Meu Diário
19/11/2022 00h01
ASCENÇÃO DOS PORCOS – 1-JAVAPORCO

            Vejamos uma fábula da floresta, por Caio Coppola, publicada há 3 semanas no Youtube, que considero uma pérola de criatividade dentro da verdade coberta pela mentira e que vou apresentar dividida para não ficar muito cansativa.



            Seja bem-vindo a mais um boletim Coppola de pura fantasia onde qualquer semelhança com a coincidência é mera realidade.



            Hoje eu quero narrar um conto da floresta, uma fábula sobre a ascensão dos porcos ao poder.



            Há algum tempo, num lugar não tão distante, havia uma floresta abençoada e exuberante. Sua fauna era diversa, sua flora incomparável. O seu solo era tão fértil que se plantando tudo dava. Enfim, era uma terra gigante e garrida pela própria Natureza.



            Mesmo assim, apesar de toda essa riqueza, alguns animais sofriam, isso porque as melhores árvores estavam todas tomadas pela elite dos pássaros, empoleirados nos galhos mais altos.



            Essas aves viviam protegidas dos perigos da terra e tinham acesso aos frutos mais saborosos, privilégios que elas raramente compartilhavam com os animais do chão.



            Naquela época reinavam os tucanos. Esnobes, eles viviam reunidos nas ruínas de uma construção, nunca desciam de cima do muro.



            Essa atitude presunçosa de não se misturarem com o resto dos bichos, gerava certa animosidade entre os animais, mas os tucanos ofereciam uma grande vantagem aos seus súditos. Por voarem mais alto e por enxergarem mais longe, eles podiam alertar toda a floresta quando houvesse perigo. A ameaça mais comum eram as hordas de suínos brutos e malcheirosos que saqueavam tudo por onde passavam deixando um rastro de destruição.



            “Cuidado com o Javaporco!”



            “Cuidado com o Javaporco!”



            Piavam os tucanos lá do alto, espalhando terror entre os animais que se escondiam nas tocas, nos troncos, nas copas das árvores e onde mais pudessem até que cessasse o vandalismo.



            Os ataques eram rotineiros e seguiam esse roteiro. Os tucanos avisavam, a bicharada se escondia, os porcos pilhavam e depois tudo voltava ao normal.



            Até que um dia, algo diferente aconteceu. Ao invés de devastar o terreno, o chefe Javaporco se pôs a discursar provando que a palavra é mais poderosa que a violência.



            “Companheiros animais, não tenham medo, saiam dos seus esconderijos, olhem para mim, eu sou como vocês, minhas patas são sujas de barro, minhas costas pesam nas caminhadas e a minha boca não alcança o fruto doce nas árvores. Tudo que desejo é uma floresta mais justa em que os animais de quatro patas sejam tratados como os animais de duas asas, esses bicudos aí que nos desprezam, que nos olha de cima para baixo”.



            A estratégia do chefe Javaporco funcionou. Os bichos foram se desentocando e se aproximando, até a serpente ficou encantada com a fala sedutora e a voz cavernosa do grande suíno.



            Quando um bicho asqueroso como o Javaporco quer alcançar alguma meta do seu interesse, não se incomoda de dizer mentiras com palavras bonitas. Os bichos que não têm maldades no coração, imagina que ele esteja dizendo a verdade, pois eles agem com a verdade.



Esses bichos não conhecem a história do escorpião que pediu carona ao sapo para cruzar o rio, pois imaginava que o escorpião não iria lhe ferroar, pois senão morriam ambos. Engano fatal, pois no meio da travessia sentiu a picada mortal e o escorpião respondendo para ele, que não podia evitar ser o que era, mesmo que isso lhe levasse também a morte. É o que acontece com o Javaporco, pois sabe que está mentindo e sabe que o salário do pecado é a morte, mas mesmo assim não pode evitar a sua índole.



            Cabe a nós não cairmos nas falsas narrativas do Javaporco e seus comparsas, nem ao menos devemos ouvir suas bravatas, pois já sabemos que é o pai da mentira, e portanto, para que ouvi-lo?



Publicado por Sióstio de Lapa em 19/11/2022 às 00h01


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr