Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
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O círculo íntimo reage de formas diferentes. Todos estão tensos e desconfortáveis. Para Bormann, a notícia de que o Führer ficará no bunker é devastadora. Ele esperava que a liderança nazista fosse para Berghof, o retiro de Hitler na montanha. Uma década antes, Bormann supervisionou sua construção, incluindo uma rede de bunkers impenetráveis nas profundezas dos Alpes, projetados para manter o Führer e Bormann longe do perigo. Mas isso não acontecerá. É uma ilusão, e Hitler ainda tem cérebro o bastante para perceber que é uma ação inútil.
O plano de Bormann, por enquanto, está frustrado. Isso tem, de certa forma, a cara de Wagner, é como as óperas de Wagner terminam. E todos eles sabem disso. Mas Göring observa com interesse. Ele interpreta a declaração de Hitler como uma renúncia e sua chance de tomar controle da liderança.
É bem óbvio que Hitler foi para Berlim porque ele não vai se render e, no fim das contas, ele preferia morrer na capital do que ser visto fugindo. Já Göring, não tem receio de fugir. Na verdade, já está se preparando há tempos. Seus criados já retiraram seus espólios de guerra, cerca de 5.000 obras de arte. Ele tirou todos seus tesouros, suas pinturas, tirou todo o seu dinheiro dos bancos alemães.
Naquela manhã, a residência de Göring no interior, Carinhall, foi armada com 20 toneladas de explosivos. Se ele não pode aproveitar de sua propriedade, ela será destruída.
Não passa despercebido que Göring foi o primeiro a ir embora. Chegou-se a um ponto em que é cada um por si. O antigamente leal chefe da SS, Heinrich Himmler, acha que já conseguiu fingir sua fidelidade. Agora pode fazer uma partida discreta como Göring, e voltar ao seu próprio plano de fuga. Ele está tentando se posicionar como um líder nazista pós-Terceiro Reich. É fantasioso, iludido e inútil, mas demonstra o tanto que Himmler está fora da realidade.
Ao sair da festa, Göring aborda Himmler, que não é o único que pensa em contatar os Aliados. Göring pensava se seria possível falar para os ocidentais: “Estragamos tudo, mas os russos são uma ameaça maior, por que não nos unimos e enfrentamos os russos?”
Novamente, ele está iludido de que seria tratado como um grande líder. Mas Himmler está bem à frente. Cinco dias antes, ele libertou 1.200 judeus para os Aliados. Negociando um acordo planejado na casa de saúde, passando mensagens para a Cruz Vermelha por meio de sua massagista. A arrogância dele supera seu medo natural de cometer traição. É o que ele está fazendo. Se Hitler descobrir que ele está tentando fazer acordos de paz às costas dele, ou negociando com judeus... são atos de traição aos olhos de Hitler, e ele seria estrangulado com uma corda de piano.
Himmler conta a Göring que está à frente dele e se encontrará com o conde Folke Bernadotte, vice-presidente da Cruz Vermelha sueca, naquela noite. Ele sente que o fim está próximo, e não quer que outras pessoas tomem posição como negociador principal. Ele diz que Eisenhower enviou Bernadotte para negociar. Ele sabe que Göring oficialmente tem a segunda maior posição, mas ele quer está na primeira.
Mas Himmler percebe que eles estão sendo observados pelo rival mais perigoso: Martin Bormann. O bajulador Bormann chegou ao poder por meio de manipulação implacável envenenando os ouvidos de Hitler. Himmler sabe que se Bormann os ouviu, seus dias podem estar contados.
A essa altura, Himmler está em um estado de intensa ansiedade, pois sabe que, ao tentar negociar a paz, estava cometendo traição. Ele sabe que deve agir rápido e viaja à noite pela costa do mar Báltico para duas reuniões importantes. A primeira é com um representante do Congresso Judaico Mundial.
Himmler astutamente estabelece ligação com o Congresso Judaico Mundial e com os poderes ocidentais via Suécia, e o motivo para isso é óbvio. Ele queria se safar e tentar ter uma vida após o Terceiro Reich.
A esta altura, o número de judeus mortos chega a seis milhões, tudo idealizado por Himmler. Mas meses antes, ele tentou cobrir seus rastros.
No início de janeiro de 1945, Himmler com intenção de conseguir favores dos Aliados no fim da guerra, iniciou um programa de fechamento dos campos de concentração, escondendo os piores aspectos deles e tentando apresentar uma fachada mais humana aos Aliados quando eles chegassem. Mas não tinha como Himmler se distanciar completamente das atrocidades. Sua mudança para se tornar a pessoa que governaria a Alemanha pós-nazismo depende dessas reuniões com homens de ideologias radicalmente opostas. Durante 45 minutos, Himmler faz uma prolixa justificativa das ações alemãs contra os judeus. Ele promete que as matanças parariam e que os campos seriam entregues intactos aos Aliados.
Na segunda reunião de Himmler, com o diplomata sueco conde Bernadotte, ele está ficando cada vez mais paranoico. Ele está histérico, com sua pistola no bolso e o tempo todo preocupado que os homens de Bormann aparecerão.
Exausto, Himmler vai embora, acreditando estar perto de encontrar Eisenhower. Mas seu medo permanece. Será que foi seguido? Bormann sabe de algo? Uma coisa é certa, Himmler está fazendo um jogo muito perigoso.
Mesmo querendo se safar das atrocidades cometidas na guerra e fora dela, os integrantes do círculo do mal continuam mantendo as mentiras como a principal estratégia. Pretendem iludir aqueles que eles enganaram por tanto tempo e permitiram que eles avançassem tanto na invasão da terra dos povos vizinhos e distante. Tudo isso em nome de um pacifismo que permitiu o fortalecimento do mal.
Fica com isso uma lição para que não sejamos tolerantes com as expressões do mal, em qualquer momento, em qualquer lugar.