Pai, o tempo corre por minhas veias, escarlate como o sangue, queimando os últimos anos da minha vida. Estou perto de completar os 70 anos e agradeço por esta bela oportunidade de viver, de sentir e de conhecer toda a Tua criação, os meus irmãos, e principalmente a Ti, meu Criador, meu Pai.
Nada tenho a me queixar de Ti, como Pai, mas sim de mim, como filho. Sei que tenho todos os recursos para fazer convenientemente a Tua vontade, tenho os talentos que Tu me destes... e não foram poucos. No entanto, quando eu estiver em Tua presença física, sinto que serei punido, não poderei oferecer o que já tinha Te prometido... nada, a não ser lágrimas de vergonha!
A minha consciência, vestida da toga divina, aponta hoje para mim o dedo usado por Ti no ato da criação e sinto o coração apertado por contrações demoradas.
Não tenho justificativas para atenuar minhas faltas.
Como posso eu, vivendo tantos e tantos anos, com a saúde e inteligência capaz de entender e fazer o que Tu, quer Pai, e terminei me comportando sob o domínio do Behemoth, o monstro utilitário que criastes apenas para garantir a sobrevivência do meu corpo? E terminei obedecendo mais a ele do que a Ti?
Talvez eu esteja sendo um promotor rigoroso neste provável tribunal que enfrentarei brevemente... talvez eu tenha atenuantes para minhas penas.
Talvez eu tenha usado a verdade convenientemente, e não para alimentar a soberba do Behemoth.
Talvez eu tenha usado o amor convenientemente e não tenha deixado a avareza, a luxúria, a ira ou a inveja do Behemoth se manifestar como ele queira.
Mas porque não fui capaz de controlar a gula que me deixa sempre no sobrepeso e ameaçado de entrar na obesidade?
E principalmente, porque não controlei a preguiça do Behemoth, querendo ele sempre repouso para o corpo, me impedindo de ir para onde Tu me mandavas, Pai?
Meus talentos ficavam enferrujando, afogados nas minhas motivações amolecidas. A Tua vontade dentro da minha consciência, procrastinadas, quando não esquecidas...
Sou aquele filho da parábola do Mestre, que ao receber a ordem do Pai de cuidar da vinha, disse que iria, de imediato, mas terminou não indo em nenhum momento... como posso explicar esse mesmo comportamento para Ti, meu Pai?
Estou sendo convocado para a guerra espiritual que cada vez mais se espalha no planeta e aproxima de nós, a humanidade, o reino do Anticristo.
Tive a oportunidade de reconhecer esta guerra, de me engajar nas batalhas, mas falta a coragem para ir para a linha de frente, onde poderei sofrer as agruras dos inimigos.
Mas, estarei cumprindo o papel que Tu me destes as oportunidades de alcançar, no meio universitário, social, profissional?
Posso usar qualquer atenuante para justificar faltas tão graves?