Irei reproduzir neste espaço a palestra do Sr. Nelson Ribeiro Fragelli, especialista no tema da Revolução Francesa e autor de diversos estudos, para nossa reflexão sobre o mundo atual que vivemos hoje.
Era a noite de 9 para 10 de agosto, famoso, muito quente, era o verão aqui na França. Ouvia-se de longe gritos contra a rainha: “Queremos comer as entranhas da rainha! “
Ela era, sobretudo, particularmente odiada. Um dos guardas, chamado Mandá, muito fiel a eles, briguento, homem forte, temido pelos revolucionários, a Comuna manda chamar Mandá. Queria falar com ele. A Comuna, quer dizer, os que tramavam a prisão do rei no prédio da Assembleia Nacional.
Maria Antonieta, disse que Mandá não poderia ir. Mandá deveria ficar para os proteger. Mas o rei disse, não, vamos dar mais uma prova de boa vontade em relação à Assembleia e a Comuna de Paris, vamos parlamentar com eles. Mandá se despediu do Rei e disse: “eu não volto mais. A ordem de Vossa Majestade é minha condenação à morte”.
De fato, ele foi e uma hora depois a sua cabeça passeava em Paria na ponta de uma lança e o seu corpo atirado no Rio Sena.
A Comuna de Paria manda dizer para o Rei que toda Paris está revoltada. Era mentira. Eles diziam: é preciso que Vossa Majestade vá para a sede da Assembleia Nacional, onde se exercitavam os cavalos, onde a Assembleia Nacional estava ali assediada.
Chegam tropas revolucionárias para reforçar ainda mais as tropas de Paris em rebelião. O Rei resolve partir, contra a vontade de Maria Antonieta. Eles saem das Tulherias e o povo se encoraja vendo que eles tinham saído. Cercam, apupam, empurram, roubam uma bolsa de Maria Antonieta e invadem as Tulherias. Nessa invasão eles mataram 100 empregados que serviam ao palácio. A família real estava ali desde outubro de 1789. Vasculham todos os quartos, põem fogo, matam ou jogam pessoas vivas pelas janelas. Na adega, onde estavam os vinhos, quebraram todas as garrafas e o sangue se misturava com o vinho. Um violinista, revolucionário, bêbado de tanto sangue, tocava violino junto a um monte de cadáveres. As megeras que tinha empurrado os canhões até as Tulherias, elas assavam e comiam os órgãos sexuais dos suíços mortos na defesa do Rei. Mortos barbaramente.
Eles começaram a reação, os suíços levaram a melhor e o Rei mandou um bilhete mandando depor as armas. Eles obedeceram.
Esse bilhete, existe, eu o vi, está no museu em Paris.
Assim que eles depuseram as armas foram todos massacrados.
Ponto por ponto, a monarquia recuava. Nesse banho de sangue e nessa barbaridade, começam os massacres de setembro. Mataram 16.600 pessoas e guilhotinadas 10.000. e nem todos foram mortos pela guilhotina.
Por exemplo, acompanhava a família real, na Tulherias, a princesa de Lamballe que teve uma morte horrível. Uma senhora finíssima, moça muito bonita, decapitada, esquartejada, a cabeça também no cimo de uma lança, tocaram na janela onde estava a família real, quando abrem a janela para ver, isto foi mais tarde, evidentemente, um mês mais tarde. Mostram a cabeça da princesa de Lamballe.
E assim, a programação da República foi em setembro, e com este banho de sangue e de ignomínia foi proclamada a primeira república, das quais as outras repúblicas que vieram a se estabelecer, inclusive a nossa no Brasil, fazem parte dessa origem.
Impressionante como detalhes tão importantes da história são omitidos. A minha geração jamais soube desses detalhes da origem das repúblicas e como entramos nela. O que é ensinado para nós é a ocorrência de uma revolução que veio tirar o povo de uma tirania, que é pintada a tal revolução, de 1789, uma data que nunca saiu da minha cabeça, mas sempre como um momento grandioso da humanidade, uma vitória da liberdade, igualdade e fraternidade.
Quando tomamos conhecimento dos fatos como deveras aconteceu, sentimos raiva por todos aqueles que nos manipularam, mesmo que não tenham rostos, mas cujas consequências perversas existem até hoje. Podemos até perdoar aqueles que inocentemente, como eu estava, venha a colaborar com projetos de tal ideologia, como eu colaborei, sendo filiado e militante de partido político (PDT) que defendia tal programa de poder, que defende a República como de origem e ação virtuosa. Pode até que seu programa de governo tenha boas intenções, como aconteceu com a Revolução, mas o que acontece são inúmeros atos de iniquidade perpetrados por esse pessoal quando se instala no poder.