Um texto colocado na Wikipedia chama a atenção nestes dias de investida agressiva ao vizinho e pequeno país da Ucrânia. Vejamos:
Na União Soviética ocorreu um abuso político sistemático da psiquiatria e se baseava na interpretação de que a dissidência política se tratava de um problema psiquiátrico. Era chamado de “Mecanismos psicopatológicos” da dissidência.
Durante a liderança do secretário-geral Leonid Brezhnev, a psiquiatria foi usada como uma ferramenta para eliminar adversários políticos (“dissidentes”) que expressavam abertamente crenças contrárias ao dogma oficial. O termo “intoxicação filosófica” foi muito utilizado para diagnosticar transtornos mentais em casos onde pessoas discordavam da ideologia vigente ou faziam críticas ao governo. O artigo 58-10 do Código Penal de Stalin – cujo artigo 70 fora movido para o Código Penal da RSFSR (República Socialista Federativa Soviética Russa) de 1962 – e o artigo 190-1 do Código Penal da RSFSR, que introduziu no direito penal da Rússia noções de “inimigos do povo”, “traidores” e “sabotadores”. Isso levou à prisão um grande número de pessoas, incluindo um grande número de inocentes. As sanções podiam ir até 25 anos de prisão e eram frequentemente prorrogadas indefinidamente sem julgamento ou deliberação. Junto junto com o sistema de diagnóstico de doença mental desenvolvido pelo acadêmico Andrei Snezhnevski, criaram as condições necessárias sob as quais crenças fora da normalidade poderiam ser facilmente transformadas em processos criminais, e isto, por sua vez, em diagnósticos psiquiátricos. Dentro dos limites da categoria diagnóstica, os sintomas de pessimismo, má adaptação social e conflito com as autoridades foram por si só, suficientes para um diagnóstico formal de “esquizofrenia progressiva”.
Na época, a psiquiatria ocidental reconhecia apenas quatro tipos de esquizofrenia: catatônica, hebefrênica, paranóica e simples. Os critérios diagnósticos para essa quinta categoria eram vagos, de forma que podiam ser aplicados a virtualmente qualquer pessoa que sofresse de distúrbios mentais e tivesse interesses além da necessidade de sobrevivência. Por isso o diagnóstico era aplicado a dissidentes do regime soviético que nem sempre sofriam de doenças mentais, de forma que pudessem ser internados à força em hospitais psiquiátricos.
A fé religiosa de presidiários, incluindo ex-ateus bem-educados que adotaram uma religião, foi considerada uma forma de doença mental e que precisava ser curada. Documentos altamente classificados, publicados após a dissolução da União Soviética, demonstram formalmente que as autoridades usaram a psiquiatria como uma ferramenta para reprimir a dissidência.
Mesmo após a queda da União Soviética, o abuso da psiquiatria na Rússia ainda continua e ameaça ativistas dos direitos humanos com diagnósticos psiquiátricos.
Isso lembra o romance distópico (lugar ou Estado em que se vive em condições de extrema opressão, desespero ou privação) 1984, de George Orwell, onde o governo tenta controlar não só as falas e ações, mas também os pensamentos de seus cidadãos, rotulando os pensamentos desaprovados pelo termo “Crime do pensamento” ou pensar criminoso. O personagem principal, Winston Smith, escreve em seus diário: “Crime de pensamento não acarreta morte, crime de pensamento é morte”.