Colocarei hoje um texto da literatura da irmandade de Alcoólicos Anônimos, que faz referência a um valor da espiritualidade que é trabalhado principalmente dentro da doutrina espírita.
"Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos".
OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES
Não importa quanto alguém deseja tentar, precisamente, como pôde alguém entregar sua vontade e sua vida aos cuidados do Deus que ele pensa existir? Na minha procura por uma resposta a esta questão, tornei-me consciente da sabedoria com que o Passo foi escrito: que este é um Passo em duas partes.
Podia ver que em meus dias de bebedeira, houve ocasiões em que deveria ter morrido, ou ao menos ser machucado, mas isto nunca aconteceu. Alguém ou alguma coisa estava olhando por mim. Escolhi acreditar que minha vida sempre esteve sob os cuidados de Deus. Somente Ele controla o número de dias que me serão concedidos até a morte física.
O assunto da vontade (vontade própria ou vontade de Deus) é a parte mais difícil que existe no Passo para mim. Somente após experimentar emocionalmente uma imensa dor pelas tentativas fracassadas de me firmar, é que posso estar pronto a entregar a minha vida à vontade de Deus. Rendição é como a calmaria após a tempestade. Quando minha vontade está conforme a vontade de Deus, existe paz dentro de mim.
Este passo aplicado pelos Alcoólicos Anônimos que tentam controlar a doença do alcoolismo, que é considerada a patologia da vontade, pode ser aplicada em diversas esferas da nossa vida.
Fazer nossa vontade que é a força motivadora que emerge dos nossos instintos é a queda de braço que existe na consciência, quando elegemos a prioridade de fazer a vontade de Deus.
Eu não sou alcoólico, mas possuo uma série de outros vícios ou defeitos que pretendo controlar, pois sei que está contrário a vontade de Deus com relação ao meu corpo, mas não consigo. Um desses defeitos que posso colocar aqui como exemplo da minha falibilidade, é o exercício da gula. Estou sempre com sobrepeso, ameaçado de entrar na obesidade, apesar do esforço cotidiano para não aumentar o peso. Como estratégia, aproveito o período da quaresma para reforçar o lado espiritual e fazer um controle mais rígido e diminuir o peso de forma significativa. Tenho obtido sucesso em alguns anos, mas este ano, já estou perto do término da quaresma e percebo uma flagrante derrota nos meus propósitos, de fazer a vontade de Deus, passo a fazer a minha vontade. Parece que o cérebro desenvolve uma estratégia de anular a vigilância da consciência, pois no início da alimentação parece que essa estratégia é esquecida. Talvez a denúncia que faço agora sirva de motivação para a força espiritual reagir e que eu consiga alcançar pelo menos o nível do peso dos anos anteriores.
Parabenizo os alcoólicos que conseguem fazer a vontade de Deus e subjugar o desejo de seus instintos em procurar fazer a sua vontade material, considerando que o apelo do álcool é bem mais forte que o apelo do alimento.