Encontrei na internet a entrevista de Bill Moyers a Joseph Campbell, publicada em 02-11-2019, com 7.145 visualizações, que achei interessante reproduzir partes neste espaço, para refletir junto com meus leitores neste momento em que o Brasil tem na presidência uma pessoa considerada como mito. Será que Joseph Campbell fará alguma associação moderna com o nosso caso Brasil e reflexos no mundo?
BM – A poesia alcança a realidade invisível.
JC – Alcança aquilo que está além do próprio conceito da realidade. É o que transcende qualquer pensamento. É o que o leva até esse lugar e dá uma linha de conexão com o mistério que você é. Os mitos conseguem isso. Conseguem mesmo! Segundo a forma usual de se pensar a religião cristã, não podemos nos identificar com Jesus, temos que imitar Jesus. Mas dizer: “Eu sou Deus” como Jesus disse, para nós seria blasfêmia. Entretanto, no Evangelho de São Tomé, Jesus disse: “Quem beber da Minha boca se tornará como Eu sou, e Eu serei ele.” Isso é budismo! Todos somos manifestações da consciência de Buda, só que não sabemos disso. A palavra “Buda” significa “aquele que despertou”, vem de “Buddh”, despertar. Despertou para o fato de que ele era a consciência de Buda. E todos nós temos que fazer isso. Despertar para o Jesus que há dentro de nós. Isso é blasfêmia, segundo o pensamento usual do cristianismo. Mas é a essência do gnosticismo e do Evangelho de São Tomé.
BM – E o Céu, o objetivo ambicionado pela maioria das pessoas, está também dentro de nós?
JC – O Céu e o Inferno dentro de nós, assim como os deuses. Essa foi a grande intuição dos Upanishads da Índia já no século 9 a.C. Todos os deuses, todos os céus, todos os mundos, estão dentro de nós. Eles são sonhos ampliados. E o que são sonhos? São manifestações em forma de imagens das energias do nosso corpo em conflito. E tudo isso é mito. O mito é uma manifestação em imagens simbólicas, metafóricas das nossas energias internas. Mobilizadas pelos órgãos do corpo em conflito entre si. Este órgão que quer isto, e o outro quer aquilo. O cérebro é um dos órgãos.
BM – Quando sonhamos, pescamos num vasto oceano de mitologia.
JC – Que vai cada vez mais fundo. E você pode acabar todo enrolado com complexos e coisas assim. Mas você está em pé na beira do abismo. Lembro-me sempre de um provérbio polinésio... “Em pé sobre uma baleia, pescando sardinhas.” Estamos em pé sobre uma baleia. A base do nosso ser, é a base do nosso ser. Voltados para fora, vemos todos esses problemas, mas dentro de nós, nós somos a fonte de todos eles. É esse o grande ensinamento místico.
Estas palavras ditas por Jesus, “Vós sois deuses”, trazem um grande significado que deve nortear minha vida, meus objetivos, minha motivação. Jesus tem autoridade que reconheço, de dizer tal afirmação e eu considerar como verdadeira. Então, eu sou Deus? Entendo essa condição como uma potência dentro de mim. Entendo que fui criado, em essência, como espírito, simples e ignorante. Venho perambulando pelo mundo material em busca de conhecimentos e sabedoria. Desde o reino mineral, passando pelo vegetal até atingir o reino animal e a condição humana, ponto em que me encontro. Percebo agora que, como fui criado imagem e semelhança de Deus, simples e ignorante, devo usar da minha individualidade e do livre arbítrio para ir em busca dos conhecimentos e sabedoria necessária para me aproximar do Pai e me incorporar a Ele. Nesse sentido, sou Deus. A minha consciência desperta para essa realidade, não que isso seja uma verdade agora, que eu seja Deus agora. Mas o meu despertar faz com que eu dirija todas as minhas energias nesse propósito de me aproximar do Pai. Isso não é tão rápido. Quanto tempo, quantas reencarnações já passei para alcançar o ponto evolutivo onde estou situado. Dentro do reino animal, mas com um cérebro privilegiado capaz de entender o que Cristo ensinou, de acatar a vontade de Deus como minha e deixando os desejos egoístas em segundo ou terceiro plano.
O despertar espiritual não implica que eu esteja fazendo tudo que é necessário para alcançar o nível angelical de aproximação com o Criador. Percebo que minha mente está mais associada aos critérios materiais, que o pensamento está mais sintonizado com interesses mundanos, pois até a oração que o Cristo falou da sua importância, não consigo ainda fazer com regularidade. A importância do despertar é para servir de foco consciencial para promover essa hierarquia mental dentro da minha cognição.