Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
15/10/2021 00h14
PAZ E BEM

            Dois monossílabos que evocam um sentido que poucos podem perceber, além do sentido gramatical. Paz e Bem. 

            Esta é a saudação usada por Francisco quando morava em Assis e deixou a rica casa do pai biológico para viver a pobreza sugerida pelo Pai espiritual. 

            Mas Francisco era um jovem rico e boêmio, gastava muito do seu dinheiro com orgias, jogos, bebidas e mulheres, patrocinando os seus amigos nas tabernas, como um animal noturno. Ele tinha um ideal de se tornar cavaleiro, cheio de honras conquistadas em batalhas, no que era apoiado totalmente por seu pai. 

            Como uma pessoa com esse perfil iria entender o sentido exotérico, transcendental do Paz e Bem? Se até eu, pessoa menos afeito às boemias e mais próximo da espiritualidade do que Francisco de Assis na sua fase de vida mundana, não conseguia captar esse apelo fraterno que a frase traz. 

            Digo isso porque agora, faço a reflexão sobre o que o mendigo pedia a Francisco, e esse disposto a dar alguma moeda, foi interrompido pelo mendigo, que dizia não querer o seu dinheiro, não queria nada do seu bolso, mas queria o afeto do seu coração. Daí ele estender a mão e dizer: Paz e Bem.

            O mendigo pedia algo mais valioso do que uma simples moeda, queria algo que viesse do coração de Francisco. Mesmo que ele não entendesse no momento o valor do que estava sendo pedido, mas ele ficou com isso na mente, como uma semente próxima a germinar. 

            Faço agora uma comparação do comportamento de Francisco com o meu comportamento. Mesmo me considerando mais espiritualizado do que o Francisco boêmio, mesmo assim ele tinha mais disponibilidade de doar suas moedas do que eu as minhas. 

            Já coloquei neste espaço literário essa dificuldade intrínseca de praticar a caridade para aquelas mãos que se estendem para mim, principalmente em cruzamentos das estradas quando paro meu carro no sinal de trânsito. Penso que aquelas pessoas estão recolhendo moedas dos incautos para formar uma boa poupança no final do mês, ao invés de procurar um trabalho e ganhar seu dinheiro com o suor do próprio rosto. Outras vezes imagino que são pessoas exploradas por outras que as obrigam a mendigar, ou então são dependentes químicos que se eu der o dinheiro estarei alimentando seu vício. 

            Esta reação automática do meu comportamento sei que tem origem no meu instinto animal e nos conhecimentos acadêmicos sobre a condição humana na forma natural. Sei também que quem deve administrar esses instintos e todos os conhecimentos adquiridos é o meu Eu, espirito imortal, criado simples e ignorante e que está aqui na Terra encarnado para aprender o necessário e evoluir espiritualmente. Reconheço a importância do Mestre Jesus que veio, a pedido do Pai, a nos ensinar sobre o caminho, verdade e vida, e assim construir a família universal e o Reino de Deus.  

            Francisco de Assis termina por reconhecer, ainda na juventude, onde está a prioridade da sua vida, obedecendo ao pai biológico e conquistar riqueza, nobreza e poder, ou obedecer ao Pai espiritual que lhe orienta a dar o bem mais precioso, a fraternidade que sai do coração, não a moeda que sai do bolso. 

            Eu, adentrando a velhice, com todo conhecimento acadêmico e espiritual, reconhecendo a paternidade divina e o meu compromisso de fazer a vontade do Pai, permaneço resistente em dar as poucas moedas que não me farão falta, quanto mais doar do meu coração, o afeto muito mais valioso para aquele que recebe e que não pesa no bolso.

            Isso mostra a grandeza espiritual do Santo de Assis, o quanto ele está próximo do Pai e obedece às lições do mestre Jesus, comparado à minha miséria espiritual.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 15/10/2021 às 00h14