Da mesma forma que examinamos qualquer paciente na clínica médica, também iremos examinar o paciente psiquiátrico, adicionando as funções mentais e psicopatologia.
A psicopatologia como assunto central não iremos abordar aqui em profundidade, pois será tema das primeiras aulas na disciplina de psiquiatria.
Aqui iremos ver um cenário mais geral, procurando ver aspectos da normalidade alterada para identificar a psicopatologia.
Vamos ver três funções mentais de forma superficial, introdutória: a consciência, a atenção e a orientação.
O diagnóstico psiquiátrico é feito sobre o transtorno mental identificado, com a leitura que é feita de todas as funções mentais para ver em qual transtorno ele está inserido.
Não existem sinais ou sintomas patognomônicos em psiquiatria. Temos que ver o que é considerado normal (falar com Jesus Cristo todos os domingos na missa) para saber o que é considerado patológico (se considerar Napoleão e que está pronto para voltar ao campo de batalha).
Temos que considerar os padrões culturais da comunidade em que estamos atuando para observar se existe desvio da norma de forma significativa, que justifique procurarmos o tipo de transtorno mental que está ocasionando isso.
No conceito de normalidade devemos considerar a ausência de doença, o comportamento ideal para a cultura que o indivíduo está inserido, dentro da norma estatística, que leve o paciente sentir um bem-estar funcional (diferente da mania e hipomania, onde o paciente sente o bem-estar, mas não está funcional). Verificar também se o processo de evolução da pessoa está dentro da normalidade, pois a esquizofrenia quebra esse processo de normalidade por volta da adolescência ou um idoso que pode apresentar déficits cognitivos ou psicomotricidade disfuncionais. O paciente pode perceber que existe algo de anormal no seu afeto e/ou comportamento, evocando a subjetividade, que tem uma doença em curso. Isso não é observado na esquizofrenia, por exemplo, pois seus delírios e alucinações são considerados como reais, que não existe doença causando esses sintomas. A ocorrência de sintomas pode implicar na perda da liberdade do paciente, ter medo de sair de casa por está se sentindo perseguido. Tudo isso pode nos mostrar a capacidade operacional do paciente dentro do seu contexto.
Avaliando as funções mentais propriamente ditas, veremos inicialmente o nível da consciência, se o paciente está alerta, sonolento, obnubilado ou em coma, podendo ser usada, neste caso, a escala de Glasgow, verificando a abertura ocular, a resposta verbal e a resposta motora. Ver o nível de contato do paciente com a realidade, de perceber e reconhecer o que está ao seu redor. As alterações quantitativas da consciência quando a pessoa não está alerta, podem ser classificadas em obnubilação, estupor e coma.
No delirium o paciente está desorientado, com um caráter flutuante, podendo estar agitado, agressivo, atenção prejudicada, com ciclo sono-vigília alterado e em outro momento está calmo e colaborativo.
No estado onírico há um rebaixamento do nível de consciência, a pessoa vivencia a realidade como se fosse um sonho.
As alterações qualitativas da consciência podemos encontrar os estados crepusculares, onde a pessoa está alerta, com o nível de consciência preservada nas funções normais, mas fazendo tudo de forma automática, sem passar pelo registro da memória, sofrendo de amnésia de quando estava nesse estágio. O estado segundo, a pessoa assume comportamentos estranhos a sua personalidade normal, como por exemplo, ser um pedófilo nessa condição e ao retornar não recordar o que aconteceu. A dissociação da consciência acontece quando a pessoa sofre um estresse forte (notícia de que está com um câncer e restam poucos dias de vida) e passa a delirar, sem saber onde se encontra ou qual seja o seu papel no mundo, nem mesmo seu nome. É como uma defesa do ego para se livrar do sofrimento que o estresse causou. O transe é uma ausência da consciência, olhar fixo e a possessão é como se sua personalidade fosse trocada por outra, muito encontrada em igrejas evangélicas, espíritas e de origem africana, que dentro do contexto pode ser considerada normal. Outro estado alterado de consciência, o transe hipnótico, pode ser provocado com objetivos terapêuticos sendo mantido o hiperfoco em algum tema desenvolvido pelo hipnotizador. A experiência de quase-morte (EQM) é também considerada uma alteração de consciência não necessariamente patológica.
A atenção pode ser voluntária quando colocamos o foco em alguma atividade, o estudo, por exemplo, e a atenção involuntária quando outros estímulos entram na consciência e tiram o foco do que estava sendo feito com prioridade, como acontece no transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Tenacidade é a nossa capacidade de fixar a atenção e vigilância a capacidade de mudar o foco de acordo com nossos interesses. As alterações da atenção como um todo podem ser vistas como hiperprosexia, hipoprosexia e apropexia (aumento, diminuição ou incapacidade total de fixar a atenção). A distração é dito para o paciente com muita facilidade de perder o foco da atenção ou distraibilidade, incapacidade de se manter focado.
A orientação é a capacidade de situar-se quanto a si mesmo, auto psíquica (quantos anos eu tenho, que gosto de fazer, como foi a minha vida) e a alopsíquica, referente ao ambiente, com relação ao tempo e ao espaço. A temporal é mais sofisticada que a espacial, pois o paciente está mais desorientado com relação ao tempo, pois a orientação no espaço é adquirida mais cedo no desenvolvimento pessoal. É como se a orientação temporal fosse uma função mental mais elaborada cognitivamente. Por esse motivo, a auto psíquica é mais difícil de ser alterada. A orientação é muito encontrada em alterações ou dano cerebral, necessitando uma melhor avaliação sobre a existência de lesão cerebral. No contexto dessas alterações podemos encontrar alterações de memória, apatia, delírio ou dissociação.