Meu Diário
15/09/2023 04h36
O SOL BRILHA NA IMENSIDÃO

            Este filme de 1953, dirigido por John Ford, quando eu não tinha completado nem 1 ano de idade, desperta valores dentro de mim por causa talvez da egrégora do pensamento formado na época devido a influência do filme.



A obra se passa numa pequena cidade americana, onde a história gira em torno de decisões que o juiz local, Billy Priest (Charles Winninger), precisará tomar, envolvendo a defesa de um negro e uma prostituta, as quais entram em rota de colisão com as sólidas convicções morais dos munícipes, que, aliás, como em qualquer pequeno município, costumam ser tão mais sólidas e coesas quanto menor é a complexidade das relações de trabalho.



Esse contexto é agravado pela proximidade do processo eleitoral para juiz, impondo um dilema político a Priest sobre fazer o que julga ético ou atender ao desejo dos eleitores, mesmo contrariando a lei, e garantir uma tranquila reeleição.



Esse mesmo comportamento político eu demonstrei em minhas campanhas eleitorais que disputei em várias ocasiões, para diversos cargos, filiado que estava no Partido Democrático Trabalhista (PDT). Sempre eu colocava como lema da campanha a frase “Pela Dignidade Humana”, e demonstrava isso fazendo favores que os eleitores necessitavam, mas sem jamais condicionar a troca do benefício feito pelo voto desejado. Fui aconselhado por amigos que eu jamais iria ser eleito com esse comportamento e terminei aceitando o conselho. Depois eu percebi que estava militando partidariamente em ideologia contrária aos meus princípios, que usavam as mentiras e falsas narrativas para conquistarem o poder e ter mais oportunidade fazerem corrupção.



Foi nesse momento que percebi que a ideologia mais coerente com o meu pensamento era a ideologia cristã. Por isso cancelei minha filiação a partido político e aprofundei meus estudos nos diversos conteúdos espirituais que existem na internet.



Hoje tenho a compreensão bem consolidada do quanto errado eu estava na militância de partidos de esquerda que promovem a ideia revolucionária, tanto com armas quanto com livros e alcançando o poder e se perpetuando nele pelas atitudes autoritárias.



Com o avançar do estudo vim a reconhecer que tudo que sofremos, em todo o mundo, com essa escalada das Esquerdas no poder. Cancelei minhas filiações aos partidos políticos e procuro fazer militância política agora, ao lado do Cristo. Mas voltemos ao filme.



Em 1936, Fritz Lang trabalhou uma ideia semelhante. No filme Fúria, populares vão até a delegacia do município para “fazer justiça” com as próprias mãos contra um homem acusado de um crime do qual, posteriormente, restaria inocentado. O delegado local faz o máximo para evitar o linchamento e conter a massa enfurecida apesar da força policial à sua disposição ser proporcionalmente inferior. As necessidades eleitorais aqui nesse filme, no entanto, foram instrumentalizadas pelo governo de modo a não intervir sobre o massacre.



No filme que estamos avaliando agora,  Priest não titubeia e toma suas decisões sem levar em conta as exigências instintivas e irracionais nos dois casos polêmicos, mesmo compreendendo os obstáculos eleitorais que terá diante de si. Diferentemente do desfecho negativo que acontece em meio a um conflito moral em Como Era Verde Meu Vale (1943), obra premiadíssima de Ford, aqui, em O Sol Brilha na Imensidão, a sorte e a acomodação da moralidade tacanha acabam ajudando Priest a sobressair-se diante da crise e garantir sua reeleição.



Apesar do que o filme deixa transparecer, política e moral andam umbilicalmente unidas. Temos uma relação empírica com esse fenômeno particularmente nas eleições presidenciais brasileiras, quando temas como aborto e criminalização da homofobia são pinçados para fora da agenda de modo a não afrontar a sensibilidade de um eleitorado majoritariamente conservador. Se em tempos normais esses temas provocam o deslocamento das preferências dos cidadãos comuns em prol de projetos alternativos de poder, a sua manipulação em épocas eleitorais pode ser decisivo para a vitória ou derrota de uma candidatura.



Aliás, no caso envolvendo o negro nesta história de John Ford, se não tivessem encontrado o culpado pelo crime que foi atribuído injustamente, especialmente pela cor do rapaz, o resultado das eleições para juiz teria facilmente sido outro (o clima dos partidários de Priest era de imenso pessimismo). Isso deixaria evidente que, apesar da narrativa otimista do diretor, na política as longas e promissoras carreiras são construídas por variáveis muito mais eficientes do que a ética, com a capacidade de articular, pelos mais variados métodos, os que são mais necessários para o exercício do poder.



O Sol Brilha na Imensidão é um filme que se insere numa categoria de cinema que elabora de forma reveladora os desafios da política, embora ele fale mais pelas suas entrelinhas do que pela mensagem explícita.



Sugiro fortemente que todos assistam.



Publicado por Sióstio de Lapa em 15/09/2023 às 04h36


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr