Texto recebido através dos grupos de rede social na net que merece ser reproduzido aqui para nossa reflexão.
O tempo...O tempo!
Sentia-me num quarto de hospital...Sombra espessa anuviava-me o pensamento...férreos dedos invisíveis constrangiam-me o coração.
Seria a aproximação do fim? Minha consciência aturdida semelhava-se a uma avezita a esvoaçar numa furna povoada de horripilantes serpentes. De repente, num milagre de alegria e luz, vi-me lépido, a distância da câmara sombria, como se houvesse despido a pesada túnica dum pesadelo.
O crepúsculo anunciava rápido o céu, e eu por mais que ansiasse retomar o caminho do refúgio doméstico, a fim de anunciar a boa nova, não conseguia atinar com o rumo certo.
O vento fresco brincava por entre as ramagens perfumadas que respondia em doces acordes, como se ocultasse harpas intangíveis, enquanto a noite acendia novos astros.
E eu seguia sempre, colhido em êxtase intraduzível. Meu corpo fizera-se leve e ágil como nunca, mantendo o impulso natural da marcha, eu sentia um inexplicável magnetismo a maneira de ave atraída para cima, presa, porém simultaneamente ao ninho terrestre.
Aliviado de todas as preocupações, como se houvera sorvido um brando anestésico, fruía inefável solidão, quando vislumbrei indescritível claridade. Só então percebi que não me achava isolado na viagem maravilhosa.
Passei a enxergar longa procissão de vultos silenciosos, entre os quais me perdia. Alguns se destacavam nítidos e tão livres quanto eu mesmo; outros porém se agarravam uns aos outros como se temessem o desconhecido...mulheres de rostos semivelados sustinham companheiros que me pareciam heróis, repentinamente enlouquecidos, tal a expressão de beleza e de pavor que se lhes estampava no semblante inquieto, ao passo que anciãos, aureolados por tênues reflexos de luz colorida, carregava jovens dormentes, lembrando pais orgulhosos e felizes, que amparassem filhos enfermos.
Desejei gritar minha ventura e confundir-me entre os viajores, aos quais me sentia inesperadamente irmanado, mas, veludosa mão selou-me os lábios ansiosos, enquanto erguendo os olhos, divisei ao meu lado a presença de simpático velhinho, que me abraçava risonho, informando:
- É inútil. Sigamos!
Onde ouvira aquela voz grave e cristalina? Em que sitio convivera com venerando companheiro, cuja aproximação me banhava de ondas de paz indefinível?
Não tive tempo de refletir, porque de repente soberbo espetáculo se descerrou à nossa vista. A brilhante avenida desembocou numa praça majestosa ladeada de torres translúcidas. Nesse espaço magnífico, eram recebidas multidões de peregrinos que afluíam ao interior, tomados de reverência e espantos mudos.
A beleza ambiente apontava para uma radiosa tribuna caprichosamente esculpida lembrando um lírio enorme a elevar-se da base. Viajantes anônimos para mim, chegavam aos magotes, penetrando todos os espaços. A grande maioria postergou-se de joelhos, e eu mesmo, deixei que o pranto me corresse dos olhos, recordando o lar terrestre de que me havia distanciado.
Músicas enchiam todo o ambiente como se fossem flautas, violinos ocultos, manejados por artistas invisíveis. Enquanto a música enchia o ar, divisei láctea nuvem envolvida por halo dourado que aos poucos se transmutava na figura respeitável de um sacerdote que nos estendia os braços.
Quem seria singular personagem? Hierofante de mistérios remotos? Tentei dirigir a palavra ao ancião que me acompanhava mais de perto, entretanto que tão presto se materializara, ante o nosso intraduzível assombro, começou a falar em tom comovido.
- Irmãos, que vos reunis neste santuário repousante, procurando a paz que vos falta na terra, descerrai a mente aos mananciais inesgotáveis da Bondade infinita...
Eu confuso como estava, hipnotizado pelas palavras que penetraram em nossos corações, guardei no final, mensagens objurgatórias da elocução como que nos havia acordados para a grandeza da vida.
Extrema palidez marcava todos os semblantes. Refleti então nos dias longos, que deixara passar sem as bênçãos de um sorriso sequer aos infelizes companheiros da estrada.
Revi o pretérito descuidoso e risonho, e, no lance de um simples minuto, minh’alma recolheu a visão de todos os infortunados que peregrinaram em meu roteiro, sem uma réstia de esperança...
Não pude resistir passivamente, a angústia que me tomara o íntimo. De chofre, levantei-me e saí. O mundo distante, me chamava imperioso...por mais que desejasse prosseguir na catedral de neve translúcida, não conseguia. As mensagens daqueles sinos desconhecidos abalavam-me a consciência. Devia ser a voz da própria vida perguntando pelos momentos que perdera.
Ninguém me deteve.
A breve trecho, surpreendo-me em pranto convulsivo no seio infinito da noite, como se me despenhasse lentamente, dos cimos de um Palácio à profundeza de um insondável abismo.
O tempo...O tempo!
De improviso, eu me encontrei no quarto, em que me aguardava o transe final.
Abri dificilmente os olhos e contemplei os rostos piedosos que me vigiavam o leito.... Quis falar e gesticular, descrevendo tudo quanto vira e ouvira no castelo revelador do plano espiritual, mas os meus braços se mantinham imóveis e minha boca estava hirta.
Tinha eu agora esclarecimentos que não podia transmitir, notícias que era incapaz de desvelar e sonhos que não me era dado contar...
" Ó Senhor! - Pensei- poupa-me ainda...
Mas o mesmo ancião do caminho iluminado fez-se visível e repetiu as palavras:
-É inútil. Sigamos!
Obscureceu-me o raciocínio, como se pesada sombra baixasse do Alto sobre mim, e quando me reconheci desembaraçado da carne, iniciei outra caminhada, chorando, chorando amargamente.
(Uma experiência de morte EM) J.A. Nogueira.
Psicografia de Chico Xavier.
Um texto elucidativo da nossa vida que se passa entre os dois planos, material e espiritual. Como imaginamos frequentemente que só existe o plano material, a aproximação da morte do corpo físico nos leva ao desespero, sem considerar que é apenas a passagem que todos teremos de fazer, de volta ao mundo espiritual. Foi por isso que o Cristo disse em suas lições, que veio matar a morte. Ele mesmo provou isso se mostrando entre nós após três dias da morte do seu corpo físico.