Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
14/03/2022 00h01
SÉCULO 21 (20) – NARRATIVA ATUALIZADA

            Encontrei o pensamento de Yuval Noah Harari mesmo depois de ter adquirido os seus três livros, bastante difundidos no mundo. O autor nasceu em 1976, em Israel, Ph.D. em história pela Universidade de Oxford, é atualmente professor na Universidade Hebraica de Jerusalém. Considerei bastante relevante após ouvir os dois primeiros livros, Sapiens e Homo Deus. Resolvi ler este terceiro livro, 21 Lições para o Século 21, e fazer a exegese por trechos sequenciais. por considerar existir uma falta de consideração com a dimensão espiritual, indispensável para as conclusões que são tomadas em todos os ângulos em investigação histórica. Convido meus leitores especiais a caminhar comigo nesta nova maratona racional onde pego carona com o brilhante intelecto do autor Yuval.

 

 

            Mas o liberalismo não tem respostas imediatas para os maiores problemas que enfrentamos: o colapso ecológico e a disrupção tecnológica. O liberalismo baseou-se tradicionalmente no crescimento econômico para resolver conflitos sociais e políticos complexos. O liberalismo reconciliou o proletariado com a burguesia, os crentes com os ateus, os nativos com os imigrantes e os europeus com os asiáticos, ao prometer a todos uma fatia maior do bolo. Com um bolo que crescia constantemente, isso era possível. Contudo, o crescimento econômico não vai salvar o ecossistema global – justamente o contrário, ele é a causa da crise ecológica. E o crescimento não vai resolver a questão da disrupção tecnológica – ele pressupõe a invenção de mais e mais tecnologias disruptivas.

 

 

 

 

            A narrativa e a lógica do capitalismo de livre mercado estimulam as pessoas a ter grandes expectativas. Durante a parte final do século XX, cada geração – seja em Houston, Xangai, Istambul ou São Paulo – usufruía de uma educação melhor, serviços de saúde superiores e maior renda do que a que lhe antecedia. Nas décadas por vir, no entanto, devido a uma combinação de disrupção tecnológica e colapso ecológico, a geração mais jovem terá sorte se permanecer nos mesmos patamares.

 

 

 

 

            Consequentemente, nos restou a tarefa de criar uma narrativa atualizada para o mundo. Assim como as convulsões da Revolução Industrial deram origem às novas ideologias do século XX, as próximas revoluções na biotecnologia e na tecnologia da informação exigirão novas visões e conceitos. As próximas décadas serão, portanto, caracterizadas por um intenso exame de consciência e pela formulação de novos modelos sociais e políticos. Será o liberalismo capaz de se reinventar mais uma vez, como na esteira das crises das décadas de 1930 e 1960, e emergir ainda mais atraente? Será que a religião e o nacionalismo tradicionais são capazes de oferecer as respostas que escapam aos liberais, e usar sua antiga sabedoria para moldar uma visão de mundo atualizada? Ou terá chegado o momento de romper totalmente com o passado e criar uma narrativa completamente nova que vá além não só dos antigos deuses e nações, mas até mesmo dos valores modernos centrais de liberdade e igualdade?

 

 

 

 

            A narrativa do Cristianismo não pode deixar de ser colocada como opção de resposta aos problemas que enfrentamos. Resta saber qual o motivo. Por que análises inteligentes da crise atual, sabendo da existência do Cristianismo, não o coloca como alternativa e faz uma avaliação racional?

 

 

 

 

Talvez explique isso a condição de religião da proposta. Seria necessário ser colocada como uma opção sociológica, acima do viés religioso.

 

 

 

 

Sofri esse preconceito na pele, quando procurei aprovar um evento universitário com o título de Reino de Deus. Logo surgiram diversas críticas alegando que a universidade é laica e que não pode discutir esse assunto. Procurei colocar a justificativa junto aos meus colegas em reunião plenária do Departamento de Medicina Clínica onde estou lotado na UFRN. Expliquei que a discussão que pretendo fazer com a comunidade extra universitária é semelhante aquela que fazemos do marxismo, do comunismo, do socialismo, sem qualquer interesse em proselitismo religioso. Mesmo assim, para superar as críticas de que possa existir proselitismo político e isso possa estar ferindo o laicismo universitário, foi sugerido a mudança do título do evento. Por esse motivo refiz o projeto colocando como título “Construção da Sociedade Ideal” ao invés de “Construção do Reino de Deus”.

 

 

 

 

A mudança de título não muda a essência do trabalho, como podemos observar ao longo destas reflexões que estamos fazendo com o trabalho de  Yuval Noah Harari. 

 

 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 14/03/2022 às 00h01