Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
02/01/2022 00h01
MÍSTICA DO AMOR CONJUGAL

            Ao ler o opúsculo de Francisco Taborda, SJ (Societes Iesu ou Companhia de Jesus, Jesuítas), “Matrimônio – Aliança – Reino”, vi o termo “...mística do amor conjugal...” que de imediato me fez curioso para associar com o que está escrito na Bíblia sobre o assunto e que pode levar a essa mística relatada.



            Na Bíblia é dito que “O Homem deixará o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma só carne” (Gênesis 2,24).



            O mesmo foi reafirmado no Novo Testamento: “E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não mais dois, mas uma só carne”.



            Eis aí a mística! Não pode do ponto de vista biológico essa afirmação ser verdadeira. Só podemos considerar uma verdade do ponto de vista místico. Mas, será que os casamentos são realizados dentro dessa mística? Duvido muito.



            Lembro do meu primeiro casamento há cerca 50 anos. O que mais vem à minha mente do que motivava esse ato, era o forte desejo sexual, uma paixão que se alimentava a cada dia, querendo repetir prazeres e que o casamento daria uma condição de eternidade ao prazer que experimentávamos, eu e minha mulher. Casamos no civil e no religioso. Tanto eu como ela éramos e ainda somos cristãos. Essas passagens bíblicas podem ter sido lidas, tanto antes, durante e após o casamento, mas nenhum compromisso surgia devido essas evocações. Talvez se tivesse feito um curso na igreja de preparação para o casamento, como o autor do opúsculo oferece em sua paróquia, eu tivesse um melhor preparo para entender e assumir o casamento.



            Mas o autor permanece dizendo que os casamentos celebrados são dissolvidos num prazo de cinco ou seis anos, se tanto. Então, podemos entender que essa mística não é entendida e muito menos aceita. Mas, como podemos entender essa mística?



            É dito que o homem deixará pai e mãe e se unirá a sua mulher, formando uma só carne, não mais dois, fica bem enfatizado.



            Isso implica que os paradigmas de vida de cada um devem ser unificados para que não haja conflito no relacionamento. Primeiro, deve ser estabelecida uma hierarquia, para que em momentos de impasse o “cabeça do casal” possa decidir, sem se perder a unidade. Biologicamente, que se transformou em cultura e chegou até a Bíblia, o homem é o protagonista, é o “cabeça do casal”. É ele quem deixa o pai e mãe e se une a mulher para formar uma só carne. Isso significa que, o que um sentir o outro sentirá, o que um fizer o outro apoiará. Será possível uma tal mística acontecer? Será uma ilusão colocada como verdade na Bíblia? Mas ali não está a palavra de Deus? Ele está brincando conosco ao dizer coisas que não podem se realizar? Será que o escritor da Bíblia não cometeu algum engano ao passar para o papel o pensamento de Deus?



            Este é um momento de profundas reflexões sobre o casamento, sua realidade e sua mística. Nossa cultura apoia os ensinamentos bíblicos, mas não consegue coloca-los na prática em sua integridade. Falha nossa ou falha dos ensinamentos?



            Vamos imaginar que um casal conseguiu colocar em prática essa mística do casamento. Formaram sua família nuclear e vivem em perfeita harmonia. Um não pretende ferir o outro, pois estaria ferindo a si mesmo, são a mesma carne. Se o homem tem desejos e sente a conveniência de ter prazer em amar outra mulher, isso não irá trazer conflitos com a mulher, pois ela está sintonizada em também sentir o prazer que o marido está tendo com outra. Da mesma forma, se a mulher sentir o mesmo desejo em amar outra pessoa, sem ferir os preceitos do amor incondicional, o marido irá se sentir feliz em contribuir para essa felicidade que a mulher encontrou em outra pessoa, pois ela é a mesma carne que a sua, ou melhor, é uma só carne: o que um sente e faz, o outro participa com a mesma sintonia. Esta é a mística do matrimônio sendo realizada, que abre a possibilidade da família universal e em consequência o Reino de Deus.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 02/01/2022 às 00h01