Lendo a vida de Santo Tomás de Aquino, um trecho com relação a opinião contrária dos pais quanto ao seu destino, me chamou a atenção...
Não haverá a recear, porém, a oposição declarada da família? Os projetos dos condes de Aquino sofrerão completo malogro caso o futuro abade do Monte-Cassino se mostre decidido a ficar simples Irmão Pregador. Por isso, quando, durante umas férias passadas em Roccasseca, Tomás se abre com seus pais, Lindolfo opõe-lhe uma recusa categórica – fiel aos poderosos interesses que o determinaram a consagrar o filho mais novo à Ordem de São Bento.
Este obstáculo previsto não inutiliza, de forma alguma, a resolução tomada pelo estudante de Nápoles. Mais tarde, Tomás de Aquino dará, na Summa Theológica, a explicação do seu ponto de vista a tal respeito: “Quando os pais – diz – não estão em situação tal que tenham grande necessidade dos serviços dos filhos, quando estes podem, omitindo o consentimento dos pais ou contrariando mesmo a sua vontade expressa, entrar em religião, porque, depois de ter ultrapassado a puberdade, cada um é livre e tem o direito de escolher o seu próprio estado, sobretudo se se trata do serviço de Deus – vale mais obedecer ao Pai das nossas almas, para que vivamos, que aos geradores da nossa carne.
Portanto, fiz logo a conexão desse trecho, com o meu próprio estado de alma. Quando o Pai falou em minha consciência para eu seguir o Caminho da Verdade indicada pelo Cristo, mesmo que (quase) ninguém tenha visto essa Verdade da forma que a vi. Mesmo assim eu fui adiante e projetei encontrar a Vida Eterna ao lado do Pai, no final de minha jornada.
Dessa forma, refiz a minha trilha, os paradigmas pelos quais seguia, e fui pelo novo Caminho na companhia do meu “pet” de sete cabeças que mora dentro de mim. É aquele animal mitológico, energético, o Behemoth, criado por Deus dentro de todos nós para vigiar e lutar pela preservação e continuação do corpo biológico.
Este animal energético, invisível, adquire vida pela força dos instintos e tenta direcionar o nosso comportamento para garantir a nossa sobrevivência pessoal, mesmo que isso prejudique a todos ao redor.
Neste ponto encontramos o confronto entre a alma criada por Deus e que deve agir fraternalmente com todos os irmãos, fazendo ao próximo àquilo que desejamos ser feito a nós. O corpo de carne criado por nossos pais biológicos possui o Behemoth com suas sete cabeças em busca de vantagens pessoais, mesmo que desobedeçam a vontade do Pai. Este foi o dilema encontrado por Santo Tomáz de Aquino e que também encontrei em minhas reflexões. Apesar da diferença de espiritualidade que apresentamos, a mesma decisão eu tomei: obedecer ao Pai que criou a minha alma que tem a vida eterna, do que obedecer ao pai que criou a minha carne que tem vida efêmera.