Estamos acostumados a ver partos de crianças recém-nascidas, um, dois, três ou mais... Mas como pode acontecer um parto de adultos? Como pode adultos passar pelo canal do parto? Como podem se desenvolver num útero?
São questões como esta que Jesus uma vez ensinou a Nicodemos, um sacerdote judeu que queria saber como alcançar o Reino de Deus. Jesus disse que era necessário a pessoa nascer de novo. Nicodemos ficou encucado, como uma pessoa pode voltar ao útero de uma mulher para nascer de novo?
Jesus gostava muito de ensinar usando parábolas. Ele queria dizer que a pessoa devia deixar o comportamento de homem velho de lado e assumir a proposta de um novo homem; ou então queria se referir ao processo da reencarnação, onde o espírito que vai para o mundo espiritual com a morte do corpo físico, volta novamente ao mundo material através de um novo corpo (reencarnação) e assim passando naturalmente pelo canal do parto.
Vou procurar seguir a didática do Mestre para encontrar uma resposta a uma questão de complexidade maior do que aquela proposta por Nicodemos. Vejamos esta outra passagem: “A outro disse Jesus: Segue-me! Ele, porém, respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Mas Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o Reino de Deus (Lc 9:59-60).
Vamos a questão. Uma senhora, mãe de diversos filhos, todos adultos, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), com sequelas físicas e mentais, sem conseguir falar, raciocinar ou andar. Suas seis filhas mais próximas, assumiram um plantão de duplas para cuidarem de seu corpo, higiene, alimentação e medicamentos, evitar escaras e qualquer tipo de complicação. A doença de natureza degenerativa, progressiva e fatal, sem qualquer possibilidade de cura, a espera apenas do momento da morte. Os meses passam, os anos, o corpo da mãe definha e o psicológico das filhas vai desmoronando. Cada uma sofre no emocional um verdadeiro velório de pessoa “viva”. Querem fugir da situação, mas a consciência não permite. Estão prontas para morrerem uma após outra, preso aquele corpo atrofiado que se alimenta e joga fora os dejetos pelas mãos dos outros. Ela não tem consciência de liberar as filhas, de dar uma orientação que já dera no passado, de não querer viver numa situação dessa.
São essas filhas que foram ensinadas a respeitar e amar Jesus, como Mestre e Salvador, que agora chegam perto dEle e perguntam: Senhor, que devemos fazer? Acho que a resposta do Mestre é a mesma que Ele deu a cada dia que elas foram à missa aprender através dos padres: Segue-me! Imagino que a resposta delas seria a mesma da pessoa que queria sepultar seu pai: Senhor, permite primeiro nós irmos sepultar nossa mãe. Acredito que a resposta do Mestre ainda seria a mesma: Deixa aos mortos sepultar os seus próprios mortos!
Podemos até pensar em desumanidade de Jesus considerando a dureza dessa declaração. Mas Jesus não tinha o costume de ser desumano, mas tratava com as pessoas dizendo exatamente o que precisavam ouvir. Talvez a excessiva preocupação com o corpo da mãe fizesse com que o Reino de Deus que ele advogava como prioridade, deixasse de ser importante. Então, Jesus coloca as coisas nos seus devidos lugares. Qualquer coisa que esteja acima do Reino de Deus, deve ser repensada, mesmo que seja culturalmente aceita. Ninguém pode servir a dois senhores!
Com tais argumentos, a consciência de cada filha, onde está a lei de Deus, irá se iluminar para cada uma tomar a decisão mais coerente frente aos ensinamentos de Jesus, que a mãe tanto se esforçou para elas aceitarem desde a infância.
Finalmente, através das palavras de Jesus, nossa prioridade com o Reino de Deus deve exceder qualquer outra prioridade, mesmo as culturais e sociais. Isso fica mais claro quando Ele diz: “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o Reino de Deus (Lc 9:62).
Não seria o momento de haver o parto coletivo dessas filhas antes que todas morram no processo e que isso não é o desejo da mãe?