Como habitante deste planeta Terra, encarnado num corpo humano com 69 anos de experiência, compreendo que minha vida está entrelaçada de relacionamentos em todas as direções, alguns positivos outros negativos, gerando amigos e inimigos.
Mesmo que minha tendência, como a tendência da maioria das pessoas, acredito que seja na formação de amigos e evitar inimizades, mesmo assim, por diversas causas, o resultado do relacionamento pode ser uma inimizade.
Essa tendência em criar amigos ou inimigos está bem exacerbada nos relacionamentos dentro dos partidos políticos e suas relações com as comunidades. Cada correlegionário é um amigo e a pessoa que se inscreve em outro partido é um adversário, ou mesmo inimigo. As igrejas que focam nos ensinamentos de Jesus, motivam com a fraternidade e amor universal
A criação de um inimigo ou amigo não é um ato definitivo, para toda a vida. Um amigo pode se transformar em inimigo e vice-versa. Mas, o primeiro movimento que faço nas minhas inter-relações é construir amizades. E isso merece estudos acurados e constantes.
Jesus disse em uma de suas lições para amar o inimigo. Isso não quer dizer que eu deva aderir de pronto à completa união com o adversário no dia de hoje, como Jesus não pôde rir-se com os perseguidores no Calvário, mas ele pôde perdoá-los.
A advertência do Mestre conclamando-me a amar os inimigos, tem profunda significação em todas as facetas que posso examinar, com os instrumentos de análise comum.
Sei que sou devedor de altos benefícios a quantos me perseguem e caluniam. Lembro da minha primeira esposa que tanto bem me fez, que tanta paixão carnal e amor romântico desenvolvemos, e por mudança do meu modo de agir e sentir, ela se achou na obrigação de me expulsar de casa, do seu convívio, vivendo amargamente com essa frustração. Ela se tornou assim um instrumento para que eu aplique essa lição do Cristo, para que eu trabalhe a minha individualidade, compelindo-me a renovações de elevado alcance e que raramente compreendo nos instantes mais graves da experiência. São esses momentos de amar ao inimigo que me indicam a capacidade ou a fraqueza, as deficiências e as necessidades do que devo fazer para estar sintonizado com a vontade de Deus que tenho a intenção de realizar.
Os amigos, em muitas ocasiões, se tornam imprevidentes companheiros, porque contemporizam com o mal para não afetar a relação de amizade. O adversário, o inimigo, por outro lado, não perde a oportunidade de identificar e acusar com vigor a maldade ou erro que estou cometendo ou imaginando fazer, tanto no passado, presente ou futuro.
Pela rudeza do inimigo, pela miopia do bem que continuo fazendo, surge a tendência de me tornar bravo, indignado e jogar na cara todo o bem que faço, mas consigo me conter e fazer devidas reflexões sobre a veracidade ou não de tais acusações.
Pela complacência dos amigos aos erros que não são apontados, sinto a vaidade e o orgulho se fortalecerem, por meus acertos e virtudes virem à tona, vezes sem conta.
Não posso dizer que eu quero cultivar as inimizades, no entanto tenho que reconhecer que são beneméritos credores quando nos proclamas as faltas. São médicos corajosos que nos facultam corretivos.
É difícil a aceitação de tal verdade, mas é ai que se encontra a razão para o apelo do Cristo: “Amai vossos inimigos”.