pois a tinha como um objeto dele, um objeto de oferecer prazeres, serviços e sexo, mas jamais ter a mesma liberdade que eu tinha, de me relacionar intimamente com outras pessoas, ampliar minha família para a direção da família universal. Ela deveria ser apenas um apêndice da minha vontade. Meu senso de justiça que estava associado ao amor incondicional, como deve ser, não permitiu isso. Fiquei por mais um ano sem minha consciência poder decidir pela aplicação da bússola comportamental do Cristo, pois ela dizia que eu deveria fazer ao próximo aquilo que desejasse para mim. Ora, eu desejava sair para namorar com minha amiga, e se minha esposa quisesse também, sair para namorar com algum amigo seu, não teria esse mesmo direito? Aplicando a bússola comportamental do Cristo? Sim, era verdade. Eu teria que dar o mesmo direito a ela. Mas o Behemoth não queria. Eu, enquanto espírito, com a responsabilidade de administrar o corpo e seus desejos, instintos, deveria ser fiel a lei de Deus que eu havia aprendido através do Cristo, acima de qualquer outra providência. Decidi não sair do lugar. Não iria aplicar a bússola comportamental do Cristo com hipocrisia. Se o Behemoth iria ser beneficiado com os prazeres que iria receber, o Behemoth da minha esposa teria o mesmo direito, por aplicação da justiça. Depois de cerca de mais 1 ano nesse conflito interno, meu Behemoth perdeu as forças machistas de considerar a minha esposa como objeto e que ela não poderia ter mesmo direito que eu, pois percebeu que nunca iria ter o prazer que tanto desejava, tanto com esta minha amiga do trabalho, como com tantas outras que iriam surgir. Quando senti que o machismo em mim não existia mais a ponto de não dar a minha esposa os mesmos direitos que eu conquistasse, foi quando me permiti sair para namorar com minha amiga.
AA – Observem, senhores jurados, a maquinação psicológica de uma pessoa que deixou se levar por seus instintos bestiais, do Behemoth, como ele mesmo disse, para se sentir livre para cometer o pecado do adultério com uma pessoa que estava ao seu alcance, assim como com tantas que tivesse oportunidade de induzir ao erro. E tudo isso com a ousadia de dizer que estava aplicando as lições que Deus nos deixou quanto a construir uma sociedade saudável, sem pecados. Dessa forma?
AD – Senhores, quero que vocês observem que até agora não foi cometido nenhum ato criminoso, nenhuma lei foi violada, nem na terra nem no céu. O meu cliente apenas colocou como estava funcionando a sua mente em todo esse conflito racional e comportamental que ele deveria responder de algum modo. Vejam, ele usou a melhor ferramenta para resolver o conflito, pois usou as lições do Cristo, a bússola comportamental, como ele diz, sem qualquer sentido de hipocrisia, de querer atingir apenas os seus prazeres sensuais. Vejam que por trás de tudo que ele colocou existe uma ética que os simples desejos da carne, por mais poderosos que sejam, não conseguiram quebrar. Vamos dar oportunidade para que ele continue o seu relato e ver como a aplicação da bussola comportamental, como ele disse que já estava em condições de aplicar, vai funcionar no mundo real.
J – Encerro os trabalhos neste momento pelo avançado do tempo e continuaremos o relato que o AD propõe na próxima sessão.