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Meu Diário
06/11/2021 00h05
CIRCULO DO MAL DE HITLER (96) – MORRER PELA CAUSA

            Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.



XCVI



22 DE ABRIL DE 1945



BERLIM



            No dia seguinte, no bunker, na conferência diária de Hitler, seus generais relatam a situação militar. No dia 22 de abril, há uma reunião crucial de Hitler com os membros seniores do círculo íntimo, vários generais, e também Bormann e Goebbels. É quando ele finalmente percebe que a situação militar não tem mais jeito. Eles perderam a guerra, sem dúvida. É um grande momento, porque, até esse ponto, ele sempre dizia: “Vamos vencer, serei como Frederico, o Grande, vou empurrar meus inimigos.” Ele vê a situação militar e, mesmo para um dos piores comandantes em chefe da história, ele percebe que a guerra acabou.



            Goebbels, que se manteve leal desde o começo, está devastado. Não há futuro sem Hitler para ele nem sua família. Hitler vocifera, o que pôde ser ouvido quase em todo o complexo do bunker, e seus generais tremem com toda essa total apoplexia de raiva. É o fim dessa grande odisseia que o levou desde a cervejaria até o bunker, e tudo terminou em ruína e catástrofe.



            As últimas rotas de fuga estão sumindo, e o Exército Vermelho se aproxima. Até certo ponto, pode-se dizer que os verdadeiros realistas são aqueles que ficaram no bunker, porque percebem que não há saída estratégica.



            Pílulas de cianeto são distribuídas ao pessoal de Hitler. Bormann percebe que é esperado que ele morra pela causa. Embora tenham apenas alguns dias de vida, Bormann nunca teve espírito de equipe, nunca pensou: “O que podemos conseguir juntos?” Diferentemente de outras pessoas que ficaram até o fim, ele não tem interesse em morrer, quer continuar a viver. Ele está em um dilema: fica com Hitler ou dá o fora? Ele quer fazer ambas, mas não dá.



            Por enquanto, Bormann está preso. Ele sonha com a fortaleza que construiu nos Alpes anos antes.



            Göring está aproveitando o ar fresco da montanha. Ele fica sabendo da aceitação de derrota de Hitler e, apesar dos planos de Himmler, decide fazer sua jogada pela posição principal. Mas até Hitler morrer, é uma jogada muito perigosa. É seu dever oficial em caso de morte do Führer, ou se o Führer for declarado incapaz pelas circunstâncias, assumir o governo da Alemanha. Ele cuidadosamente dita uma mensagem diplomática a Hitler, solicitando sua autorização para assumir como sucessor. “Mein Führer, o senhor está sob muita pressão, se eu não ouvir nenhuma resposta contrária sua em até 24 horas, devo supor que perdeu sua capacidade de governar e eu me tornarei o Führer.”



            Ele imediatamente percebe que é um assunto sensível e complicado. Se a mensagem for mal-entendida, ele será assassinado. Como protocolo habitual, Bormann é o primeiro a ver o telegrama de Göring. Tudo que chega até Hitler é filtrado por Bormann. Para Bormann, é importante garantir que ninguém mais se torne poderoso, e, principalmente, ele não quer que Göring seja o próximo líder da Alemanha e assuma, pois, se ele, Martin Bormann, sobreviver, complicará o fato de não ter boa relação com Göring. Então, ele diz a Hitler que o telegrama é um ato de traição.



            Bormann instiga Hitler a ver o telegrama como um ato de traição. Demonstra que tudo está perdido. Se não consegue manter Göring, não manterá ninguém. Então, até o telegrama cuidadosamente escrito é um desastre para Göring. E Bormann vai mais longe ainda. Ele envia a Göring uma mensagem dizendo: “Eu o proíbo de tomar qualquer ação na direção indicada. Assinado: Adolf Hitler.”



            Göring entende o sinal. Ele envia outro telegrama, dizendo: “Certo, eu renuncio.” É dito ao povo alemão que Göring teve um ataque cardíaco fulminante e terá de renunciar a todos os cargos. Mas a renúncia de Göring não é suficiente para Bormann. Ele ordena a prisão e execução de Göring. Ele é preso pela SS, mas, por sorte, uma unidade da Luftwaffe passou e Göring pediu ajuda, dizendo que a SS o prendeu. Eles retiram a SS e Göring é resgatado.



            A sorte está do lado de Göring, e ele sobrevive para continuar lutando. Outro alvo de Bormann é Heinrich Himmler. Desde suas reuniões secretas para tentar um acordo com os Aliados, Himmler aguarda ansiosamente por uma resposta. Ele espera que seu ato de traição permaneça em segredo. Bormann está bisbilhotando, mas não encontra nada conclusivo para culpar Himmler. Mas os Aliados dão uma ajuda a Bormann. Notícias dos acordos clandestinos de Himmler são transmitidos globalmente. O segredo de Himmler foi exposto, e ele sabe o que significará para Hitler.



            A transmissão do inimigo revela que seu leal Heinrich, como o chama, tinha agido por suas costas e tentado negociar a paz.



            Há uma diferença entre Göring e Himmler. O esquema do telegrama de Göring foi apenas uma má interpretação dele. Mas Himmler estava mesmo negociando com o inimigo. Uma vez, Hitler citou Himmler como o único homem “verdadeiro” na Alemanha. O único em quem ele podia confiar. Ele não acreditava que Himmler o trairia. Mas ele traiu. E com incentivo de Bormann, o Führer retira Himmler de seus cargos e ordena sua prisão. Para Hitler, Himmler é a pior traição.



            Hitler fica extremamente desolado, sempre pensou que Himmler nunca deixaria de ser leal. Ele acreditava que poderia confiar nele até a morte. Em questão de dias, Bormann eliminou seus dois principais rivais: o vice de Hitler, Hermann Göring, e o chefe da SS, Heinrich Himmler. É uma vitória vazia, pois o regime está claramente acabado, mas na cabeça de Bormann ele finalmente conseguiu.



            Esses dias finais devem ter sido bem satisfatórios para Bormann, pois seus rivais são destruídos um a um, e, no fim, só sobra Goebbels e ele.



            O mal dirige suas últimas energias para as entranhas, para si mesmo. Bormann como agente obscuro dentro das trevas, consegue fazer o maior estrago com os seus companheiros, que não tem nenhuma compaixão por eles. Que morram se for preciso, e até desejável.



            Esse tipo de comportamento nos adverte que não podemos compactuar com o mal, pois terminamos dentro de um caldeirão de maldades que não podemos resistir ou sair. Melhor identificar logo de início qualquer tipo de iniquidades que um possível companheiro esteja fazendo para nos afastar dele, se não conseguirmos coloca-lo dentro da trilha virtuosa.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 06/11/2021 às 00h05