Conheci tia Neves no ano passado, numa viagem que fiz ao Rio de Janeiro. Ela estava com um câncer abdominal, com dificuldades de seguir no tratamento. Fiz a proposta dela vir para Natal, pois eu podia facilitar o seu tratamento no Hospital Universitário Onofre Lopes.
Ela aceitou a proposta e ficou instalada na casa de uma irmã, na Cidade da Esperança. Conforme previmos, foi acolhida no Hospital Universitário e começou o seu tratamento, inclusive com internação e todos os procedimentos indicados para a sua situação patológica.
Indiquei para ela diversos tratamentos de base espiritual. fitoterápico, óleos essenciais, além da tradicional medicina. Ela seguia direitinho todas as indicações com muita fé. Quando eu tinha oportunidade ia até sua casa, conversávamos, e fazíamos orações pedindo a cura ao Pai.
Como a minha espiritualidade é muito forte, me sinto seguindo a vontade do Pai e os ensinamentos do mestre Jesus, procurava em minhas orações incluir o pedido de cura para ela. Nas minhas atividades físicas, onde eu ficava cerca de duas horas exercendo muito esforço, no final do exercício procurava fazer um acordo com o Pai, no sentido dEle fazer a cura dela e eu fazer o testemunho do que aconteceu nas diversas igrejas que acolhesse tal ocorrência.
Por mais que eu me esforçasse e soubesse que Jesus sempre está próximo de quem deseja fazer a vontade do Pai, eu esperava ser atendido na realização de tal cura. Eu procura evitar que esse milagre não fosse para mim motivo de orgulho ou vaidade.
O tempo passava e a doença avançava apesar de qualquer forma de tratamento, tradicional ou complementar, qualquer tipo de oração ou compromisso com Deus.
Finalmente, hoje à noite, após as aulas que ministrei no Hospital Universitário, eu subi até a enfermaria onde ela estava internada. Bastante debilitada, apenas com um fio de consciência que fez contato comigo. Voz débil, mas demonstrava ouvir o que eu falava. Disse que continuava com a fé em Deus e eu dizia que fizemos tudo que era possível, mas teríamos que seguir a vontade de Deus e não a nossa. Ela abria com esforço os olhos mortiços e eu pressentia que sua vida se esvaia em definitivo, que estava chegando a hora de sua passagem para o mundo espiritual.
Fiquei um tempo acariciando a sua cabeça e face, pegando na sua mão e reforçando que tudo que acontecesse não deveria abalar a nossa fé, pois Deus é o criador e senhor da vida, e com sua imensa sabedoria conduz a nossa vida pelos melhores caminhos, quando nós não temos mais condições de decidir.
Deixei-a no hospital e vim para casa, e ao chegar recebi a notícia do seu falecimento. Imaginei que aquele foi o último contato que Tia Neves teve com alguém ao seu lado, e apesar da tristeza por sua partida de perto de nós, fiquei orgulhoso por ela ter esperado para falar comigo antes de partir.