Ao nos tornarmos súditos da majestade Egoísmo, nos tornamos os cidadãos corruptos do seu reino, louco e podre. Desce sobre nós a deprimente névoa da solidão ao saber que a maioria da população não comunga com atos criminosos. Essa névoa fica cada vez mais densa e escura à medida que caminhamos para o enriquecimento ilícito, sob a tortura dos nossos irmãos, apesar de suas lágrimas, suor e sangue. Alguns de nós procuramos locais sórdidos da ética e moral cristã, apesar de luxuosos e cheios de mordomias, esperando encontrar companhia da mesma laia e aprovação por algum tempo. Encontrávamos, mas logo ao sair, invadia a nossa consciência algo como quatro cavaleiros abomináveis do Apocalipse: o terror da justiça divina, a fuga constante da verdade, a falta de respeito da opinião pública e a frustração por reconhecer que jamais iremos encontrar a paz nesse caminho que estamos seguindo.
Todos que lerem esse trecho e assim como eu, que não sou psicopata ou sociopata, percebem o que estou querendo dizer. E que algo nas nossas almas clama por uma saída deste cativeiro de algemas brilhantes que a corrupção nos trouxe.
É algo parecido com o cativeiro que o álcool impõe aos alcoolistas, e que eles encontraram um desvio desse caminho maldito da dependência, quer seja moral ou química. Eles se reuniram em grupos para relatarem com honestidade suas misérias, que sozinhos não conseguiriam sair desse jugo e apelaram para a ajuda do poder divino, do poder superior e fizeram um pacto solene de evitar a primeira dose. Construíram assim a irmandade dos Alcoólicos Anônimos, respeitada em todo o mundo.
Acredito que este também pode ser a solução para nossa dependência ao Egoísmo. Devemos construir a irmandade dos Egoístas Anônimos, pedir a ajuda do Poder Superior sempre fazendo a oração da Serenidade: “Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras”. Aceitar que não posso modificar o mal que já pratiquei, mas posso atenuar a dor dos atingidos por tais atos e que modificarei o meu modo de agir no futuro.
Consolidarei este ajuste de conduta com o compromisso de evitar em todo e qualquer momento o primeiro furto. O difícil será, reconheço, encontrar pessoas com tal disposição e abrir uma sala de Egoístas Anônimos para depor sobre nossa dependência. Essa sala deverá ser realmente muito discreta e seus participantes bastante cuidadosos com o relato de seus atos criminosos, pois podem ser alvos da lei.
Aqui neste ponto é que se encontra a grande diferença entre ser dependente químico do álcool ou dependente moral do egoísmo. O álcool é uma substância lícita cujo consumo não implica na desobediência da lei. O egoísmo é um instinto natural que deve ser bem controlado, pois caso contrário irá promover atos fora da lei, que prejudicam a sociedade como um todo. Atos criminosos que implicam em punições.
Mas, enfim, a ideia não está de todo descartada, pois temos que encontrar uma solução para conter essa dependência que tanto mal faz a nossa sociedade, aos nossos irmãos.