Nós, cristãos, sabemos da existência do mundo material e do mundo espiritual; sabemos da existência do corpo físico e da alma; sabemos que os primeiros são passageiros e os segundos são eternos.
Este nível de conhecimento que foi bem ensinado por Jesus quando Ele disse que veio matar a morte, foi para reforçar a ideia que o espírito, a alma, não morre jamais, apenas se desloca do mundo material para o mundo espiritual.
Acontece que nós, cristãos, reconhecemos que o Mestre nunca iria nos mentir por qualquer motivo, e que Ele mesmo demonstrou essa verdade quando voltou do mundo espiritual e tornou a conviver conosco, desta vez em outra apresentação na sua forma de existência.
Com tudo isso, continuamos presos à matéria com um apego tão forte que parece fazer esquecer tudo que nos é ensinado, que com a morte do corpo físico passamos a existir no mundo espiritual e levando conosco todos as virtudes que praticamos aqui, como se fosse uma poupança virtuosa para o aprimoramento do nosso espírito.
Para algumas pessoas, Deus aplica um aprendizado extra, ou talvez uma prova, para saber se elas, que se mostram tão assíduas nos templos religiosos de todos os matizes, católicos, protestantes ou espíritas, elas estão realmente convictas das duas dimensões do mundo em que vivem.
Talvez Deus queira com esse teste, tanto saber o quanto foi aprendido e o quanto falta ainda aprender. Mas aprender não só na teoria, como se tivesse recitando uma ladainha, uma reza, sem incorporar dentro do seu paradigma de vida o conteúdo do aprendizado. Quanto mais a pessoa evita incorporar na sua consciência essa realidade do mundo material e da vida eterna do espírito, mais sofrimento ela passará nessa passagem da vida na matéria para a vida no mundo espiritual.
São essas pessoas que vivem como lagartas, se arrastando pelas areias, pelas folhas, embelezando o seu corpo viscoso com a clorofila dos vegetais. Quando esse corpo para de funcionar, se transforma em casulo e se prepara para voltar ao barro de onde veio, as demais lagartas ficam ao seu redor, chorando desesperadas por aquele corpo viscoso, e até nojento, que não mais será visto por elas. Coitadas, não percebem que do casulo que se dissolve na terra, voa para os céus uma bela borboleta, que não precisa mais se arrastar ou comer folha.
E mais dramático ainda, essas tantas lagartas que estão ali a lamentar o desaparecimento do corpo da sua amiga ou parente para sempre, não percebem que todas elas também irão pelo mesmo caminho, com liberdade para deixar de se arrastar pela terra e em condições de voar pelos ares.
Elas passam por um duplo sofrer: sofrem sabendo de uma perda que não existe, e sofrem por não saber da existência em outra realidade.