Reflexões tomando como base o pensamento da professora Lúcia Helena Galvão, divulgado em seu “Diálogo fictício sobre Deus em O Livro dos 24 Filósofos”, publicado no Youtube em 01-01-2021 e colocando as minhas próprias interferências quando considerar conveniente, e deixando aos leitores espaços para demais considerações.
Deus: uma unidade gerando uma unidade, refletindo em si mesmo a única chama.
Vejamos como é interessante, “o que há acima, há abaixo”, dizia o princípio da correspondência lá no Caibalion. Aqui a gente pode perceber “a chama”, provavelmente em tantas outras tradições, deve estar se referindo à consciência. Ou seja, uma unidade, a unidade do Espírito, gerando outra unidade, que é a unidade da matéria. Porque no contraste existe a consciência. Pode-se perceber que a essência é. O que a unidade é. Quando ela gera a dualidade é como se Deus se olhasse no espelho. Como se batendo duas pedras para gerar fogo. Do contraste entre esses dois planos nasce a consciência do que é o Todo, do que é o Uno. De como podemos chegar a ele. Aí nasce o contemplador. Na mitologia grega nascem as musas. Em toda a mitologia universal nasce o homem. Ele que é capaz através do desenvolvimento da sua consciência perceber espírito e matéria. O transcendente e o imanente. O físico e o metafísico.
Então, a chama é a consciência que desperta em seus planos mais elevados. Do choque entre essência e existência. Em determinado momento a gente saiu da mera sobrevivência, elevamos a nossa consciência e chegamos a perceber: “Opa! Será que eu tenho mais do que um corpo físico?”. “Será que existe algo em mim que talvez esteja acima e além desse corpo?”. Começa a haver esse umbral do material. Começa a haver um umbral dos nossos planos manifestados delimitados pelo espaço-tempo. Começamos a desconfiar da Essência, desconfiar da eternidade. Ou seja, a chama surge na manifestação do universo, na dualidade primordial. A chama surge para o homem quando ele começa a desconfiar que nele há mais do que matéria. E no choque entre dois planos, o conhecido e o imaginado, o vislumbrado, começa a nascer uma consciência reflexiva, transcendente, que é capaz de entender melhor a existência.
Estamos aqui para enxergarmos essa chama em nós, e deixar a matéria num determinado momento. Nós descemos na matéria e conhecemos esse mundo. Nasce a consciência reflexiva, temos um contraste entre o plano do ser e do existir. Em determinado momento talvez voltemos para casa, para esse plano do ser. É o que muitas das tradições antigas dizem. Levando a memória do que nos foi permitida adquirir na existência. Descemos, aprendemos e voltamos para casa. Se nós não fizermos isso é sinal de que não fizemos nada. Se não descemos ao mundo e através das coisas passageiras do mundo aprender algo de definitivo, algo de sólido, algo de real que o tempo e o espaço não tiram de nós; se não tiramos a essência da vida manifestada para nos tornarmos um pouco melhores através dessa essência; conquistar um pouquinho de sabedoria; se nenhuma gota conquistarmos, é sinal de que nós não fizemos nada ainda. A vida está toda por viver. A vida que tem muito pouco a ver com o tempo, esse cronometrado do relógio.
Então, uma unidade gera outra unidade, dois planos. E no choque desses dois planos nasce a Consciência.
É confuso alcançar a compreensão desse mecanismo de uma unidade criar outra unidade. Pois nosso raciocínio é muito concreto: uma pedra não pode criar outra pedra. Mas se essa unidade é Deus... se essa pedra é Deus... então a unidade cria a diversidade, senão a unidade cria outra unidade, que cria outra unidade e tende ao infinito. Esses dois planos criados não podem ser entre unidade e unidade... tende ao infinito. A não ser que a outra unidade formada seja diferente, contenha a diversidade. Na unidade original não existe necessidade de amadurecimento da consciência, pois é a consciência plena de Deus. Na outra unidade formada (com diversidade) é que deve surgir da evolução o germe da consciência. Daí porque se diz que Deus cria espíritos simples e ignorantes, o princípio inteligente.
Ainda continua inalcançável a origem de Deus. De onde vem essa unidade de consciência completa e sabedoria suprema para criar outras unidades com diversidades em tantos universos quanto queira a sua imensa inteligência? E essas unidades com diversidades podem um dia alcançar o mesmo nível da unidade original? Acredito que não, pois a unidade original continua a criar a todo momento diversidades na mesma unidade criada, com consciências que vão ser formadas, que precisam de amadurecimento. Nossa rica ignorância e pobre sabedoria esbarra nesse muro de interrogações e não me sinto em condições de escalar.