Era o dia 22-06-0026, sábado, às 11h (5a. hora). Jesus estava na Sinagoga que se encontrava apinhada de gente da cidade (incluindo sua mãe, irmãos e alguns discípulos) e da redondeza, sabendo que Ele, o suposto Messias iria falar.
Ele tomou o seu assento no púlpito e começou a cerimônia. Foi trazido um dos rolos da Lei (Torá), previamente escolhido pelo Mestre, inclusive o parágrafo selecionado. Joli, o arquissinagogo, assentiu com a cabeça e o silêncio se fez.
Jesus leu mentalmente as palavras indicadas no pergaminho e, depois de dirigir um olhar para os presentes, começou a ler.
“E vós sereis para mim um reino de sacerdotes, uma nação santa. Javé é nosso juiz... nosso legislador... nosso rei... Ele vai nos salvar... Javé é meu rei e meu Deus... Ele é um grande rei sobre a Terra. A benevolência recai em Israel... bendita seja a glória do Senhor porque Ele é nosso rei.”
Agora viria o momento culminante: a “lição final”, um discurso, geralmente breve, em que o pregador expunha suas ideias sobre a passagem que acabara de ler. Seria lido em hebraico e um tradutor passava para o aramaico, a língua popular. O Mestre quebrou o silêncio e disse:
“Eu vim para proclamar o estabelecimento do reino de meu Pai...”
O tradutor traduziu corretamente. Ouve certo sussurro com a última frase: “o reino do meu Pai”. Quem ele estava pensando que era? O Mestre ouviu, mas continuou.
“Este reino é composto da alma dos judeus e gentios, ricos e pobres, homens livres e escravos... porque o meu pai não tem favoritos... Seu amor e misericórdia são para todos...”
O tradutor foi estimulado a seguir, mas mudou o significado da declaração:
“Este reino abrange apenas a alma dos judeus... Seu amor e misericórdia são para todos”.
Jesus hesitou, Ele entendeu perfeitamente, mas continuou com o discurso.
“O Pai Celestial envia Seu Espírito para ser derramado na mente dos seres humanos... e quando eu tiver terminado a minha obra na Terra...”
O tradutor voltou a deturpar o que foi dito pelo Mestre...
“... para que se derrame na mente dos judeus...”
Jesus levantou a mão esquerda e parou a versão mal-intencionada do tradutor. E educadamente, mas com firmeza, pediu para ele retornar ao seu lugar. O tradutor corou de vergonha e se retirou. Joli, o responsável pela Sinagoga também empalideceu. Ambos estavam em conluio para estragar as exortações de Jesus, mas não tiveram sucesso. Naquele dia, exatamente, começaram os problemas de Jesus com a casta sacerdotal. O Mestre tomou as rédeas da situação e prosseguiu, mas em aramaico.
“...E quando eu tiver terminado minha obra na Terra, o Espírito da Verdade também será derramado sobre a carne.”
Joli passou de pálido para vermelho de raiva. Alguns notáveis murmuravam: “Isso não foi ortodoxo, o palestrante não poderia falar diretamente em aramaico.) Mas o Mestre, impassível, seguiu do seu próprio modo.
“... Meu reino não é deste mundo... Meu reino não é deste mundo (repetiu)... O Filho do Homem não conduzirá exércitos nem fará batalhas para ganhar nenhum trono... Eu sou o Príncipe da Paz e a revelação do Pai eterno... Os filhos deste mundo lutam pelo estabelecimento dos reinos materiais. Bem, em verdade eu vos digo que os que me seguem entrarão no reino invisível e alado dos céus por suas decisões morais e seus triunfos espirituais... E lá encontrarão a alegria e a vida eterna.”
“Reino invisível e alado?” Isso não era o que pretendia João Batista ou o que apontavam as Sagradas Escrituras pelas bocas dos profetas. O “reino” em questão era algo físico e da Terra, governado pelo Messias, o “quebrador de dentes” e sucessor do rei Davi. Os murmúrios de desaprovação foram gerais. Mas o Mestre continuava...
“Se buscai o reino de meu Pai, todo o resto vos será dado por acréscimo... E eu vos advirto: para entrar nesse reino é preciso que o façais com a confiança cega de uma criança... caso contrário, não sereis admitidos...”
A desaprovação foi aumentando. Joli e os notáveis se revolviam, nervosos, em seus assentos. Mas o Mestre estava disposto a chegar até o final.
“Não vos deixeis enganar... não prestais atenção aos que asseguram que o reino é aqui e ali... o reino que vos falo não é visível para vós. Na verdade, ele está em todas as partes, mas não é deste mundo... Na realidade, está dentro de vós, mas não o sabeis... Eu vim para tirar a venda dos olhos... Estou aqui para anunciar que o Pai existe, mas é muito mais do que imaginais... João Batista tem batizado com a água para a remissão dos pecados, mas eu vos digo que para entrar no reino dos céus sereis batizados com o Espírito da Verdade. No reino alado não haverá judeus ou gentios.”
Foi a gota d’água. E a assembleia, estimulada pelos notáveis, interrompeu o Mestre aos gritos de blasfemo e louco. Maria, a mãe, começou a chorar. Os discípulos se olhavam, pareciam aterrorizados. Jesus se impôs...
“E eu vos adianto que, em breve, estarei sentado com meu Pai, em Seu reino... Este novo reino alado é semelhante a uma semente que cresce em uma terra fértil. Necessita de tempo para se desenvolver... o mesmo acontece com o que estou anunciando... E chegará o dia em que se cumprirá o mandato do Pai: e sereis perfeitos como Ele é perfeito. Porém não aqui nem agora. Eu vim ao mundo para revelar esta boa-nova. Eu não vim para aumentar a carga... Não peço nada em troca... Basta confiar no Pai... Vosso destino é glorioso, mas não o sabeis... Não penseis em exércitos marchando... que não é esse o plano do Pai... Não penseis em derrocadas, ou em revoltas, nem mesmo em quebrar o jugo do cativeiro... Falo de outra coisa... Eu vos digo, meu reino não é deste mundo... Esse reino é eterno. Em seu momento chegareis à presença do Sagrado. Vós sois seus filhos, não vos esqueceis... E uma última questão: eu não vim para reclamar aos justos senão para os confusos.”
Ponto final. O Filho do Homem se retirou do púlpito e abriu passagem saindo.
Este texto foi adaptado do livro de J.J.Benitez, “CAVALO DO TROIA VOL. 9”, que merece ser lido na totalidade.