Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
13/06/2023 00h01
INTERPRETAÇÃO DE NARRATIVA

            Feita a interpretação do relatório feito por um pai que tem o filho internado em hospital psiquiátrico.



            A demonstração de E de que não deveria ter nascido, reflete uma falta de adaptação com o mundo que foi crescendo e gerando a timidez e dificuldade de relacionamento emocional, afetivo, apesar dele ser inteligente na cognição (excelente desempenho nos estudos) e no corporal (jogava muito futebol).



            Ter amigos no colégio e no condomínio e nunca ter namoradas, mostra a dificuldade de conexão afetiva (se sentir incapaz de amar ou ser merecedor do amor).



            Passou a frequentar Centros Espíritas e recebeu a versão espiritual do que se passava relacionadas as diversas vivências passadas que justificavam os sintomas que passou a apresentar, cada vez com maior intensidade.



            A intensa desarmonia emocional que ia acontecendo na psique interferiu no desempenho cognitivo, sendo reprovado no colégio. Essa desarmonia diminuía com a mudança de colégio, um sinal da atenuação da crise emocional e da geração de novas expectativas, mas sem voltar ao desempenho excelente do passado.



            A partir de 2020 o problema se agravou, surgiram os sintomas de obsessão com violência, quebradeira e total perturbação externa. Foi tratado na psiquiatria com medicamentos e internamentos e psicoterapia, inclusive diversos tratamentos em diversos centros espirituais, inclusive retomando vivências passadas, conduzidas pela mãe, todos sem uma resolução prática para o caso.



            Aqui entra em foco o esgarçamento afetivo dos pais, com base nos diferentes enfoques que cada um passou a ter do problema e que indica a introdução da psicoterapia de casal, seguida de terapia familiar, inicialmente sem a inclusão do E.



            O relato mostra o pensamento do pai contrário ao pensamento da mãe que conduz o tratamento espiritual do filho, com firmeza (soberba).



            O pai reconhece as falhas por não ter esse conhecimento espiritual e procura estudar, mas sem convicção, sem interesse. Sabe que existe o mundo espiritual, respeita e pede perdão por suas dificuldades de aceitação. Reflete o sofrimento e decepção que está sofrendo e que perdoa tudo, pois ama o filho. Não admite mais quebradeiras ou violência de nenhuma espécie.



            Esta também é a conduta terapêutica da equipe e que mantem o filho internado, tratando a forma de prevenir ou resolver de imediato qualquer forma de agressão que seja considerado sintoma inadmissível.



            A família está esfacelada, desunida, provocado pelo comportamento do filho, mas ainda existe o amor, o cimento que une todas as rachaduras ou fraturas. É este o papel da psicoterapia em todas as dimensões.



            O alívio por ele está fora de casa traz de imediato a tristeza pelo mesmo motivo, a saudade dele. A terapia não está focada em gerar culpas em ninguém. Todos, inclusive os terapeutas, têm suas dificuldades emocionais e cognitivas, vícios e defeitos. O que importa é que nós, terapeutas, temos a nossa habilidade profissional e aprendemos a deixar os pontos que não interessam à distância.



            O que importa neste momento é alcançar a harmonia familiar, considerando as características de cada um, e o que cada um pode fazer para alcançar essa harmonia, sem procurar culpas em ninguém. O que esperamos é que cada um reconheça suas dificuldades cognitivas e emocionais, e que, para alcançar essa harmonia, que em nenhum momento se tenha a perspectiva de incluir agressão, violência, quebradeira por parte de ninguém.



            O relato mostra a qualidade do pai, não encontro ressalvas negativas. Se mostra cansado e abalado com tudo que acontece há anos. É compreensível. A solução de tudo que nos acontece está dentro de nós, com o potencial que temos para resolver.



            Se todos tivéssemos o mesmo potencial, o que eu posso fazer, eu diria que qualquer pessoa também poderia. Mas não é isso que acontece. Nós percebemos que todos somos diferentes, mesmo que sejamos gêmeos idênticos. É esse potencial que cada um tem, que devemos saber qual é, e como podemos direcionar para alcançar a harmonia familiar que é a nossa meta, mesmo cada um sabendo de suas facilidades e dificuldades, mas que cada um possa colaborar na forma de ajuda mútua.



            Lembrar da oração da serenidade: “Deus, concedei-me a serenidade necessária, para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso e sabedoria para perceber a diferença.”



            Tudo isso respeitando a lição máxima do mestre Jesus: “Amar ao próximo como a si mesmo.” Isto é, o amor está focado em nós, que devemos nos respeitar e amar , para poder respeitar e amar ao próximo. Se deixarmos a nossa integridade física, moral ou emocional seja atingida sem a defender, estamos cometendo um pecado contra nós mesmo, contra o próximo e contra Deus.



            Tudo isso é parte da psicoterapia. Vamos avante!  


Publicado por Sióstio de Lapa
em 13/06/2023 às 00h01