Meu Diário
14/11/2023 00h01
CE 09 – IMANÊNCIA RELIGIOSA

            Continuamos com a reprodução comentada da Carta Encíclica do Papa São Pio X, publicada em 08-09-1907. Esta é a segunda parte da primeira parte, onde o Papa faz a “Exposição do Sistema e sua Divisão” começando pelo “O Modernista Filósofo”.



            Eis aqui o modo como eles passam de uma parte a outra. A religião, quer a natural quer a sobrenatural, é mister ser explicada como qualquer outro fato. Ora, destruída a teologia natural, impedido o acesso à revelação ao rejeitar os motivos de credibilidade, é claro que não se pode procurar fora do homem essa explicação. Deve-se, pois, procurar no mesmo homem; e visto que a religião não é de fato senão uma forma da vida, a sua explicação se deve achar mesmo na vida do homem. Daqui procede o princípio da imanência religiosa. Demais, a primeira moção, por assim dizer, de todo fenômeno vital, deve sempre ser atribuída a uma necessidade; os primórdios, porém, falando mais especialmente da vida, devem ser atribuídos a um movimento do coração, que se chama sentimento. Por conseguinte, como o objeto da religião é Deus, devemos concluir que a fé, princípio e base de toda a religião, se deve fundar em um sentimento, nascido da necessidade da divindade.



            O discípulo do modernismo, dentro do ateísmo científico, sente a necessidade de explicar tudo com a lógica de não considerar Deus na história, pois Deus não pode ser explicado pela ciência. Consideram que a religião é um fato como outro qualquer que entra na história humana pelo próprio homem. Com essa visão, a teologia natural de considerar Deus como parte da história é destruída. O acesso à revelação contida na Bíblia e em outros livros sagrados é impedido por essa ideologia, racional e científica. Como a religião é uma forma da vida criada pelo homem, fica claro para os modernistas que não se deve procurar fora do homem essa explicação, mas que se deve procurar mesmo na vida do próprio homem. Aqui entra o conceito da imanência, da qualidade do que pertence à substância ou essência de algo, à sua interioridade, em contraste com a existência, real ou fictícia, de uma dimensão externa. É algo que tem em si próprio o seu princípio e seu fim, contrário a transcendência que faz referência a algo que possui um fim externo e superior a si mesmo. O filósofo Tales de Mileto deu um exemplo de imanência ao propor que tudo se originou na água, que tudo é agua, logo, a água seria o que uniria tudo, sendo ela o fundamento. Ela faria parte de maneira inseparável da essência do ser, inerente, de longa duração, que permanece, perdurável. A crítica da imanência consiste na identificação de padrões normativos pressupostos ou parcialmente realizados nas práticas sociais e da posterior avaliação crítica da sociedade à luz desses padrões. Estes permitem identificar as práticas sociais como a religião e os valores que as estruturam. O imanentismo é o termo usado para se referir à noção de que Deus ou uma mente ou espírito abstrato pervade, toma posse do mundo. Como é entendido pelo modernismo que todo fenômeno da vida deve sempre ser atribuída a uma necessidade da própria vida, que gera um sentimento do coração chamado de sentimento. Como Deus é o foco, princípio e base da religião, a fé que O representa estar fundada no sentimento humano da necessidade de uma divindade. Sem considerar a revelação divina, a racionalidade que nos leva a entender e compreender Deus na história, na transcendência que faz parte da natureza, iremos penetrar cada vez mais em outros construtos ideológicos que nos leva cada vez mais distante do caminho apontado pelo Cristo. É isto que o Santo Papa Pio X está querendo mostrar.



Publicado por Sióstio de Lapa em 14/11/2023 às 00h01


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr