Reproduzirei aqui a 4ª. e última parte do texto, fragmentado em itens devido o tamanho, que circula nas redes sociais e que é de importância para a nossa reflexão.
Explicações institucionais
A explicação legalista liga o progressismo a várias leis americanas de direitos civis cuja vagueza e aplicação seletiva levou, por medo, as organizações a aceitarem um compliance (observância) com uma crescente série de proibições à liberdade de expressão e discordância política a fim de evitar processos.
A Lei de Direitos Civis de 1964 marca o começo dessa história. Seus banimentos de discriminações relativas a raça e gênero logo foram expandidas pela Suprema Corte para incluir qualquer coisa que tivesse um impacto díspar sobre grupos protegidos. Enquanto isso, programas de ações afirmativas se expandiram pelo governo e pelo ensino superior, na presunção de que as disparidades entre os grupos não existiriam sem a discriminação — uma alegação central nos dias de hoje. O que chamamos de "politicamente correto" é, na verdade, "um nome do efeito cultural da aplicação básica dos poderes da lei dos direitos civis", diz Christopher Caldwell, a qual permitiu a "censura governamental [...] por meio de um sistema de corte civil que tinha visto seu escopo e seu poder de punição fortalecidos pela lei dos direitos civis" e ameaçou com processos que, pelo medo, levaram os empregadores a "privatizarem a supressão do dissenso". Em Inventing Equal Opportunity, o sociólogo de Harvard Frank Dobbin escreve que a "contínua ambiguidade dos padrões de compliance levaram os autores que escreviam sobre gerência a recomendarem escritórios permanentes anti-discriminação para rastrear mudanças legais." Esse mecanismo de reforço legal explica muito do comportamento corporativo, como observa o cientista político Richard Hanania: desde os departamentos de RH que policiam opiniões no escritório, até as corporações que súbito declaram seu apoio às causas do momento quando se levanta a perspectiva de intervenção governamental.
Tese rigorosa com muito poder explicativo, a explicação legalista, não obstante, parece deixar algumas coisas sem solução. Primeira: poder-se-ia esperar que homens e organizações acuados por um aparato governamental intrusivo cooperassem com o programa só a contragosto, fazendo o mínimo para ficar na compliance. Mas um sem-número de exemplos mostra empresas lacradoras irem muito além do compulsório, fazendo e dizendo coisas que nem mesmo o regime dos direitos civis, vago e expansionista, requer. Segunda: as estruturas legais que seriam a matriz da lacração corporativa existem há décadas — ainda assim, a intensidade da guerra cultural só subiu vertiginosamente nos últimos anos.
Em socorro, vem uma modificação sociológica da explicação legalista. O conceito de isomorfismo institucional explica a tendência enlouquecedora de as organizações atualizarem suas operações segundo as novas normas da lacração, seja a expansão repentina do acrônimo LGBTQ+ ou a necessidade de publicar afirmações cada vez mais gritantes sobre o racismo ser endêmico na vida dos EUA. O sociólogo Gabriel Rossman descreve no City Journal como "as organizações vão além de suas competências básicas para imitar os líderes do mercado e alcançar as demandas dos seus parceiros de negócios, o estado regulatório e empregados-chave." As instituições viram militantes não só por coação, mas também porque instituições pares estão fazendo isso. Enquanto isso, como explica Charles Fain Lehman, o empenho do fim do século XX em permanecer na compliance com leis de direitos civis logo abriu caminho para um "business case" de que a diversidade, em si mesma, traria benefícios para toda a corporação. "A transição da compliance para a diversidade marca o momento em que uma política corporativa de consciência racial se desvinculou do propósito racional e se transformou num mito", escreve Lehman, notando que a evidência subjacente ao business case nunca foi forte. E uma vez que tais polícias de consciência racial se tornaram um mito, ficaram livres para acumular novos princípios, como soem os mitos.
Cada explicação para a ascensão da lacração tem lacunas que convidam correções ou modificações. Tendo à mão uma série de teorias que não parecem funcionar sozinhas, mas que se complementam bem, poder-se-ia abraçar uma síntese: a visão de uma tempestade perfeita, na qual todos esses fenômenos diferentes ocorrem de uma vez. Assim, um certo tipo de criação super-protetora fez uma geração de crianças suscetíveis, numa era de religiosidade declinante, a ideologias cheias de urgência moral. A academia, encharcada de teoria, ficou feliz em prover tal ideologia, a qual essas crianças sorveram com gosto ao chegarem aos campi, a despeito de suas falhas evidentes. Quando se graduaram e ingressaram na força de trabalho, as corporações avessas a processos — já experientes no ajuste do seu comportamento para cumprir as leis de direitos civis — de bom grado atenderam às demandas políticas dessa classe trabalhadora socialmente engajada. E, graças ao imenso poder cultural de norte-americanos bem instruídos e ao poder econômico de megacorporações, a ideologia se tornou cada vez mais visível, e, no fim das contas, inescapável.
Esta explicação multifatorial pode parecer excessiva ou extravagante. Mas uma explicação complexa, que envolve muitas causas diretas diferentes, é adequada a esse fenômeno tão nebuloso, e ainda assim caro, do atual progressismo. Os céticos quanto à sua existência tendem a apontar a dificuldade de definir e explicar suas causas, mas tal imprecisão seria de se esperar caso se trate de um número de fenômenos diferentes, mas relacionados, e cada qual com sua série de causas.
Finalmente, o texto mostra com parâmetros lógicos a progressão da revolução cultural que doutrina a mente de jovens, modifica a missão de instituições e sem perceber como, a nação passa de democrática a autocrática, mas sem a necessidade de mudar o rótulo “democrático”. O que importa é usar as falsas narrativas para o alcance revolucionário integral.