Irei transcrever aqui o 2o. capítulo do livro “O Enviado” de J.J.Benitez, por se fazer necessária a melhor compreensão do texto que irei publicar neste espaço no dia seguinte.
Creio que, como muitas outras pessoas, em alguma ocasião ouvi algo a respeito do mencionado Sudário de Turim.
Mas jamais lhe dei maior atenção da que pude dedicar ao “braço de Santa Teresa” ou à caveira de São Cirilo.
Para mim, todas essas relíquias não possuíam o menor valor. E embora sempre tivesse procurado me comportar respeitosamente quando se falava no assunto, no fundo do meu coração eu não cessava de ver com clareza.
O obscurantismo, a morbidez ou a distorção sempre acabavam surgindo ante meus olhos quando deparava com qualquer desses relicários, na maioria das vezes, inclusive, até antiestéticos.
Por que seria uma exceção o trazido e levado Santo Sudário de Turim?
Além disso, quantos “santos sudários” temos conhecido? Em muitas de nossas catedrais, igrejas ou simples capelas são conservados exemplares destes “sagrados” panos, e as pessoas do lugar juram e perjuram que o seu é o autêntico...
Portanto, meus primeiros passos na hora de investigar dirigiram-se em busca de dados que esclarecessem esta pretensa autenticidade.
Um dos mais espinhosos obstáculos a superar foi o da tardia aparição do Sudário, relativo à morte de Jesus.
Segundo os dados históricos, o pano só surgiu à luz pública cinco séculos mais tarde, no ano 525.
Era lógico pensar que alguém conseguiria falsificar o Sudário, tanto por razões crematísticas (ciência de produzir riqueza) quanto piedosas.
Este fato colocou em situação embaraçosa – e até muito pouco tempo – a todos que se empenharam em defender a autenticidade do referido pano.
Os agnósticos e hipercríticos encontravam nisso um momento mais do que adicional para tachar o assunto de “puro embuste”. E as razões não lhes faltavam.
A história assegura que até a destruição de Jerusalém, o Sudário ficou escondido em mãos cristãs, que quebraram o tabu hebraico contra panos que houvessem tocado um cadáver.
E dali, asseguram os estudiosos, o pano passou à cidade de Edessa, na Síria (hoje conhecida como Urfa, na Turquia). Os historiadores não sabem quando pode ser efetuados esse traslado.
O que parece mais claro é que, quando um dos reis de Edessa se tornou apóstata, os cristãos ocultaram o Sudário, entaipando-o num buraco nas muralhas.
Foi novamente descoberto e venerado em 525. Mas, ao contrário do que ocorre na atualidade, o pano não foi enrolado numa armação de madeira, mas sim dobrado em quatro partes. E só se podia contemplar a face, que era conhecida pelo nome de “Mandylion”.
Quatrocentos anos depois – no ano de 944 – foi cedido ao imperador bizantino e trasladado para Constantinopla, onde permaneceu, na Igreja de Santa Maria de Blaquerna, até 1204. Neste ano, as hordas sedentas de butim da malformada Quarta Cruzada saquearam Constantinopla. E o Santo Sudário desapareceu misteriosamente para reaparecer quatro anos depois em Besançon (França), em poder do padre Otto de la Roche, o qual, “casualmente”, tinha se incumbido da defesa da referida igreja de Blaquerna.
Através de várias vicissitudes, o pano caiu em poder dos príncipes de Savóia. Em 1578, para tentar suavizar o duro voto feito por São Carlos Borromeo de ir a pé de Milão à Savóia para venerar o Sudário, em ação de graças pelo fim da peste em sua arquidiocese, o príncipe Filiberto o levou a Turim, ao encontro do santo peregrino na metade do caminho.
E ali ficou, numa esplêndida capela construída por Guarini. Foi enrolado em torno de um cilindro de madeira e alojado, por sua vez, numa urna de prata. Uma pequena arca de madeira acolhe a dita urna, e uma grade dupla de ferro protege a ambas.
Se me estendi na árida exposição histórica da rota que, ao que tudo indica, foi percorrida pelo Sudário, foi com uma dupla intenção. Porque – oh, surpresa! – eis aqui que, com a chegada do século XX e de seus revolucionários conhecimentos, os especialistas em palinologia (estudo da estrutura, classificação e dispersão dos grãos de pólen e esporos, incluindo exemplares fósseis, de grande importância nas pesquisas arqueológicas e paleontológicas) – moderno ramo da micro botânica – descobriram entre as fibras do linho a melhor prova da idade real do pano...
Vejamos...
Em 23-11-1973, e por vontade do cardeal Pellegrino, o Sudário de Turim foi exposto e mostrado aos italianos através da televisão. Nessa noite, um criminologista de renome mundial, o Dr. Max Frei, diretor do laboratório científico da polícia suíça, teve acesso ao Sudário, em companhia de outros cientistas. Em umas modestas tiras de celofane, Max recolheu uma amostra de pó existente nas beiradas do pano. E com seu humilde “tesouro” dirigiu-se a Neuchâtel, onde submeteu a amostra a seus microscópios eletrônicos. Seu achado seria decisivo.
No tecido, apesar do tempo transcorrido, havia grãos de pólen de plantas desérticas características da Palestina.
Mas isso não era tudo.
Max Frei comprovou também que o pólen mais frequente no Sudário é idêntico ao comumente encontrado nos estratos sedimentares do lago Genesaré, com uma antiguidade de dois mil anos.
E como se isso não bastasse, o palinólogo demonstrou ao mundo que entre as fibras do tecido havia amostras de pólen de plantas naturais da Ásia Menor, mais exatamente nas imediações de Constantinopla. E o mesmo ocorria com grãos de origem francesa e italiana. Quer dizer, das zonas onde o Sudário havia peregrinado.
E Max Frei acrescentou, naquela histórica declaração de 08-03-1976:
“...A presença de pólen, pertencente a não menos de seis espécies de plantas palestinas, de uma da Turquia e de oito espécies mediterrâneas, nos autoriza desde já, mesmo antes de completar a identificação de todos os microfósseis, a chegar à seguinte conclusão definitiva: o Sudário não pode ser uma falsificação. Zurique.”
No ano seguinte, no mencionado simpósio de Londres, o sábio respondeu, ao ser questionado por um cientista de Cambridge:
- É absolutamente certo que o Sudário estava na Palestina no século I.
Para Max Frei, a grande dificuldade desta transcendental investigação havia recaído na identificação daqueles grãos de pólen que hoje estão extintos. Como dizia Max, “se esses grãozinhos microscópicos de pólen são provenientes da vestimenta de um criminoso, é relativamente fácil determinar por que regiões e países andou, já que o pólen de plantas atuais já está catalogado. Mas quando se trata de pólen antigo – já desaparecido – e de regiões remotas, seria preciso consultar incontáveis coleções de livros... que porém ainda não foram escritos”.
Apesar disso, Max Frei percorreu Chipre, Palestina, Negev, Edessa, Anatólia e Istambul, identificando mais de um milhão de grãos de pólen.
Cinco anos depois daquele primeiro e definitivo achado, Max Frei voltou a dirigir-se aos estudiosos do Santo Sudário, no II Congresso Internacional realizado em 1978, em Turim, e apresentou uma lista com 48 espécies de pólen, descobertos até agora no tecido do Sudário.
O pano – definitivamente – estava exposto ao ar na Palestina há exatamente dois mil anos. Assim é demonstrado categoricamente pela palinologia.
Mas as dúvidas continuam fluindo em meu cérebro...
Por exemplo, como um microscópico grão de pólen podia resistir à passagem do tempo durante dois mil anos?
Ficou extenso o texto, mas foi necessário para entendermos melhor o raciocínio do autor e melhorar nossas reflexões. Podemos observar que o autor, jornalista, preocupado em descobrir dados da realidade, fugindo das falsas narrativas, que passou a estudar o Santo Sudário de Turim de forma despretensiosa ou com tendência a qualquer ideia prévia, quer seja religiosa ou preconceituosa. Isto é o que todos devemos fazer.
Dessa forma o Santo Sudário de Turim aponta ser uma peça da realidade há 2 mi anos e que tem relação com o Cristo. Isso é importante porque ressalta a personalidade do Cristo e os ensinamentos que ele nos deixou quanto a construir uma sociedade ideal, comparada ao Reino de Deus. No meio de tantas narrativas que existem para melhor conduzir a sociedade humana, a narrativa cristã deve ser vista como uma alternativa possível, desde que consigamos limpar nossos corações do excesso de egoísmo que carregamos.