Encontrei o pensamento de Yuval Noah Harari mesmo depois de ter adquirido os seus três livros, bastante difundidos no mundo. O autor nasceu em 1976, em Israel, Ph.D. em história pela Universidade de Oxford, é atualmente professor na Universidade Hebraica de Jerusalém. Considerei bastante relevante após ouvir os dois primeiros livros, Sapiens e Homo Deus. Resolvi ler este terceiro livro, 21 Lições para o Século 21, e fazer a exegese por trechos sequenciais. por considerar existir uma falta de consideração com a dimensão espiritual, indispensável para as conclusões que são tomadas em todos os ângulos em investigação histórica. Convido meus leitores especiais a caminhar comigo nesta nova maratona racional onde pego carona com o brilhante intelecto do autor Yuval.
A FÊNIX LIBERAL
Esta não é a primeira vez que a narrativa liberal enfrenta uma crise de confiança. Desde que essa narrativa passou a exercer uma influencia global, na segunda metade do século XIX, ela tem passado por crises periódicas. A primeira era da globalização e da liberalização terminou no banho de sangue da Primeira Guerra Mundial, quando a disputa geopolítica imperial interrompeu precocemente a marcha global para o progresso. Nos dias seguintes ao assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando em Sarajevo, constatou-se que as grandes potências acreditavam muito mais no imperialismo que no liberalismo, e em vez de unir o mundo mediante um comércio livre e pacífico, elas se concentraram em conquistar uma fatia maior do mundo pela força bruta. Porém, o liberalismo sobreviveu ao momento de Francisco Ferdinando e emergiu desse turbilhão ainda mais forte que antes, prometendo que aquela fora a “guerra para pôr fim a todas as guerras”. A carnificina sem precedentes havia supostamente ensinado ao gênero humano quão terrível é o preço do imperialismo, e agora a humanidade estava enfim pronta para criar uma nova ordem mundial baseada nos princípios da liberdade e da paz.
Depois veio o momento de Hitler, nos anos 1930 e início dos 1940, quando o fascismo pareceu, por um instante, invencível. A vitória sobre essa ameaça apenas levou à seguinte. Durante o momento de Che Guevara, entre as décadas de 1950 e 1970, pareceu novamente que o liberalismo estava nas últimas, e que o futuro pertencia ao comunismo. No fim, foi o comunismo em colapso. O mercado provou que era mais forte que o gulag. Mais importante que isso, a narrativa liberal provou ser de longe mais flexível e dinâmica que qualquer uma de suas oponentes. Triunfou sobre o imperialismo, sobre o fascismo e sobre o comunismo ao adotar algumas de suas melhores ideias e práticas. Em particular, a narrativa liberal aprendeu com o comunismo a expandir o círculo da empatia e a dar valor, além da liberdade, à igualdade.
Enquanto toda essa movimentação acontecia, de guerra e interesses espúrios, o cristianismo servia como pano de fundo dos interesses da humanidade, nunca como um ideal social a ser alcançado. Servia para abençoar os soldados que iam para a guerra, até para abençoar as armas e instrumentos utilizados, mas nunca como um projeto onde todos deviam se voltar para a construção daquele Reino de Deus ensinado pelo Cristo. O imperialismo causador da Primeira Guerra devia ser substituído pelo liberalismo... ninguém pensava de forma pragmática em substituir ambos pelo cristianismo.
O imperialismo foi ameaçado pelo fascismo, que foi derrotado se colocando como dominador o comunismo, que terminou entrando em colapso e prevalecendo as ideias do liberalismo. Tudo isso acontecia e o cristianismo continuava como pano de fundo, sendo exibido nas igrejas e usado como ferramenta para os diversos “ismos” tentarem a conquista do mundo, com exceção do comunismo, que gerado pelas ideias de Marx e Engels, viam como ópio do povo e que precisava ser extirpado, assim como se pretende extirpar a cocaína do acesso as pessoas. Mais uma vez ninguém se preocupava em colocar o cristianismo como um concorrente real a conquista do hegemonia no mundo.