Irei reproduzir neste espaço a palestra do Sr. Nelson Ribeiro Fragelli, especialista no tema da Revolução Francesa e autor de diversos estudos, para nossa reflexão sobre o mundo atual que vivemos hoje.
Essa doutrina do Quietismo penetrou por toda a sociedade através dos Salões. O francês é muito dado à conversação e deu a isso um desenvolvimento extraordinário. Um grande prazer da vida era encontrar com os outros e trocar ideias, conhecer novos temas, criticar as artes, os acontecimentos políticos.
Os Salões tomaram a grande aristocracia e fizeram penetrar as ideias de Fenélon, que foi substituído depois de sua morte, no início do século XVIII, por Jean Jacques-Rousseau (1712 – 1778). Ele esposava as mesmas ideias, mas foi mais longe ainda. Era preciso viver no campo. Ele deu a ideia do Bom Selvagem, que em contato com a natureza tem um contato mais apropriado com Deus. Ele também dizia que não se deve resistir à paixão que é sagrada. O íntimo do homem, a consciência individual é a medida da Verdade e do Bem. Cada um sabe àquilo que é bom para ele. Aí estão os princípios da Anarquia, e de fato, na Revolução Francesa teve esse lado anárquico. As pessoas estavam convencidas que de que não devia ter leis, então a monarquia tem que cair, porque ela mantinha uma ordem hierárquica muito bem estruturada que obrigava as pessoas, como, aliás, a Igreja faz com os mandamentos, com a prática das virtudes, de todos os exercícios espirituais, as confissões...
Isto envolveu toda a sociedade. Não eram só os salões. Eram gabinetes de leitura, onde pessoas escolhidas passavam essas ideias, os mestres em Fenélon, que conheciam muito bem e a Rousseau, ensinavam aos outros... Ora, você deve conhecer as novas teorias, você pertence a um passado que está completamente abandonado hoje em dia. Os Salões formaram a sociedade francesa. Eles estavam, então, em 100 anos que isto aconteceu. Porque a Revolução Francesa estourou em 1789, quando Luiz XIV nomeou Fenélon como preceptor do seu neto, era 1689. Precisamente 100 anos. Longa foi essa preparação.
Para derrubar o rei era preciso abater uma sociedade gerada pela Santa Igreja e eliminar a influência da Santa Igreja junto aos homens. Era preciso dar um passo, e esse passo era a violência. A Revolução Francesa foi extremamente violenta. Começaram as agitações populares. Faltou pão, o abastecimento de trigo não é suficiente, não há emprego. Ora, a França, Young Shot diz, Albert Mathiez (+-1932), comunista, estudou muito bem a Revolução Francesa, seus livros são enriquecedores, e ainda que marxista, ele disse que o país era rico e próspero. Essas agitações levam à queima de edifícios, assaltos à armazéns, invasões de ministérios públicos, fogo aqui, fogo lá, incerteza em Paris. Incerteza em Lion. Incerteza nas grandes cidades. Esses mesmos salões espalhavam a ideia de que o rei era incapaz. Luiz XVI já era rei e nós vamos ver que, como ele não reagia, era preciso convocar a Assembleia dos Notáveis, dizendo aqueles senhores feudais que dirigiam a França, que legislavam para o povo francês. Eles se reuniram, Mathiez volta a dizer, o povo estava calmo, o ovo não estava agitado. Agitados estavam àqueles chamados Patriotas, que queriam uma nova França. Esses estavam agitados e dava a impressão que era toda a França.
Esse efeito do Quietismo se verifica até hoje. O mal prospera ao nosso redor e as pessoas de bem, que conseguem ver as iniquidades praticadas, ficam caladas e as vezes defendem com vigor os corruptos, por se sentirem beneficiados por alguma coisa ou por acreditar fortemente nas falsas narrativas, sem se dar ao trabalho de pesquisar se o que é dito é verdadeiro.
Os vencedores da luta com o uso da mentira, das falsas narrativas, se apoderam do Estado e passam a ensinar que os fatos do passado foram executados em nome da liberdade, igualdade e fraternidade, e que os rios de sangue que foram produzidos eram necessários.
Essa engenharia de narrativas para transformar o perverso em corajoso e necessário é tão eficiente que pessoas, como eu, que possuem uma índole pacífica, se tornam defensores de tais bandeiras e consideram como heróis aqueles que as empunham. Depois que a verdade consegue nos libertar, e ficamos livre do hipnotismo das falsas narrativa, entendemos melhor o que acontece no mundo e a mentira não consegue mais nos algemar.
Esses movimentos sociais induzidos por uma minoria de índole perversa e revolucionária, mesmo que receba o nome pomposo de Assembleia dos Notáveis, não consegue mais ocultar a verdadeira face monstruosa de ataque vilipendioso às instituições constituídas, mesmo que para isso cabeças sem conta tenham rolado pelo cadafalso das guilhotinas.