Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
13/03/2022 00h01
SÉCULO 21 (19) – SOCIEDADE PERFEITA?

            Encontrei o pensamento de Yuval Noah Harari mesmo depois de ter adquirido os seus três livros, bastante difundidos no mundo. O autor nasceu em 1976, em Israel, Ph.D. em história pela Universidade de Oxford, é atualmente professor na Universidade Hebraica de Jerusalém. Considerei bastante relevante após ouvir os dois primeiros livros, Sapiens e Homo Deus. Resolvi ler este terceiro livro, 21 Lições para o Século 21, e fazer a exegese por trechos sequenciais. por considerar existir uma falta de consideração com a dimensão espiritual, indispensável para as conclusões que são tomadas em todos os ângulos em investigação histórica. Convido meus leitores especiais a caminhar comigo nesta nova maratona racional onde pego carona com o brilhante intelecto do autor Yuval.



            Sem dúvida, é isso que está acontecendo em todo o globo, quando o vácuo deixado pelo colapso do liberalismo está sendo, de forma vacilante, preenchido por fantasias nostálgicas de algum passado dourado. Donald Trump associou seu chamado para o isolacionismo americano com uma promessa de “Tornar a América grande novamente” – como se os Estados Unidos das décadas de 1980 ou 1950 tivessem sido uma sociedade perfeita que os americanos deveriam de algum modo recriar no século XXI. Os partidários do Brexit sonham em fazer da Inglaterra uma potência independente, como se ainda vivessem na época da rainha Vitória e como se o “isolamento esplêndido” fosse uma política viável na era da internet e do aquecimento global. As elites chinesas redescobriram seus legados imperiais e confucianos nativos, como um suplemento ou mesmo um substituto para a duvidosa ideologia marxista que importaram do Ocidente. Na Rússia, a visão oficial de Putin não é a construção de uma oligarquia corrupta, mas a ressurreição do antigo império tzarista. Um século depois da revolução bolchevique, Putin promete o retorno às glórias do tsarismo, com um governo autocrático mantido pelo nacionalismo russo e pela fé ortodoxa cujo poder se estende do mar Báltico ao Cáucaso.



            Sonhos nostálgicos semelhantes, que misturam adesão ao nacionalismo com tradições religiosas, sustentam regimes na Índia, na Polônia, na Turquia e em muitos outros países. Em nenhum lugar essas fantasias são mais extremadas que no Oriente Médio, onde islâmicos querem copiar o sistema estabelecido pelo profeta Maomé na cidade de Medina 1400 anos atrás, enquanto judeus fundamentalistas em Israel superam até mesmo os islâmicos e sonham em retroceder 2500 anos até os tempos bíblicos. Membros da coalizão que governa Israel falam abertamente sobre sua esperança de expandir as fronteiras modernas de Israel da Bíblia, sobre reinstituição da lei bíblica e até mesmo sobre reconstrução do antigo templo de Iahweh no lugar da mesquita de Al-Aqsa.



            As elites liberais olham horrorizadas para esses desenvolvimentos e esperam que a humanidade volte ao caminho liberal a tempo de impedir um desastre. Em seu discurso final nas Nações Unidas, em setembro de 2016, o presidente Obama advertiu seus ouvintes quanto ao retrocesso para “um mundo radicalmente dividido, e acima de tudo em conflito, entre fronteira ancestrais de nação e tribo, raça e religião”. Em vez disso, disse, “os princípios de mercados livres e governança responsável, de democracia e direitos humanos e lei internacional (...) são o fundamento mais firme para o progresso humano neste século.



            Obama ressaltou com razão que, a despeito das numerosas deficiências do pacote liberal, ele tem um histórico muito melhor do que quaisquer alternativas. A maioria dos humanos nunca usufruiu de maior paz e prosperidade do que sob a égide da ordem liberal do início do século XXI. Pela primeira vez na história, doenças infecciosas matam menos que idade avançada, fome mata menos que obesidade e violência mata menos que acidentes.



            O isolacionismo é defensável quando ele protege os cidadãos do país em questão, a manutenção de seus negócios e cultura. A atitude fraterna de acolhimento de povos em dificuldade de sobrevivência, por viés político ou por qualquer outro, não implica que os anfitriões tenham que se submeter ao pensamento ideológico das pessoas acolhidas.



            Isso promove atitudes nacionalistas locais, mas de intolerância com relação a outros povos, que pode desaguar em franca reação de hostilidade contra indivíduos e contra Estados. A única narrativa que pode permitir esse nacionalismo com tradição religiosa existam sem atitudes beligerantes, é o Cristianismo com sua defesa da criação do Reino de Deus.



            A narrativa liberal pode ter um bom histórico com relação às conquistas capitalistas, de paz e prosperidade, mas, por não seguir os ensinamentos da narrativa cristã, termina por agredir ao próximo e ao meio ambiente, principalmente.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 13/03/2022 às 00h01