Quem poderia imaginar que Jesus, o Mestre da paz, o Embaixador do amor, o Filho mais próximo do Pai, promoveria um rompimento com sua família biológica? Esta é uma narrativa totalmente fora dos padrões do Evangelho convencional que me traz uma forte sintonia com a mensagem que ele deixou. Mesmo eu não tendo argumentos suficientes para mudar meu bloco paradigmático de ver o mundo e com Jesus no centro, como meu orientador, Mestre e Irmão mais velho, tenho que colocar esses argumentos agregados aos meus paradigmas já bem estabelecidos.
Mas agora irei descrever à minha maneira, o rompimento familiar que o Mestre provocou na sua volta à Nazaré, para justificar com sua família biológica os motivos de seu comportamento tão fora das perspectivas dos parentes de sangue.
Neste relato, feito por J.J.Benítez, no seu livro “Cavalo de Troia, volume 9, apresenta Jesus chegando na casa de sua mãe, sem ser esperado, e convocando uma reunião com os parentes.
Vale ressaltar aqui os irmãos de sangue de Jesus, conforme esta narrativa. O mais velho depois do Mestre era Tiago, nascido no ano -3. Depois veio Miriam no ano -2. O quarto filho de José e Maria foi José, nascido no ano 1. Simão veio ao mundo no ano seguinte. Marta nasceu em setembro do ano 3. Judas, o rebelde, nasceu no ano 5. Amós nasceria em 9 de janeiro do ano 7 e faleceria em dezembro do ano 12. Ruth foi a caçula, nascida em 13 de março do ano 9 de nossa era.
Por volta do meio-dia os parentes que quiseram e puderam foram chegando, atendendo a convocação do Mestre.
Simão acabava de completar 24 anos. Era pedreiro de profissão e tinha problemas de obesidade, como Tesouro, sua esposa. Era um sonhador inveterado, mas não entendia o que queria fazer o seu Irmão. Limitava-se a viver, sem perturbar ninguém. As pessoas lhe apelidaram de Tartaruga, porque não fazia nenhum movimento sem pensar demoradamente antes.
Jacó, o pedreiro, que fora amigo muito próximo do Mestre na infância e juventude, foi o único a abraça-lo com entusiasmo. E lhe comunicou que Tiago havia declinado do convite.
O Mestre não respondeu. Seu rosto estava grave.
Era óbvio que Tiago não queria ver o irmão. E apoiaria o que a Senhora, sua mãe lhe dissesse.
Judas tampouco estava presente naquela decisiva reunião de família. Não houve tempo suficiente para que ele fosse avisado.
A família foi se acomodando ao redor de uma mesa de pedra junto a qual a Senhora Maria, mãe de Jesus, recebeu a visita de um ser luminoso anunciando a concepção e o nascimento do Mestre. Mas a mãe parecia ter se esquecido daquele evento milagroso.
Jesus foi direto ao que interessava. E, conforme ele ia falando, todos se mostravam atentos...
- Não tenho a intenção de magoar ninguém – disse delicadamente, mas com firmeza. – Estou prestes a inaugurar minha carreira como educador e como um enviado do Pai, e somente aspiro fazer a Sua vontade. Por isso, insisto, é que me ajusto sempre para espelhar essa vontade divina. É por isso que tento selecionar 12 homens que me acompanharão nos bons e maus momentos.
Maria, a Senhora, mãe, franziu o cenho, não gostava daquilo.
- A escolha desses 12 homens é a vontade de meu Pai. E eu sempre cumpro a Sua vontade.
O silêncio era denso. Parecia chumbo.
- A família deve ficar afastada, para sua própria segurança.
Nenhum dos presentes captou a sutileza do Mestre. Ninguém, naquele momento, podia imaginar o que estava por vir. Jesus não se estendeu muito mais, e acrescentou, com grande ternura:
- Não pretendo que aceiteis cegamente a minha mensagem...
Fez uma pequena pausa. A Senhora, mãe, olhou para ele, desafiadoramente. O restante ficou ouvindo, confuso.
- Mas, pelo menos, não me afasteis de seus corações. Vós sois a minha família, e isso nunca vai mudar. Sempre estarei convosco... (Essa passagem tocou o meu coração, e fez eu parar o relato aqui e procurar digitar o que invadiu o meu coração, para publicar amanhã)...
O Mestre terminou. Estava sofrendo. Alguns se retiraram, desconfortáveis. Todos se refugiaram naquele silêncio de chumbo. Mas, a Senhora, mãe, tomo a palavra e falou em nome do resto. Ninguém fez um movimento sequer. Ninguém disse que sim, mas tampouco disse que não. E Maria, sem hesitar, começou a expor as suas condições. Se Jesus não as aceitasse, não haveria trato; ninguém o seguiria. Simplesmente: ele seria deixado sozinho.
- Primeiro: Tiago e Judas, os irmãos, seriam admitidos como discípulos. Além disso, seriam a sua mão direita.
O Mestre ouviu atentamente.
- Segundo: Jesus teria que esquecer dessas ideias blasfemas e pretenciosas sobre o Pai. Teria que se conformar com a tradição e com a Lei. Ele era o Messias prometido e teria que assumir essa responsabilidade. Teria que cumprir a profecia e conseguir a libertação de seu povo.
Jesus baixou os olhos. Ele disse: não havia solução...
- Terceiro: se você foi capaz de transformar água em vinho, então pode curar sua irmã, Ruth, que se encontra doente e levar Israel ao auge de sua glória. Esse é o seu destino. Se você aceitar essas condições, a família em bloco o acompanhará e o protegerá.
A reunião não durou mais do que 45 minutos. Nenhum comentário. As posturas eram inamovíveis. Jesus fora rejeitado, primeiro na Sinagoga e agora em sua casa, pelo seu próprio sangue.
O Mestre, pálido e em silêncio, se levantou, pegou sua bolsa de viagem, e se encaminhou para a porta de saída.
Minutos mais tarde, das colinas ele contemplava a fumaça azul do amor que fugia de Nazaré... passou vários minutos com o olhar perdido sobre a aldeia e um par de lágrimas escorria pelo seu rosto. Foi um dia amargo...