Quando reconheço a vontade de Deus na consciência, encaro como se fosse uma ordem que devo obedecer. Minha primeira atitude é dizer ao Pai que sim, que irei cumprir a Sua vontade. Acontece que quando chega o momento, de alguma forma a vontade do Pai não é cumprida, entra na minha consciência outro desejo para fazer outra coisa, ou a fragilidade da minha vontade, que revela uma desobediência por incompetência.
Lembro da parábola que o Mestre contou, que tinha um pai e que se dirigiu ao primeiro filho, pedindo que fosse trabalhar na vinha; esse disse que não iria. O pai foi a segundo filho que concordou, disse que ria fazer o que foi pedido. Acontece que o primeiro, usou da consciência e foi trabalhar na vinha. O segundo arrependeu-se do que tinha prometido e não compareceu ao trabalho. Dessa forma o Mestre faz uma pergunta de resposta obvia: qual deles fez a vontade do pai?
Sinto-me na condição do segundo filho. Digo ao Pai constantemente que vou fazer a Sua vontade e logo me envolvo com outras tarefas ou me sinto incapaz de realizar tal promessa. Como posso sair dessa situação? Será porque estou tão preso às exigências materiais que não consigo fluir nas exigências espirituais?
Jesus também sofria essa pressão das exigências materiais, principalmente por parte de sua parentela. Talvez impelido pelos extremos de contrariedade, que suscitava sua família, chegou a colocar com muita firmeza seu direito de exercer a liberdade espiritual de fazer o que tinha como missão, como registrou Mateus em seu Evangelho (12:46-50) – “Jesus falava à multidão quando a mãe e os irmãos dele chegaram do lado de fora, querendo falar com ele. Alguém lhe disse: - A tua mãe e teus irmãos estão lá fora e procuram falar contigo. – Quem é a minha mãe e quem são os meus irmãos? – perguntou ele. Estendendo a mão para os discípulos disse: - Aqui estão a minha mãe e os meus irmãos! Pois quem faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
Com essa resposta o Mestre deixou claro onde estava a sua prioridade. Se por acaso ele estivesse reunido com a família e chegasse alguém de fora para conversar com ele, muito provavelmente a pessoa que recebesse o pedido nem iria incomodar o Mestre. Simplesmente diria para o interessado que o Mestre estava reunido com a família e quando terminasse poderia falar com ele. Mas a situação era inversa. Jesus estava reunido com os discípulos, portanto a família do Mestre tinha a prioridade, poderia interferir com a reunião. O Mestre aproveitou a ocasião para colocar na prática o exercício de suas lições, da construção do Reino de Deus.
É esta capacidade firme de cumprir às ordens de Deus que Jesus demonstrou, colocando os interesses materiais, parentais, em segundo plano, de forma que não interferissem com o sucesso de sua missão. Esta é a força moral que ainda não consigo exercer, e os apelos materiais sempre se colocam como prioridade, como forma de atender de forma rápida as necessidades do corpo e as responsabilidades para ele assumidas.
As responsabilidades para com o Pai, sempre ficam em segundo plano, para mim, reconheço com tristeza. Afinal o Pai é bondoso, compreensivo, tolerante, tudo perdoa... talvez seja assim mesmo, mas com certeza a qualidade do amor que tem pelo filho que lhe obedece às ordens é bem maior do que o amor que dedica a mim, filho desobediente, indolente, procrastinador.
Lembro do batismo de Jesus, registrado por Marcos (1:11), como prova do que estou dizendo agora: “Então houve uma voz vinda dos céus – Tu és o meu filho amado, em ti muito me agrado.