Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
07/10/2021 22h21
LIDANDO COM A CORRUPÇÃO

            Encontrei um diálogo no filme “Santo Agostinho”, veiculado pela plataforma Lumine, que nos mostra uma forma firme de lidar com a corrupção.

Secretário – O Ciríaco está aqui.

Agostinho – O Ciríaco?

S – Sim, o mercador de cereais. Os navios dele vão para Roma, para o Egito, para a Grécia, até os portos da Gália.

A – Sim, eu o conheço. Deixe-o entrar.

Ciríaco – Saudo-lhe e lhe desejo muita prosperidade.

A – Obrigado, mas a prosperidade não é preocupação para mim.

C – Você tem sorte. Preciso dizer que da nossa parte sempre lhe poupamos este tipo de preocupação.

A – Não entendo.

C – Fico constrangido por ter de lembrar. Sempre ajudei a sua igreja, os seus presbíteros, sacerdotes, sempre viajaram gratuitamente nos meus navios.

A – Sou-lhe muito grato por isso. Foi seu pai, um pagão sábio e honesto que estabeleceu este costume sem pedir nada em troca.

C – Sempre respeitei a vontade de meu pai. É verdade que sou pagão e que conservo em casa as estátuas dos deuses que meus antepassados trouxeram de Roma para África, mas sabe que eu respeito a sua religião.

A – Sim, eu sei.

C – Fico feliz que fale isso, porque quero lhe pedir um favor.

A – Se veio por isso, estou à sua disposição.

C – Bem, o vigário imperial de Cartago vai enviar trigo às milícias mercenárias acampadas nas costas espanholas. Outros transportadores estão disputando este negócio. Uma palavra sua, uma carta sua seriam de grande ajuda para vencer a empreitada.

A – Mas não entendo do seu negócio.

C – Basta que fale a verdade ao vigário, que eu sempre respeitei a igreja, o império cristão, e os bispos cristãos são honrados pelo império.

A – E então?

C – Uma carta sua...

A – Uma carta para fechar um grande negócio, combinar uma negociata!

C – Sim.

A – Continue.

C – Se escrever a carta, eu...

A – O que quer dizer?

C – Quero dizer que posso ajudar você e a sua comunidade.

A – Não. A riqueza e o comércio estão bem longe dos meus interesses. Minha vocação é fazer entender a palavra de Deus a todos os que querem ouvir. Hoje você tem muitos navios e muitos bens. Amanhã, a morte tomará tudo de volta e você vai se apresentar diante de Deus. As contas que prestará lá não serão as do seu comércio. Desculpe, mas não posso fazer o que me pede.

C – Por um lado entendo, por outro não entendo você. Reflita. Se mudar de ideia, mande me dizer. Peço só que escreva, dizendo que eu respeito a igreja.

A – Não insista Ciríaco, você sabe que não vou mudar de ideia.

            O comportamento de Santo Agostinho, um pecador que se converteu a fé católica, no dá com esse diálogo o que um homem cristão pode colaborar com a ética, evitando os convites para a corrupção, mesmo que isso seja muito sutil. Aparentemente, não custaria nada Agostinho fazer a carta dizendo a verdade, que o interessado era uma pessoa que respeitava e até ajudava a igreja católica, agora bem conceituada no governo romano. O que o pai do empresário fazia de ajuda à igreja católica, dando passagens gratuitas nos seus navios, o filho agora quer condicionar a uma troca de favores. Seria um tipo de pagamento, o que Agostinho recusou, muito acertadamente. Se ele tivesse feito a carta, estaria associando o trabalho cristão com lucros comerciais, em detrimento de quem poderia oferecer o serviço com melhores preços para o Estado, para o cidadão que paga impostos. Isso ficou muito parecido com o que aconteceu no Brasil, quando o filho de um empresário passou a fazer acordos criminosos, com corrupção massiva com os chefes do Estado brasileiro da época. Prejuízo este que até hoje estamos pagando, tanto com juros e dinheiro emprestado que não foi devolvido, como militantes que foram colocados em pontos estratégicos e que até hoje continuam favorecendo as iniquidades, com toda sorte de desvios da ética e moralidade. 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 07/10/2021 às 22h21