O Mestre Jesus de Nazaré que veio até nós com a missão principal de nos ensinar sobre o Amor, como forma de construirmos a sociedade ideal, o Reino de Deus, a partir dos nossos corações, deixou essas lições há 2 mil anos. Basta que nós, que tomamos conhecimento, achamos coerente com a vida harmônica que queremos viver, fazer delas a nossa prática cotidiana.
Encontrei um texto sobre Jesus que pode ser fictício, mas que se ajusta ao pensamento e comportamento dEle. Colocarei aqui para nossas reflexões...
No caminho do Amor...
Em Jerusalém, nos arredores do Templo, adornada mulher encontrou um Nazareno, de olhos fascinantes e lúcidos, de cabelos delicados e melancólico sorriso, e fixou-o estranhamente.
Arrebatada na onda de simpatia a irradiar-se dele, corrigiu as dobras da túnica muito alva; colocou no olhar indizível expressão de doçura e, deixando perceber, nos maneios do corpo frágil, a visível paixão que a possuíra de súbito, abeirou-se do desconhecido e falou ciciante:
-Jovem, as flores de Séforis encheram-me a ânfora do coração com deliciosos perfumes. Tenho felicidade a teu dispor, em minha loja de essências finas...
Indicou extensa vila, cercada de rosas, à sombra de arvoredo acolhedor, e juntou:
-Inúmeros peregrinos cansados me buscam a procura de repouso que conforta. Em minha primavera juvenil, encontram o prazer que representa a coroa da vida. É que o lírio do Vale não tem a carícia dos meus braços e a romã saborosa não possui o mel dos meus lábios. Vem e vê! Dar-te-ei leito macio, tapetes dourados e vinho capitoso.... Acariciar-te-ei a fronte abatida e curar-te-ei o cansaço da viagem longa! Descansarás teus pés em água de nardo e ouvirás, feliz, as harpas e os alaúdes do meu jardim. Tenho a meu serviço músicos e dançarinas, exercitadas em palácios ilustres...
Ante a incompreensível mudez do viajante, tornou súplice, depois de leve pausa:
-Jovem, porque não respondes? Descobri em teus olhos diferente chama e assim procedo por amar-te. Tenho sede de afeição que me complete a vida. Atende! Atende!...
Ele parecia não perceber a vibração febril com que semelhantes palavras eram pronunciadas e, notando-lhe a expressão fisionômica indefinível, a vendedora de essências acrescentou um tanto agastada:
-Não virás?
Constrangido por aquele olhar esfogueado, o forasteiro apenas murmurou:
-Agora não. Depois, no entanto, quem sabe?...
A mulher, ajaezada de enfeites, sentindo-se desprezada, prorrompeu em sarcasmos e partiu.
Transcorridos dois anos, quando Jesus levantava paralítico, ao pé do Tanque de Betesda, venerável anciã pediu-lhe socorro para infeliz criatura, atenazada de sofrimento.
O Mestre seguiu-a sem hesitar.
Num pardieiro denegrido, um corpo chagado exalava gemido angustioso.
A disputada mercadora de aromas ali se encontrava carcomida de úlceras, de pele enegrecida e rosto disforme. Feridas sanguinolentas pontilhavam-lhe a carne, agora semelhante a esterco da terra. Exceção dos olhos profundos e indagadores, nada mais lhe restava da feminilidade antiga. Era uma sombra leprosa, de que ninguém ousava aproximar.
Fitou o Mestre e reconheceu-o.
Era o mesmo mancebo nazareno, de porte sublime e atraente expressão.
O Cristo estendeu-lhe os braços, tocados de intraduzível ternura e convidou:
-Vem a mim, tu que sofres! Na Casa de Meu Pai, nunca se extingue a esperança.
A interpelada quis recuar, conturbada de assombro, mas não conseguiu mover os próprios dedos, vencida de dor.
O Mestre, porém, transbordando compaixão, postergou-se fraternal, e aconchegou-a, de manso...
A infeliz reuniu todas as forças que lhe sobravam e perguntou, em voz reticenciosa e doida,
-Tu?... O Messias Nazareno?...O Profeta que cura, reanima e alivia?!... Que vieste fazer, junto de mulher tão miserável quanto eu?
Ele, contudo, sorriu benevolente, retrucando apenas:
- Agora, venho satisfazer-te os apelos.
E, recordando-lhe a palavra do primeiro encontro, acentuou, compassivo:
- Descubro em teus olhos diferente chama e assim procedo por amar-te...
O Mestre do Amor sabia que tipo de amor aquela vendedora de essências estava desejando. Ele ficou calado e rejeitou o convite, sabia que o atendimento iria prejudicar o sucesso de sua missão, ensinar sobre o verdadeiro Amor. Somente no segundo encontro, quando a Vendedora não podia mais intercambiar o amor que ela costumava praticar, é que o Mestre se aproxima, a acolhe nos braços e mostra a face do Amor que Ele vem ensinando.
Serve muito bem para nós do século 21 que ainda vivemos cercados de pessoas que querem comercializar essa forma de amor. Devemos fazer bem esse discernimento entre o amor condicionado a qualquer coisa, geralmente material ou afetiva como demonstrava a Vendedora, e o Amor Incondicional que deve ser aplicado a todas as pessoas, até aquelas que nos injuriam e procuram fazer o mal.
Sei que é difícil essa prática, rejeitar o amor afetivo, carnal, que traz prazer sexual, quando observamos nele algo que prejudica a essência do Amor Incondicional. Mais difícil ainda, perdoar o mal praticado contra nós ou pessoas do nosso círculo de Amor, e, paradoxalmente, continuar praticando o Amor Divino com todos ao redor, principalmente os mais necessitados e que inclui, necessariamente, os nossos agressores.