Este texto reflete um fato real que não aconteceu comigo, mas poderia ter acontecido.
Recebi a indicação política para assumir um cargo de confiança numa prefeitura, indicada por um vereador amigo que conhece o meu trabalho. Essa pessoa que me indicou passa a contar com o meu voto e as indicações de voto que posso proporcionar nas próximas eleições. Este é um procedimento comum, onde um vereador eleito quer garantir sua futura eleição indicando pessoas na administração do prefeito que confia nele. Esta é uma rede de confiança que se estende do prefeito aos vereadores, às pessoas colocadas em cargos de confiança, e por fim, as pessoas que confiam nas pessoas que foram indicadas. Tudo isto é legal e ético, se o serviço público que vai ser oferecido por essas pessoas não se desvirtuarem para beneficiar alguns em detrimento de outros
Mesmo assim, tudo funcionando dentro dos princípios éticos, ainda surgem problemas de natureza ética que precisam ser solucionados, todos, com os mesmos princípios éticos.
Eis o que aconteceu com a minha indicação. Fiquei satisfeito por ter a confiança do vereador que me indicou para um cardo de confiança, no gabinete de outro vereador que estava afastado da Câmara para prestar esse serviço na confiança do Prefeito. Este vereador sabia que não podia contar com o meu voto, pois este já estava condicionado à confiança que eu recebera do outro vereador.
Acontece que, no decorrer do trabalho, e com a sintonia que passou a se desenvolver com o gestor com o qual eu era subordinado, a minha consciência passou a exigir que o meu voto fosse direcionado para ele. Mas isso quebraria a confiança daquele que me indicou. Eu não poderia, por outro lado, permanecer com o meu voto atrelado ao compromisso inicial e atuar sem a sintonia com a minha consciência. Só existe uma saída. Eu tenho que conversar com quem me indicou e dizer o que aconteceu, que eu não posso mais votar nele, pois eu não ficaria sintonizado com a minha consciência. Sei que ele tem todo o direito de receber a sua indicação de volta e eu seguir a minha consciência sem ter um cargo público ao meu dispor. Também perderei o potencial de indicar votos, já que não terei o cargo capaz de beneficiar muitos eleitores.
Sei que trabalho com justiça e solidariedade cristã com quem está ao meu lado, mas isso não é suficiente. Lembro que na última eleição para presidente do Brasil, todos sabiam que eu votava em Bolsonaro, mas posso contar nos dedos as pessoas que seguiram a minha opinião, mesmo muitos recebendo benefícios emocionais e materiais de minha parte, dos meus próprios recursos. Preferiram seguir a opinião de outras pessoas, talvez focadas em promessas futuras, cheias de mentira e corrupção.
Mas, enfim, este é o jogo politiqueiro, baseado em vantagens pessoais, longe da retidão ou da gratidão.
Não deixo transparecer a amargura que cobre o meu coração quando percebo isso, mas o Mestre que acredito, tenho confiança e sigo suas lições, me diz que eu devo perdoar 70 vezes 7.
Este é o meu perfil, de seguir a minha consciência, onde está a lei de Deus, nos caminhos da verdade que o Cristo ensinou. Sei quem está caminhando comigo pela mesma trilha e sei quem está perto de mim neste mundo material, mas muito distante do caminho do Cristo. Pode está perto dos olhos, mas longe do coração.