Vou adaptar o texto publicado em 06-11-2020 pelo Padre Denis Marie Ghesquières, no site da Aleteia, em pt.aleteia.org, para exemplificar melhor os estudos da vida mística segundo Santa Teresa, que foi usada pelo Padre Paulo Ricardo e aproveitamos para o primeiro dia do nosso evento universitário, como forma de evoluir espiritualmente em busca do Reino de Deus.
O livro de Santa Teresa, “O Castelo Interior – A jornada espiritual da alma para se unir a Deus”, ele compara a nossa alma ao lar de Deus, como um castelo. As primeiras moradas correspondem a entrada na vida espiritual e são o fundamento de todas as posteriores.
Santa Teresa se apoia em quatro citações bíblicas: 1) Na casa de meu Pai há muitas moradas (João 14,2); 2) Quem me ama guardará a minha palavra – meu Pai o amará e viremos a Ele e nEle faremos a nossa morada (João 14,23); 3) Minhas delícias estão nos filhos dos homens (Provérbios 8,31) – mostra que nós somos o paraíso de Deus; e 4) Façamos o homem à nossa imagem e semelhança (Gênesis 1,26) – mostra que fomos criados para amar como Deus ama, porque Deus é amor, e que a vontade de Deus é que nós nos amemos como Ele nos ama.
A primeira morada é o portal de entrada na vida espiritual. Nós entramos quando tomamos a decisão de buscar a Deus em nós. Santa Teresa entendia que a pior das misérias é viver sem Deus, e até imaginar que podemos fazer o bem sem Deus. Os quatro frutos desta primeira morada, que amadurecerão ao longo do caminho espiritual, são a liberdade, a humildade, o desprendimento e, acima de tudo, a caridade que é o fim e a culminação.
A segunda morada diz respeito à purificação da nossa relação com o mundo. A arma utilizada para triunfar aqui é a fé em Cristo e a confiança na Sua vinda para nos ajudar em nosso esforço de libertação do pecado (Gálatas, 5,1).
A terceira morada está ligada ao esclarecimento da relação com nós mesmos. Aqui corremos o risco de ser como aquele jovem rico que teve um bom começo, mas que termina todo triste. O desafio consiste em reconhecermo-nos como um “servo qualquer”, que recebe tudo de Deus, e para Deus devemos devolver quando Ele assim nos solicitar, através das diversas demandas que o entorno da vida nos oferece.
A quarta morada aprofunda nossa relação com Deus. Uma grande paz vai se instaurando progressivamente nas profundidades da nossa alma, mesmo que ao nosso redor exista todo tipo de tempestade. A confiança, a humildade e a gratidão são realidades que vão sendo vividas cada vez mais profundamente.
Estas segunda, terceira e quarta moradas permitirão aprofundar a vida espiritual entendida como caminho rumo a Deus, como busca de Deus e participação progressiva na vida divina. Este é um dom gratuito, mas temos que estar determinados a recebe-lo e fazer desse recebimento o centro de nossa vida, purificando assim, o lugar de nós onde habita Deus. É Deus quem nos permite passar de uma morada à outra, quando cumprimos as exigências evolutivas pela qual é necessário o espírito cumprir.
A entrada na quinta morada é uma transição. Não passamos da quarta à quinta da mesma forma que passamos da segunda à terceira ou da terceira à quarta morada. Consideramos a nossa vida não tanto como um caminho rumo à Deus, mas experimentamos Deus vivendo em nós, como explica a frase de São Paulo: “Já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim!” (Gálatas 2,20). O desejo de amar é mais intenso. Ao receber uma vida nova, perdemos os nossos antigos pontos de referência e as nossas seguranças habituais.
A sexta morada corresponde aos compromissos espirituais. Há uma alternância de sofrimentos ligados ao sentimento de ausência de Deus e a experiência muito profunda da presença de Cristo... aqui intervém uma dilatação ainda mais profunda do coração e do desejo de Deus. A arma utilizada aqui é sempre a volta a santa humanidade de Cristo. Jesus se une a nós em nossa debilidade humana para transformá-la, para reativar o nosso desejo de amar em comunhão com Ele.
A sétima morada, enfim, é o ponto culminante definido pela união com Deus, uma espécie de matrimônio espiritual que foi concedido à Santa Teresa em 18 de novembro de 1572. A união com Deus é uma participação profunda no desejo de Deus de salvar todas as pessoas. Através desse “matrimônio espiritual”, tudo fica transformado e se recebe um renovado desejo de viver assumindo a própria condição e os próprios compromissos terrenos de maneira ainda mais concreta e sem fugir da realidade.
Este é um caminho de natureza abstrata, mas de consequências realistas, se entendermos como correto e como uma boa forma de evoluirmos espiritualmente para a condição de cidadão do Reino de Deus, de estarmos bem mas próximo do Criador.