Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
26/12/2021 00h01
REFLETINDO COM MÁRIO DE ANDRADE

            Refletindo com o poeta e romancista paulista, autor de Macunaíma, Mário de Andrade, que escreveu o poema “Minha alma está em brasa”, escrevo o texto abaixo.



            Contei meus anos e descobri que tenho menos tempo para viver a partir daqui, do que o que vivi até agora.



            Sim, amigo de sentimentos e parceiro de convicções. Também tenho menos tempo para viver daqui para a frente, já que estou nos meus 70 anos incompletos.



            Eu me sinto como aquela criança que ganhou um pacote de doces; o primeiro comeu com prazer, mas quando percebeu que havia poucos, começou a saboreá-los profundamente.



            Também sinto assim, comi meus primeiros doces com muito prazer, sem pensar muito na sua finitude. Agora que sei que são poucos, procuro direcionar os prazeres da vida que ainda me resta para os valores espirituais.



            Já não tenho tempo para reuniões intermináveis em que são discutidos estatutos, regras, procedimentos e regulamentos internos, sabendo que nada será alcançado.



            Também sinto uma perda de tempo dentro da urgência que tenho agora, mas reconheço que são atitudes necessárias para o bom relacionamento intersocial. Mesmo que alguns objetivos não sejam alcançados, mas as tentativas devem ser feitas de formas combinadas e coordenadas.



            Não tenho tempo para apoiar pessoas absurdas que, apesar da idade cronológica, não cresceram.



            Devo ter um tempo para ensinar, mas não apoiar, pessoas que não desenvolveram um aspecto crítico do comportamento e permanecem presas em preconceitos que sufocam a liberdade da sua condição humana e a de quem convivem com elas.



            Meu tempo é muito curto para discutir títulos.



            Certamente, também não tenho tempo para discutir títulos, nem meus nem dos outros. Até mesmo o registro burocrático de minhas atividades, não encontro o tempo necessário e por isso sou prejudicado financeiramente. Mas o ganho espiritual que tenho agindo assim me traz maiores benefícios.



            Eu quero a essência, minha alma está com pressa... sem muitos doces no pacote...



            Os doces que tenho no meu pacote, dou a eles o sabor da espiritualidade cada vez mais. Ainda estou preso à gula, à sexualidade e à preguiça, mas procuro tirar cada vez mais a presença deles nos meus últimos doces, entendendo que devo me nutrir com mais parcimônia.



            Quero viver ao lado de pessoas humanas, muito humanas.



            Procuro ficar mais tempo com pessoas mais espiritualizadas e menos animalizadas.



            Que sabem rir dos seus erros. Que não ficam inchadas, com seus triunfos. Que não se consideram eleitos antes do tempo.



            Sim, pois também devo aprender a rir dos meus erros, corrigi-los quando possível e aprender a não comete-los em outras oportunidades. Que devo exercer sempre a humildade, por mais que a graça de Deus me proporcione honras e benefícios.



            Que não ficam longe de suas responsabilidades.



            A minha responsabilidade maior neste momento, de ter cumprido as obrigações do trabalho e vem a aposentadoria, de ter cumprido a função de pai e agora vem a condição de avô, é fazer agora com mais empenho a vontade de Deus.



            Que defendem a dignidade humana. E querem andar do lado da verdade e da honestidade.



            Esta foi sempre a minha bandeira e que a empunhei nas diversas candidaturas a cargos público: dignidade humana. Sempre procurei andar ao lado da verdade e da honestidade, mesmo sofrendo incompreensões e até ataques morais e físicos. Por isso entendo o poeta como meu amigo e companheiro de ideais.



            O essencial é o que faz a vida valer a pena.



            Fazer a vida valer a pena para a gente e valer a pena na vida dos outros, ajudando, orientando, mas não sofrer, por exigência de ninguém, o desvio dos meus ideais.



            Quero cercar-me de pessoas que sabem tocar os corações das pessoas...



            São pessoas assim que tocam o meu coração e com elas posso me consorciar e tocar mais corações.



            Pessoas a quem os golpes da vida ensinaram a crescer com toques suaves na alma.



            Também quero aprender com essas pessoas a superar os golpes da vida, que mesmo não trazendo lágrimas nos olhos ou esgar na face, trazem sofrimento ao espírito.



            Sim... estou com pressa...



            Não tenho tanta pressa... estou vivendo com um direcionamento espiritual, mas sintonizado com os caminhos que Deus coloca á minha disposição. Como tenho uma inteligência lenta, não posso me precipitar e cometer erros por atos impulsivos.



            Estou com pressa para viver com a intensidade que só a maturidade pode dar.



            Sinto os efeitos benéficos da maturidade sobre a alma que pretendo degustar com calma, apesar do tempo necessário ter trazido limitações ao físico.



            Eu pretendo não desperdiçar nenhum dos doces que eu tenha ou ganhe...



            Também não pretendo desperdiçar meus doces com futilidades e tomara que eu venha ganhar mais alguns dos que foram determinados pela providência para a minha atual existência.



            Tenho certeza de que eles serão mais requintados do que os que comi até agora.



            Sim, sinto que os doces que estou provando agora são mais requintados, um doce mais suave, menos intrusivo... um doce mais aproximado ao manjar dos Céus que um dia irei provar.



            Meu objetivo é chegar ao fim satisfeito e em paz com meus entes queridos e com a minha consciência.



            Este também é meu objetivo, mas quando os meus projetos não interessam aos meus entes queridos, e não posso esquecer deles para fazer o que os entes queridos acham melhor para eles, não posso deixar de seguir a minha consciência. Fico em paz com minha consciência e com Deus, mas se perde a paz com meus entes queridos. É uma situação que não posso ter tudo. Paz com meus entes queridos e com minha consciência.



            Nós temos duas vidas e a segunda começa quando você percebe que você só tem uma...



            O poeta termina com esse paradoxo. A segunda vida ser vivida quando se percebe que se tem apenas uma. Vivo agora a minha segunda vida, cheia de características novas, e percebo que tudo foi um encadeamento da minha infância até agora.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 26/12/2021 às 00h01