Meu Diário
23/11/2023 00h01
CE 11 – DEUS, REVELANTE E REVELADO

            Continuamos com a reprodução comentada da Carta Encíclica do Papa São Pio X, publicada em 08-09-1907. Esta é a quarta parte da primeira parte, onde o Papa faz a “Exposição do Sistema e sua Divisão” começando pelo “O Modernista Filósofo”.



            Nem acaba aí o filosofar, ou melhor, o desatinar desses homens. Pois, nesse mesmo sentimento eles não encontram unicamente a fé; mas, com a fé e na mesma fé, do modo como a entendem, sustentam que também se acha a revelação. E que é o que mais se pode exigir para a revelação? Já não será talvez revelação, ou pelo menos princípio de revelação, aquele sentimento religioso, que se manifesta na consciência? Ou também o mesmo Deus a se manifestar às almas, embora um tanto confusamente, no mesmo sentimento religioso? Eles ainda acrescentam mais, dizendo que, sendo Deus ao mesmo tempo objeto e causa da fé, essa revelação é de Deus como objeto e também provém de Deus como causa; isto é, tem a Deus ao mesmo tempo como revelante e revelado. Segue-se daqui, Veneráveis Irmãos, a absurda afirmação dos modernistas, segundo a qual toda a religião, sob diverso aspecto, é igualmente natural e sobrenatural. Segue-se daqui a promíscua significação que dão aos termos consciência e revelação. Daqui a lei que dá a consciência religiosa, a par com a revelação, como regra universal, à qual todos se devem sujeitar, inclusive a própria autoridade da igreja, seja quando ensina seja quando legisla em matéria de culto ou disciplina.  



            Aqui é o momento de maior malabarismo racional para deixar emergir do incognoscível o sentimento de Deus que passa a ser o objeto da fé. Então, o deus que foi criado no inconsciente incognoscível agora assume o papel do Deus criador de todo o universo, de todas as coisas, inclusive dessa insignificante criatura humana, comparada a Ele, e que agora diz ser o criador do Criador. Aqui a coerência racional nos obriga a colocar o pé no freio da construção da hipótese que pretende ser a narrativa da realidade. Como um deus criado no inconsciente incognoscível de cada um pode se tornar um Deus único e criador de todo universo? É claro que não é o mesmo Deus. O que podemos considerar é que a qualidade do incognoscível que geramos com nosso comportamento e nossas convicções, abrem o portal na consciência para o reconhecimento da existência de Deus, muito além dos produtos ínfimos do nosso inconsciente.



            Se estamos prontos para aceitar que não existe efeito sem causa, e que a causa da existência só pode ser alguma força bem além de nossa compreensão. Para definir essa força com precisão, então o máximo que podemos fazer é designa-la com algum nome que podemos escolher de acordo com as circunstancias de nossa vida. Aqui no Ocidente, dentro de nossa cultura, escolhemos chamar de Deus, mas isso não inviabiliza ou torna falsa outra denominação feita por outros povos, desde que se refira a mesma força que está gerando nossas considerações.



            Portanto, este Deus que é revelado por nosso inconsciente incognoscível passa a ser revelante para nossa insípida sabedoria, instruindo povos e criando mundos. É tolice os modernistas quererem destruir com um detalhe tão pequeno da nossa engenharia psicológica, o que Deus criou e continua criando e desenhando além de qualquer tola pretensão de nossa pequena inteligência.



Publicado por Sióstio de Lapa em 23/11/2023 às 00h01


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr