Tem pessoas que quando partem deixam um grande vácuo e imensas saudades, uma espécie de professor que não se intimidava em puxar as orelhas de covardes e mentirosos. Este texto que reproduzo abaixo me fez pensar assim...
Em relação às eleições do próximo domingo, Allan prefere não raciocinar na clave da esperança ou desesperança. Mesmo depois das manifestações de 7 de setembro e do forte apoio demonstrado ao Presidente Bolsonaro por todos os lugares em que passa, o jornalista vê com preocupação o cenário eleitoral e acredita que a possibilidade de fraude é um perigo real. Para ele, a direita brasileira ainda padece com o despreparo para enfrentar um movimento revolucionário organizado com décadas de experiência e dois séculos de patrimônio intelectual e cultural acumulado.
– Não se enfrenta o Foro de S. Paulo e os globalistas apenas com bons sentimentos e bom patriotismo. O zelo patriótico não é suficiente para reverter um cenário em que você tem narcotraficantes, juízes, ministros dos tribunais superiores, tapinhas no rosto e “eu te ligo depois”.
Na visão do jornalista, os revolucionários podem fazer a fraude; podem encontrar uma saída burocrática para impugnar Bolsonaro; ou podem, em última distância, permitir a eleição de Bolsonaro, mas deixá-lo “tetraplégico”, destruindo a direita inteira e substituindo-a pela “direita permitida”.
Allan de Santos identifica um Cérbero – o cão de três cabeças guardião do inferno – no cenário político brasileiro. A esquerda estaria claramente dividida em três grupos, comandados respectivamente por Lula, Ciro e Temer. Todos esses blocos têm uma dívida a saldar com o Partido Comunista Chinês. Allan lembra que a presença da China comunista no Foro de S. Paulo é recente, e que o sonho de fazer uma União Soviética na América Latina – a chamada Pátria Grande – só se realizaria com o financiamento chinês ou globalista. É possível aproveitar esse cenário para fazer avançar o movimento conservador no Brasil – afinal, as cabeças de Cérbero às vezes entram em conflito umas com as outras. Com a disputa de poder entre Lula, Ciro e Temer, Bolsonaro poderá ganhar mais tempo e ampliar sua esfera de ação, inclusive com indicações à Suprema Corte.
– Mais do que vencer Bolsonaro, a esquerda e o estamento burocrático querem desfazer as inúmeras vitórias do conservadorismo no imaginário do povo brasileiro: a desconfiança das urnas e do sistema eleitoral, o fato de que o brasileiro entendeu que a estrutura do estado brasileiro não tem salvação, a total indiferença do povo aos “valores republicanos”. Pela primeira vez, as pessoas começaram a questionar o Estado de Direito moderno. Isso é uma grande vitória.
O responsável por essa esperança, inimaginável até poucos anos atrás, foi Olavo de Carvalho. Uma das coisas mais dolorosas da vida do exílio, para Allan dos Santos, é a saudade do amigo e mestre, que nos deixou em janeiro.
– Era muito mais fácil quando o Olavo estava aqui. Todo dia eu ia encher o saco dele, nem que fosse pra ver vídeo de tigre (risos). Nas segundas-feiras, era sempre uma aula, e a gente falava sobre tudo: política, filosofia, história, metafísica, literatura, dialética simbólica...
Ao falar do professor, o exilado não contém a emoção.
– Isso prova que eu sou um dos piores alunos dele. Ele sempre dizia para não chorar! Mas ele também disse, pouco antes de morrer, como um último desejo: Permaneçam unidos. Ajudem uns aos outros. Não deixem ninguém para trás.
– Paulo Briguet é escritor e editor-chefe do BSM.