Para construir o Reino de Deus conforme as lições que Jesus nos trouxe, temos que centrar nosso pensamento em algo abstrato, sustentado pela coerência, pela lógica, de que deve haver um Criador para tudo que existe, inclusive nós. Esta é a pedra angular do nosso arcabouço paradigmático, para que possamos avançar no raciocínio.
Podemos ter dúvida sobre isso, de um criador de tudo, inclusive de nós. Mas temos que avançar no raciocínio, senão ficaremos parados, remoendo a dúvida. Para sair do marasmo, ou aceitamos a ideia de Deus, do Criador de tudo, independente do nome que queiramos dar a Ele, ou devemos encontrar outra solução e que seja mais coerente. Por exemplo, eu posso contrapor: “tudo foi criado a partir do nada”.
Coloquemos essas duas proposições uma ao lado da outra. Uma defende que tudo foi criado por uma inteligência suprema, infinita, que dou o nome de Deus e posso fantasiá-lo da forma que eu achar mais conveniente: um velhinho de barbas brancas, um ser rechonchudo, uma pomba branca, um espírito invisível... ou então o nada construindo o tudo. Parece mais racional a primeira hipótese. Fica apenas uma pergunta que não posso fazer, senão entro em uma espécie de dízima periódica: quem criou o Criador? Se existe algum autor, então Ele é quem é o Deus... mas quem criou Ele... e assim vai em pergunta e resposta ad infinitum.
Só podemos parar ou nem mesmo iniciar essa cascata de perguntas e respostas que não chegam ao término, com a fé. Eu devo acreditar em Deus, mesmo sem conseguir justificar a Sua existência, pelos argumentos da criação, de tudo que Ele fez.
Este pode ser o ponto frágil da minha argumentação racional, não saber dizer de onde veio Deus, como Ele foi criado, a partir de qual momento... Entra aqui um outro aspecto da minha racionalização: a humildade. O reconhecimento que a minha capacidade racional não é suficiente para alcançar os argumentos filosóficos que permitam justificar a existência de Deus. Parece que sendo eu capaz de fazer isso, estaria num nível acima de Deus, conhecedor de Sua estrutura existencial, de Sua personalidade e divindade. Blasfêmia!
A humildade apoia a fé, e assim fico confortável dentro desta conceituação do divino que consigo alcançar, respeitando minhas limitações. Este reconhecimento de Deus é o primeiro passo para quem se propõe fazer parte dos construtores do Reino dos céus, conforme Jesus ensinou.
O segundo passo é uma consequência desse primeiro, encarar toda as criaturas, viventes racionais, como nossos irmãos e que todos devem cumprir uma trajetória em direção ao Pai, considerando o fluxo intermitente de vidas que se realizam no campo material e no campo espiritual. Daí surge o ensinamento sui generis de Jesus, de amar ao próximo como a si mesmo, de fazer ao próximo aquilo que desejamos ser feito a nós.