Porque vivo a minha vida
Todos pensam que a tenho
Minha vida à Deus pertence
Eu sou simples capataz
Vejo o tempo que me traz
O presente da velhice
Se antes tinha o vigor
Hoje vem Sabedoria
Gozei com tantos, os prazeres
Que esqueci padeceres
E se amanhã cerro o olhar
Em outros campos abrirei
Talvez alguém tenha alegria
Ao ver meu caixão passar
Pois guarda no coração
As mágoas do que não dei
A minha alma, compassiva
Observa em todos, conflitos
Da raiva à gratidão
Da companhia à solidão
Ah, quanta raiva incoerente!
Para aquele que sem reserva
Deu todos seus doces frutos
Sem esperar gratidão
Será porque eu vivia
Como queria o Pai?
Sozinho na multidão
E com tantos, na solidão?